O Corão

O Corão Bruce Lawrence




Resenhas - O Corão


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Cristian 07/08/2015

Introdução essencial do Islã
Algumas vezes é bem difícil avaliar um livro de maneira justa. O autor, Bruce Lawrence, é um estudioso do oriente próximo e professor de estudos islâmicos na Duke University. Eu esperava um tom mais acadêmico, porém o autor optou por um discurso mais leve, intimista, o que facilita a leitura por um público amplo. Entretanto, fiquei com dúvidas acerca de sua imparcialidade, apesar de nunca fazer apologia. Soou-me uma introdução feita por um fiel no Corão - inclusive por um tom levemente alegre, como alguém que está te contando algo muito maravilhoso.

Claro, isso pode ser uma vantagem, por um lado, e não o contrário. Justamente porque podemos ver como um estudioso sério concebe sua fé. Por outro lado, algumas passagens foram muito estranhas para mim; como quando nesse tom alegre apresenta uma passagem do Corão onde deus autoriza que se matem os opressores: "É permitido o combate aos que são combatidos porque oprimidos" e acrescenta "a opressão é pior que o homicídio". Isso me chocou. Se você me oprime, me ofende, está certo te matar por isso. Não choca a todos, é claro; mas, creio, para quem pensa que a vida é um valor irretocável talvez estranhe essa passagem.

Contudo, que livro sagrado não tem em suas páginas atrocidades? Nós ocidentais temos a primeira parte da Bíblia cristã com exemplos excessivos de violência. Mas, como se não bastasse, o Novo Testamento também tem seus deslizes. Por exemplo, vide a carta de Paulo aos Hebreus (Hebreus 10:28), onde diz que se alguém desobedecer os mandamentos deve ser "morto sem misericórdia" (sic). Talvez a maior diferença entre o Cristianismo e o Judaísmo em relação ao Islamismo é justamente o que Christopher Hitchens disse certa vez sobre as duas primeiras, isto é, que elas são religiões domesticadas. Ninguém sai matando ou dando pedradas nos outros porque descumpriu algum mandamento de seu livro sagrado.

Pois bem, mas o livro de Lawrence, apesar das minhas ressalvas acima, consegue nos introduzir claramente no contexto de surgimento do Corão (ou Al-Corão, ou ainda Qur'an, que são formas de transliteração do árabe para o alfabeto românico). Mostra a evolução do pensamento islâmico em seus 14 séculos através de seus principais pensadores. Capítulos breves e de fácil leitura vão desde de a revelação de Maomé até Bin Laden.

Interessante que no capítulo sobre Bin Laden não faz menção ao Atentado de Onze de Setembro, embora o livro fora escrito em 2006 (no Brasil a edição é de 2008). Porém, fala de outras ocorrências terroristas mais próximas ao lançamento do livro. Nesse capítulo, o autor mostra em que se apoia o terrorista para justificar suas atrocidades, tentando deixar claro que o terrorista deturpa a mensagem do Livro. Somente em um capítulo a parte, chamado sugestões de leitura, que o autor comenta em uma linha sobre o Atentado.

Então, o livro contém um ótimo capitulo de Sugestões de leitura, comentado e separando os livros de acordo com os capítulos dos assuntos abordados em seu livro. Também possui um índice remissivo (isso é ótimo!). Acrescentaria que podia ter uma página com a árvore de descendências de Maomé em dois ramos, xiitas e sunitas, para podermos acompanhar todos aqueles nomes árabes tão incomuns para nós ocidentais (e por isso mesmo difíceis de gravar na memória). Também acho que podia ter na introdução, ou antes dela, um guia de uma página para a pronúncia dos nomes árabes (e, se não fosse pedir de mais, qual o sistema de transliteração usado).

No geral, o livro é atraente e leve; com alguns pontos obscuros no detalhe, mas claro no plano geral e histórico.
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