spoiler visualizarZana 02/06/2013
Mais do que extraordinário! (Texto integral).
Em uma obra cuja quantidade de paginas ultrapassa em muitas o número de mil certamente, em dado momento, o escritor irá perder a atenção do leitor nem que seja em um fugidio momento de tédio ou devaneio. Disse certamente?! Errado. Então, muito provavelmente haverá momentos em que o escritor poderá perder-se na complexidade da trama, deixar pontas soltas, tornar-se prolixo ou tedioso. Eu falei provavelmente?! Errado novamente. Definitivamente não em um livro escrito por Alexandre Dumas. Por tudo isso ‘O Conde de Monte Cristo’ já poderia ser nomeado como extraordinário, todavia indo mais além (e agora sem medo de errar) afirmo que Dumas conseguiu criar um dos livros mais coeso e brilhante da literatura mundial (um destaque para primorosa tradução, editor Martin Claret).
O Conde de Monte Cristo retrata uma história fascinante podendo o personagem central, Edmond Dantès, ser definido em uma única palavra: Apaixonante! Edmond Dantès se revela em inúmeros disfarces:
•Edmond Dantés quando um ingênuo marinheiro e promissor capitão, feliz noivo de sua amada Mercedes.
Nesta fase o autor torna o leitor um fiel escudeiro de seu personagem. Simplesmente cativa o leitor ao torna-lo íntimo dos seus pensamentos e de todo sofrimento passado nos longos anos de cativeiro para então, transformá-lo em apenas um ávido espectador das ações de Edmond Dantés. (No decorrer da trama somente em poucos momentos o leitor voltará a tomar conhecimento íntimo dos pensamentos de Dantés – Aqui jaz a única reclamação a ser feita a Alexandre Dumas).
Após a transformação de Edmond Dantés em Conde de Monte Cristo ainda veremos o versátil Dantés como:
•O Inglês Lorde Wilmore Diretor Secretário da Thomson & French, persona em que Dantès realiza atos de generosidade;
•Simbad o Marítimo quando ele salva a família Morrel.
•Abade Busoni personalidade religiosa;
•Monsieur Zaccone: Dantes sob o disfarce de ambos Abade Busoni e Wilmore.
Em um apanhado geral do enredo o livro se passa em 1815. Edmond Dantès, um ingênuo e audaz marinheiro prestes a ser designado por mérito capitão de um navio é preso por quatorze anos na prisão do Castelo d’If sob a falsa acusação de conspiração bonapartista. Dantès é denunciado anonimamente pela missão de entregar uma carta ao exilado Napoleão, incumbência que lhe foi entregue pelo finado capitão do navio em que trabalhava. Na verdade Dantès é vítima de um abominável complô urdido entre Danglars, marinheiro que desejava o posto de capitão do navio, por Fernand Mondego, primo e melhor amigo de sua então noiva, a catalã Mércedès (com o proposito de roubar o amor de sua vida) e pelo Juiz Villefort, que mesmo sabedor da inocência de Dantès procura silenciá-lo temendo a própria implicação na conspiração em andamento (visto ser ele o filho do destinatário da carta de Napoleão).
Na prisão Dantès faz amizade com o abade Faria, um preso político vizinho de cela considerado louco, que além de educá-lo nas diversas artes e ciências lhe confia o segredo do tesouro do Cardeal Spada. Após a morte do abade Edmond foge e mesmo descrente do tesouro investe na aventura confirmando a história de seu velho amigo de prisão, tornando-se milionário. Até lá resiste comerciando com piratas, dentre eles Jacopo, marinheiro do navio "The Young Amelia". Forma seu séquito, o corso Bertuccio e a princesa grega Haydée, cujo pai, o sultão Ali Paxá, foi traído e destronado.
Anos depois acreditando ser, se não o instrumento, mas a própria Providencia, Edmond Dantès institui um grande ardil para sua vingança passando a ostentar vários nomes: Lord Wilmore na Inglaterra; Simbad, na Itália, e também o misterioso abade Busoni. Ampara a família de seu ex-patrão, Morrel da miséria. Protege Albert, Visconde de Morcerf, filho de Mondego, agora Conde de Morcerf, de um sequestro em Roma com o intuito de aproxima-se da sociedade parisiense.
Compra um título de nobreza e apresenta-se a sociedade como Conde de Monte-Cristo (o tradicional "nobre de toga" (noble de robe) da época) e é prontamente reconhecido por Mércedès, instituindo assim divisões entre seus inimigos. Faz com que, o então Barão Danglars, desfaça o noivado de sua filha Eugènie com Albert (ambos não se gostavam) para casar com o Marquês Andrea Cavalcanti. Acusado e testemunhado por Haydée, Mondego, oficial do exército francês, é julgado por má conduta. Desonrado, falido e abandonado pela família, suicida-se. Cavalcanti, cujo nome verdadeiro é Benedetto, quando é preso (por uma série de crimes e falsa identidade) revela no tribunal que é o filho do juiz Villefort, que preside o julgamento. O juiz, já atormentado pela suposta morte da sua filha Valentine, enlouquece. Danglars foge para Roma com várias ações falidas, é sequestrado passando a ser cativo de Luigi Vampa, mas termina perdoado por Monte-Cristo. Valentine e Maximilien (filho de monsieur Morrel) são unidos por Monte-Cristo na Ilha de Monte-Cristo, que finalmente viverá seu romance com a grega Haydée.
O traçado da história e o enlace dos personagens são muito bem feitos, a cada página deixada para trás o leitor é acometido por uma sensação de perda e saudosismo. O livro apresenta uma esplêndida história de dor, vingança e amor. O triunfo da inveja e da perfídia faz emergir de um coração bondoso e ingênuo um implacável vingador. Entretanto, a mensagem do livro não se atem apenas ao tema vingança e possíveis consequências. Revela a impossibilidade e a temeridade do homem em querer ser o Criador. Mostra que somente Deus é o único Verbo. Aquele que possui todo o conhecimento toda a ciência. Aquele que está presente em toda parte. Aquele que pode todas as coisas: Onipotente .Onipresente. Onisciente. (O saudoso Raul Seixas já cantava “Mas saiba que eu estou em você. Mas você não está em mim”). E em meio a sublimar mensagem o autor ainda brinda o leitor com um alento de fé em face da absurda insensatez das ações humanas: “(...) até o dia em que Deus se dignar desvelar o futuro do homem, toda a sabedoria humana se concentrará nestas duas palavras: Aguardar e confiar!”.
Mais do que extraordinário, vai para os favoritos!
Leia. Releia. Depois torne a ler. Pode acreditar que vale a pena!