caranguejotriste 29/02/2024
Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro
Genocídio: extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso; destruição de populações ou povos.
Abdias Nascimento foi certeiro ao dar esse título a obra, ou melhor, nome aos bois. O negro no Brasil, como diz o autor, foi rebaixado a nada, usado, explorado e, após a então abolição da escravidão, por não ter mais utilidade para o branco, foi alvo de um projeto de apagamento, um genocídio instaurado, no seu sentido prático da violência, mas também ideológico.
Pesquisadores da época tinham um plano de embranquecimento do Brasil, com fórmula e data pra acontecer.
Abdias, com essa obra, chega como força contrária ao analisar o Brasil sem escrúpulos, dar voz e pôr luz sob as violências até hoje praticadas contra o negro no território brasileiro e, mais do que isso, com práticas para reverter esse processo genocida de Brasil, que ainda não acabou. São muitos os projetos de políticas públicas idealizadas pelo autor.
Um tópico interessante da obra é sobre a cultura, e de como ela é de suma importância para o fortalecimento da identidade negra. Com contribuições de Abdias, na criação do TEN (Teatro Experimental do Negro), por exemplo, os debates sobre racismo, a falsa democracia racial do país, a tentativa de embranquecimento do negro, no corpo e na alma, as violências e a folclorização destinadas aos costumes trazidos pelos africanos e as discussões a respeito da discriminação e injustiça sofridas pelos negros neste país, se tornaram mais evidentes e discutidos, nacional e internacionalmente.
Esse livro pode ser considerado um documento histórico do Brasil.