Gramatura Alta 14/04/2020
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Por definição, Patriarcado é um sistema social em que homens adultos mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades. No domínio da família, o pai (ou figura paterna) mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças. Algumas sociedades patriarcais também são patrilineares, o que significa que a propriedade e o título são herdadas pelos homens e a descendência é imputada exclusivamente através da linhagem masculina, às vezes, até o ponto onde parentes do sexo masculino significativamente mais distantes têm precedência sobre parentes do sexo feminino.
COMO SAIR COM HOMENS QUANDO VOCÊ ODEIA HOMENS discute exatamente como é possível amar um gênero que se enquadra, majoritariamente, na definição do parágrafo acima. Claro que não se pode generalizar, e a autora deixa isso claro, tanto que ela cita vários exemplos de relações que deram certo, e ainda dão. Ela também não ataca o patriarcado sem utilizar exemplos do que defende, mesmo que não precise disso. Uma frase exemplifica perfeitamente o quanto é desnecessário comprovar a existência de algo para quem é contra por se situar dentro desse algo: “Não vou sentar aqui e provar a existência do patriarcado para você, como meu crush do ensino médio certa vez pediu. (…) Sinceramente, não é responsabilidade do oprimido sempre reiterar os detalhes de sua opressão ao opressor, e não é como se os opressores não tivessem acesso ao mesmo Google que o resto do mundo.”.
Masculinidade tóxica é o tema central da obra, evidentemente, mas sem acusações infundadas, sem militância sem fatos. Eu sou homem, branco, hétero, cis, faço parte do grupo altamente privilegiado e que, com certeza, não tem qualquer lugar de fala quando o assunto é o exposto por este livro. O que posso fazer é ler e concordar, porque tudo nele está efetivamente correto, reconheço no grupo do gênero a que pertenço, reconheço nas conversas que ouço, nos comportamentos de colegas e amigos. Meu lugar é de ler e aprender.
Mas a obra não é uma leitura de tom sério e opressor. Pelo contrário. A autora consegue empregar em todos os temas que aborda, um humor ácido, mas sem ser ofensivo. Ela consegue falar de diversas situações com uma leveza que conquista e que incentiva a continuação da leitura. Claro que se você fizer parte do grupo que faço e não se reconheça nele, irá bradar e largar o livro. Infelizmente, a maioria das pessoas recusa a constatação de que não sabe tudo, que sempre temos que aprender e reconhecer nossos erros, que não somos superiores ou melhores do que ninguém, independentemente do gênero, raça, cor, credo ou qualquer outra falsa e preconceituosa classificação.
COMO SAIR COM HOMENS QUANDO VOCÊ ODEIA HOMENS é dividido em oito capítulos que tratam de assuntos diferentes, embora complementares. Em “Crushes”, a autora descreve maneiras de como ter aquela “queda” pelo garoto da escola, pelo colega de trabalho, pelo vizinho, mas de forma saudável, sem acabar com suas emoções e seu psicológico. E também as formas erradas. No final do capítulo tem um questionário de múltiplas escolhas para definir seu rastreamento de crushes.
O capítulo seguinte se chama “Flertes” e trata exatamente disso, do jogo de sedução, dos sinais e da dedução desses sinais, que muitas vezes são erradas. Ler e ter uma boa interpretação de texto é uma indício de que você terá menos chances de cometer um erro ao flertar. Nesse capítulo, existe um guia muito engraçado de como conseguir interpretar os sinais dos homens e como você se sairia no seu entendimento.
“Encontros” é o passo lógico seguinte. Tem uma lista de maneiras de deixar claro que é um encontro, bem como o uso de aplicativos de relacionamentos, bons locais analógicos para conhecer homens, dicas para namorar a pessoa que você quer ser no mundo e uma lista útil de modos de passar o tempo enquanto está à espera para responder uma mensagem.
Em “Feridas emocionais” está a famigerada escala de 1 a 10 que os homens usam para definir uma mulher, e uma escala de resposta das mulheres aos homens. O problema das demonstrações públicas de afeto e os locais aceitáveis e não aceitáveis para isso. Há também uma divertida análise do filme MENS@GEM PARA VOCÊ, com Tom Hanks e Meg Ryan.
“Namoros” tem a definição de um relacionamento, inclusive aqueles construídos à distância, bem como os que partem para o morando juntos e os que são negociáveis. Uma parte engraçada é quando a autora afirma que os casamentos são ruins, mas ela tem certeza de que acabará se casando com a primeira pessoa que pedir. E logo a seguir vem “Términos”, que começa logo com a definição de que o amor é falso e que a rejeição até pode ser uma boa coisa, depende de como você a trata. Também tem uma lista engraçada de maneiras como terminar com pessoas que não namoramos e os clichês do término.
“Solteirice” é o penúltimo capítulo e começa logo com um texto sobre a prosa antes da foda. É bem curto, e partimos para “Transformando em arte”, que trata sobre como muitas mulheres conseguem transformar em arte seus relacionamentos, sejam eles de sucesso ou fracassos.
Blythe Roberson é escritora e comediante, com trabalhos publicados na New Yorker, VICE Magazine, além de trabalhar atualmente como pesquisadora para o The Late Show. COMO SAIR COM HOMENS QUANDO VOCÊ ODEIA HOMENS traz todo o seu humor e seus pensamentos sobre o patriarcado, em como mulheres podem escapar daquela turma de homens que deveria ser estudada em isolamento.
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