Peregrina 13/10/2016
O mal será bem quando Aslam chegar
Estou relendo aos poucos as crônicas de Nárnia (em ordem cronológica) e terminei recentemente de ler O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, considerada por muitos a "magnum opus" de Lewis. Não é por menos já que, por causa desta primeira crônica, outras seis vieram e foram traduzidas para dezenas de idiomas, colocando Lewis no rol dos maiores escritores de todos os tempos.
Foi graças à adaptação cinematográfica mais recente desta crônica que eu conheci o talentoso escritor e, como já disse na resenha de "O Sobrinho do Mago", foi amor à primeira vista.
O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é um livro de fantasia infantil singular. Seus protagonistas são quatro irmãos - Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia Pevensie - que estão sendo levados à casa de campo do velho professor Kirke (Digory de "O Sobrinho do Mago") para escapar dos horrores da segunda guerra que aterrorizam Londres.
A enorme casa do professor Kirke esconde vários quartos e mistérios e, por acaso, a caçulinha dos irmãos descobre um deles: dentro de um guarda-roupa, numa sala vazia, há um mundo extraordinário, cujo tempo difere muito do do nosso mundo e cujas criaturas que lá habitam ela acreditava existir apenas nos livros de mitologia da escola.
O mundo é Nárnia, habitado por sátiros, ninfas, dríades, faunos, centauros e animais falantes. Outrora, Nárnia era um lugar que emanava alegria, agora jazia sob o encanto de um inverno eterno lançado por Jadis, uma feiticeira poderosa e má, usurpadora do trono de Nárnia, que matava qualquer humano que se aproximasse das terras narnianas, receosa de que uma antiga profecia que dizia que dois filhos de Adão e duas filhas de Eva haviam de ocupar os quatro tronos do castelo de Cair Paravel e colocar fim ao seu reinado..
"Quando a carne de Adão,
Quando o osso de Adão,
Em Cair Paravel,
No trono sentar,
Então há de chegar
Ao fim a aflição."
Quem informa Lúcia sobre tudo o que está acontecendo em Nárnia é o bondoso fauno Tumnus e a menina logo corre para contar as notícias para os irmãos, que não dão crédito ao que só podia ser invenção da cabeça da irmãzinha que sentia saudades de casa. Edmundo, apenas um ano mais velho que a menina, era o mais cruel com Lúcia, zombando da menina mesmo depois que ele próprio, após segui-la à noite, visitou Nárnia!
Os irmãos mais velhos só viriam a acreditar na caçula quando eles próprios se encontraram dentro do guarda-roupa mágico quando menos esperavam e deram de cara com os bosques narnianos. Mas sair de lá não seria tão fácil assim uma vez que, por ajudar Lúcia, o fauno Tumnus fora levado cativo pela feiticeira e, agora, cabia aos irmãos Pevensie ajudá-lo. Mas eles não fariam isso sozinhos, com a ajuda de dois castores falantes simpáticos, eles haviam de encontrar Aslam, o grande leão, filho do Imperador de Além-mar que criou Nárnia, e os ajudaria a derrotar a feiticeira.
Neste livro, os paralelos cristãos são quase palpáveis, desde a traição de Edmundo, até a sua expiação com o sacrifício de Aslam, Lewis nos conta de maneira sutil uma história que lembra muito àquela contada nos evangelhos e, assim, nos emociona e fortalece ainda mais a nossa fé. É incrível como, com uma história infantil, ele conseguiu pregar tudo sobre o que trata o evangelho de maneira tão simples e tocante. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa não peca nos elementos de fantasia e eu acredito que não há idade para o ler. Trata-se de um livro que nos ensina sobre ter coragem, fé, confiar e, sobretudo, perdoar.
Hoje, após tantos anos desde o meu primeiro contato com esta crônica, a releitura provocou em mim uma comoção sem medidas e um prazer indescritível, um sentimento de pertença, nostalgia, esperança e felicidade inigualáveis, por isso recomendo bastante a leitura independentemente de idade, sexo ou religião.
"O mal será bem quando Aslam chegar,
Ao seu rugido, a dor fugirá,
Nos seus dentes, o inverno morrerá,
Na sua juba, a flor há de voltar."