Aile 31/03/2022
O protagonista é muito narcisista
Acho interessante ler os livros que formam a bíblia, pois é um livro de grande influência no ocidente, sendo vc cristão ou não.
Nesse primeiro livro, Gênesis, temos acesso ao mito de criação judeu/cristão e as primeiras e mais famosas histórias de toda essa mitologia: Adão e Eva, o dilúvio e a arca de Noé, a destruição de Sodoma e Gomorra, a história de superação de José no Egito e afins. Conteúdo não falta e, ainda que as histórias sejam conectadas umas as outras por longas detalhamentos genealógicos, achei a leitura até fluida.
Impossível não comparar as histórias judaico/cristãs com as suas semelhantes da mitologia greco-romanas, egípcia ou até mesmo com as das sociedades como os Incas, Maia e Astecas. Todas possuem um tom de violencia extremo, clássico de seu tempo. As entidades superiores são seres hiperpoderosos mas com a mentalidade humana, com desejos e sentimentos humanos. O deus judaico cristão é apresentado aqui como uma entidade altamente inconstante, que ora ama incondicionamente suas criações, ora cria um dilúvio ou destrói cidades inteiras. É também narcisista ao extremo, exigindo fidelidade completa dos seres humanos e sendo bastante abusivo nesse sentido - lembro de certa passagem na qual pede para Abraão sacrificar seu filho, e pouco antes disso acontecer (pq Abraão de fato ia matar o próprio filho :0 ) ele avisa que foi tudo um teste. É uma entidade de difícil convivência, sem dúvida, tal qual seus pares em outras mitologias.
O papel da mulher aqui, entretanto, não é muito variado como nas demais crenças, o que acho uma falha enorme. Não há deusas e as principais figuras feminas estão lá para serem burras (Eva comendo a maçã, a mulher de Ló virando estátua de sal, etc.). Perde-se aqui um potencial para lançar novas perspectivas às histórias, já que o olhar masculino é maçante as vezes.
Enfim, me surpreende que por tanto tempo nossa sociedade foi regida por um livro tão pouco criativo, na minha opinião. É uma leitura que vale pela importância histórica, mas perde em enredo para outros clássicos