akame7 20/04/2022
Genial
Parecido com outro conto de Machado, o "Pai contra mãe", este conto retrata um dilema moral de um personagem diante de uma época escravista.
Tendo fugido do seminário, que lhe foi obrigado pelo pai e pelo padrinho, Damião vai à casa de Sinhá Rita, amiga de seu padrinho, em busca de apoio e acolhimento. Assim o consegue. Mas dentro da casa da mulher, presencia e observa a crueldade e a perversão da escravidão.
//SPOILER//
Por mais que Sinhá Rita o estivesse ajudando, Damião não se sentia bem ao ver Lucrécia, uma africana de 11 anos, apanhar por não ter completado o trabalho do dia. Ainda mais depois de ver as marcas no corpo da criança e ver a ameaça que havia sofrido por rir de uma piada que ele contara à Rita.
Na hora do castigo, Damião se encontra na posição decisiva, a de pegar a vara para que Sinhá Rita batesse em Lucrécia. Se negasse, perderia o único e forte apoio que estava tendo da senhora. Esta, estava decidida a não deixar mais que Damião fosse obrigado a voltar ao seminário. Pressionava fortemente o padrinho de Damião para que ele convencesse o pai zangado do afilhado.
Por outro lado, o seminarista sentia culpa de ser um agente contribuinte para a tortura da menina. Pois ela irá sofrer por ter rido de sua piada e pela vara que ele pegará.
Damião, em seu conflito moral e desespero, cede à Sinhá. Assim como em "Pai contra mãe", a situação social dos protagonistas era desfavorável e complicada, o que os fez pensar em si e em seus interesses, perpetuando o sistema escravista e fazendo o leitor pensar nos dois lados da mesma moeda. A moeda da moral.
Se Damião tivesse apadrinhado a menina, como havia prometido a si mesmo fazer caso ela não terminasse o trabalho e tivesse que sofrer os castigos, a livraria da condição imposta a ela, a da escravidão. Mas ao mesmo tempo, ele negaria a si mesmo a única chance que tinha de se libertar da condição que foi imposta a ele, a de ser padre.
Um excelente conto para refletir.