fahfah1998 21/03/2024
Uma história de obsessão
Minha primeira leitura de Lolita foi aos 17 anos. Hoje com 26, tendo a oportunidade de reler a obra quase 10 anos depois, pude chegar a diferentes conclusões daquelas que cheguei aos 17. Porém a maior de todas permaneceu: Lolita continua na minha lista de melhores leituras da VIDA. E direi o porquê.
Lolita, muito além de uma história sobre pedofilia e incesto, é uma história de obsessão. Uma obsessão maníaca, completamente patológica (será que existem obsessões não patológicas?), infinitamente escrachada em meio ao conservadorismo da época em que a obra foi publicada. Uma obsessão que se escondeu sobre crimes repugnantes e que fazem o leitor expressar em seu rosto um horror sombrio por cada página por onde o carro de H. H. avança.
Mas Nabokov sabe contar histórias. E melhor que contar histórias, sabe tomar nossa mente por imagens sequenciais que conseguimos tornar filmes por trás da visão das páginas. Sabe desenhar detalhadamente e estesticamente impecável cada sentimento, cada lágrima, cada alegria.
E daí a beleza de Lolita.
Escolha uma página aleatória do livro. Selecione uma linha. Leia. Verá a beleza estética da mais banalizada cena do cotidiano, que tornou-se bela porque Nabokov soube enfeitá-la.
Será difícil encontrar um livro que contenha uma escrita e uma progressão da história tão maestralmente bem arquitadas como em Lolita.
Mais semelhante a uma tragédia grega do que a um romance (já que iniciamos a história descobrindo que todas as suas personagens estão mortas), Lolita configura o que, pra mim, tem de mais profundo na alma humana. A loucura, a monstruosidade, o desejo.
Aos que não conseguem "engolir" a obra, sugiro a leitura da nota de Vladmir Nabokov ao fim da edição da editora Alfaguara. Lá o autor explica tudo aquilo que visava ao escrever essas páginas que tanto movimentaram a litetatura e configuram Lolita, hoje, como um dos maiores nomes da literatura universal. Aos que não conseguiram compreender a beleza indiscutível da estética de Lolita, faço das palavras de Nabokov as minhas: "Para mim, uma obra de ficção só existe na medida em que me proporciona o que chamarei sem rodeios de prazer estético, isto é, a sensação de que de algum modo, em algum lugar, está conectada a outros estados da existência em que a arte (a curiosidade, a gentileza, o êxtase) é a norma. Não existem muitos livros assim."