Lorran 24/08/2010Ladrão de CadáveresVamos à primeira resenha fruto das minhas compras na Bienal do Livro de São Paulo. O primeiro livro que peguei pra ler foi Ladrão de Cadáveres, da Patrícia Melo. Talvez a ordem em que eu coloquei os livros no post sobre a Bienal indiquem minha ordem de leitura. Talvez não.
O fato é que eu sou fã incondicional de romances policiais, seja estrangeiro ou nacional. Acho que é o gênero que mais me faz ler autores nacionais, como Rubem Fonseca, Patrícia Melo, Luiz Alfredo Garcia Roza, Flávio Carneiro, Tony Bellotto, Rubens Figueiredo, entre outros. Enfim, vamos ao livro.
Ladrão de Cadáveres fala principalmente sobre perdas em diferentes aspectos: da referência moral, afetiva, e também da morte. Mas, como não poderia deixar de ser em um romance de Patrícia Melo, fala sobre violência, impunidade e a maldade intrínseca da humanidade.
O narrador-protagonista do romance é um ex-gerente de uma central de telemarketing, despedido depois de agredir uma funcionária que acabou cometendo suicídio. Deprimido, ele troca São Paulo por Corumbá a convite de um primo. A trama começa quando o protagonista testemunha a queda de um avião no rio Paraguai. Dentro da cabine, o piloto está morto. Ao lado do corpo, uma mochila com um pacote de cocaína. A partir daí, o que se vê é o despertar do pior lado de um ser humano, em uma história que mistura ganância, crime, sexo e mentiras.
"Você não faz a mínima ideia do que é uma morte sem corpo. É como estar no purgatório. Há dias em que você aceita que aquela pessoa morreu. Então você chora e reza. Em outros, você ouve um barulho na porta e tem certeza de que ela está voltando. Você corre para a sala e não há ninguém ali. E se toca o telefone no meio da noite, você sai correndo, cheio de esperança. E você nunca para de sofrer. Nem de acreditar."
O pensamento acima é o que mais intriga o personagem. Ele mexe o tempo inteiro com a ideia de que é melhor ter um cadáver do que uma pessoa desaparecida; que o sofrimento causado pela incerteza é insuportável. E isso, em conjunto com uma dívida com um traficante boliviano irão despertar o que há de pior no protagonista da trama.
E despertar o que há de pior nas pessoas é o elemento chave do livro. Em Ladrão de Cadáveres, Patrícia explora a tendência natural do ser humano a fazer o mal. Até a mais correta das personagens vai, pouco a pouco tendo desvios de caráter. Basta uma centelha e lá estamos nós, mostrando nosso pior lado. O que parece a mim bastante crível, em vista das diárias barbaridades cometidas por pessoas comuns.
"É exatamente por isso que a gente se fode na vida. Você sempre acha que pode cair fora a tempo."
Em uma entrevista ao Estadão, Patrícia Melo diz não conseguir "acreditar que a moralidade, nosso senso de justiça, a bondade humana sejam inatos ao homem. Pelo contrário, são construções da civilização. Claro que o meio é importante, mas não determinante. Na minha opinião, o homem é um animal cruel e feroz. Um ser voltado para destruição. A civilização é uma coleira, uma gaiola, para essa nossa selvageria. De vez em quando, escapamos da coleira e aí..."