Peregrina 25/11/2017
Um final doloroso e o começo da verdadeira história.
Após um ano, eis que termino minha segunda releitura d'As Crônicas de Nárnia. As aventuras a Nárnia se encerram com esta crônica cujo título é um tanto sugestivo: "A Última Batalha".
Confesso que lá em 2010, quando eu a li pela primeira vez, não achei que estivesse ao mesmo nível das outras. Mas, depois de sete anos, muito na minha forma de ver o mundo mudou, bem como meus gostos literários e minhas impressões sobre A Última Batalha. Seguindo os paralelos cristãos presentes em todas as obras (e que estão bem mais fortes aqui), Lewis utilizou alegorias bíblicas, apocalípticas mais especificamente, para dar um fim ao seu trabalho mais famoso.
Um ano havia se passado desde que Jill e Eustáquio estiveram em Nárnia pela última vez, no entanto, como em Nárnia o tempo passa mais rápido do que em nosso mundo, décadas e mais décadas se passaram desde a história que nos foi contada em A Cadeira de Prata. Nárnia, agora, era governada pelo rei Tirian, um rei benevolente e honesto, que vê seu reino virar de ponta cabeça quando o esperto macaco Manhoso usa seu amigo burro, vestido com uma carcaça de leão, para enganar narnianos, fazendo-o passar por Aslam.
Quase todos os narnianos acreditam na armação já que, há muito, o grande Leão não dava as caras. Manhoso, então, começa a impor uma série de regras supostamente dadas por Aslam sobre os narnianos, que, cegos diante da fraude implantada, acabam por obedecer e se subjugar a um regime autoritário e ditatorial.
É nesse contexto que Jill e Eustáquio são levados a Nárnia. A princípio, a tarefa parece meio óbvia: unir forças com o rei Tirian, libertar Nárnia do jugo do macaco, que se aliara aos calormanos, e instaurar a paz em solo narniano novamente. Mas, à medida que a história avança, seus planos acabam se frustrando, parte dos narnianos torna-se incrédula e parte prefere ser enganada por Manhoso.
"- Viram só? - disse Aslam. - Eles não nos deixarão ajudá-los. Preferem a astúcia à crença. Embora a prisão deles esteja unicamente em suas próprias mentes, eles continuam lá. E têm tanto medo de serem ludibriados de novo que não conseguem livrar-se."
Foi por isso que, em todas as vezes que li esta história, senti um aperto muito doloroso no coração. Parecia que todo o universo criado por Lewis, por Aslam, estava se desvanecendo. Mas, assim como as outras, está é uma história que vale a pena ser lida e um dos motivos que mais me cativaram foi justamente a presença dos paralelos cristãos.
Os paralelos apocalípticos e uma terceira leitura desta obra, agora em idade adulta, me proporcionaram uma percepção bem maior e reflexões bem mais profundas do que há sete anos. A riqueza do trabalho de Lewis neste livro especificamente é impressionante, como ele conseguiu criar um mundo tão semelhante ao nosso próprio. A semelhança com o nosso mundo hoje, a crônica de Lewis e as visões que João teve na Ilha de Patmos são assustadoras! Vivemos em um tempo em que os olhares mais atentos identificarão fácil os "macacos Manhosos", os narnianos enganados e os anões decepcionados e incrédulos. Lewis foi genial tanto na proposta quanto na execução e, quando eu pensei que não pudesse ser melhor, ele nos ofereceu um dos finais mais lindos da literatura. Fico contente por ter realizado esta releitura na juventude e planejo outras mais. Foi uma experiência muito enriquecedora que me proporcionou um aprendizado enorme, uma compreensão maior das mensagens que o autor quis passar e me fez admirá-lo ainda mais. Recomendo bastante!
"Lembre-se de que todos os mundos chegam ao fim. E uma morte nobre é um tesouro que ninguém é pobre demais para comprar."