Guilherme Ramos 03/03/2021
Loucura e mediunidade. Obsessão e espiritualidade.
De todo o meu ser é um romance que se passa no início dos anos 30 em Londres, Inglaterra. Nos trás a estória de Marianne, uma pobre criança que nasce com sérios problemas mentais e em conjunto, com muita sensibilidade espiritual, uma médium ostensiva onde desde pequena terá contato com entidades espirituais, em sua maioria espíritos obsessores, inimigos de vidas passadas que ainda vagam em busca de vingança. Marianne reencarna com sérios comprometimentos no cérebro, uma forma de expiação devido a débitos do passado que ela trás em sua bagagem espiritual e viverá nessa época onde o conhecimento científico sobre doenças mentais ainda era pouco e pouco explorado, onde o preconceito e o medo reinavam absolutamente, onde as pessoas internavam seus parentes nos chamados hospícios e por lá os largavam, como se estivessem condenados a ali viver para o resto de suas vidas.
O livro vai narrar muito sobre como eram alguns tratamentos dentro desses lugares, as terapias de choque absurdas, sedações e remediações abusivas e etc e também a conduta de muitos profissionais despreparados. Nossa personagem principal passará por um desses lugares e por lá encontrará além dos inimigos invisíveis, desafetos do passado encarnados nessa existência, pessoas essas que também abusam de um poder ilusório e que já trazem no DNA espiritual a tendência à psicopatia, devido aos horrores de outras épocas.
Para facilitar sua vida, Marianne contará nesta encarnação com o suporte de Ross, seu primo poucos anos mais velho que ela e que foi criado pelos tios, pais de Marianne. Os dois são almas afins e possuem além de sintonia, um amor puro entre si. No entanto, Ross é um espírito iluminado, já adiantado e que renunciou outras esferas para acompanhar Marianne, tão endividada nesta terra. Pela condição da protagonista, ela é mais dependente, pois possui faculdades intelectuais limitadas (como planejado antes de reencarnar), eles lutarão juntos e muito para viver o amor que existem entre eles e Ross sendo mais adiantado, nunca se coloca nessa posição para não diminuir seu grande amor, ela se entrega a ele de todo o seu ser, dedica toda a sua vida à Ross, é quase uma obsessão, só assim não se caracteriza, pois ela não o prejudica em sua caminhada evolutiva.
Embora muitos ao ler esse livro foquem muito na ligação dos primos, das almas afins, de todo o meu ser pode ser visto de várias formas, quando analisamos, por exemplo, a entrega, a renúncia e dedicação, o amor redentor devotado de Kate por sua filha Marianne. Mãe que lutou incessante por ela, pelo bem estar da filha. Lutou contra os preconceitos sociais e pelos próprios preconceitos, sem desamparar sequer os outros três filhos que ainda tinha para criar, enfrentou também a falta de compreensão do próprio companheiro, pai da nossa protagonista. Esse livro também pode ser visto como uma entrega intensa e corajosa de um espírito bastante forte e resistente que aceitou o doloroso desafio de reencarnar em um corpo com uma mente destituída de sanidade, a fim de quitar grande parte de seus débitos em uma só encarnação.
A estória tem seu ápice quando passa pela segunda guerra mundial, já no final dos anos 30 e início dos anos 40, onde os horrores ficavam cada vez mais nítidos e toda onda de tragédia e destruição assolava todo o mundo, sobretudo a Europa. A entrega de Ross à Marianne e vice-versa, a entrega de Kate à Marianne e todos os seus outros filhos, faz o leitor perceber como são as relações unidas pelos verdadeiros laços de amor, que é capaz de renunciar a própria felicidade e liberdade em nome desse sentimento, por saber que sem a outra parte a felicidade nunca será completa.
É impressionante como Mônica de Castro através de Leonel tem o dom de descrever temas tão pesados e importantes de uma forma tão leve e fluída, é certamente um livro muito triste, mas, muito necessário, justamente por apontar sobre os preconceitos que os portadores de sofrimento mental ainda sofrem tanto julgamento, preconceito e incompreensão social e como a família tem um papel importante na vida dessas pessoas, sendo de certa forma uma prova ou expiação para todos, um resgate e certamente um ensinamento, pois nesses casos o amor é o principal medicamento para a cura e libertação.
Outro tema muito importante no livro é sobre a mediunidade ostensiva e como os chamados “loucos”, são muitas vezes potentes médiuns de sensibilidade bem peculiar e merece toda uma atenção voltada para a análise dos comportamentos, tratamento e desenvolvimento para autocontrole, o que até hoje em dia não é muito aceito nos hospitais psiquiátricos convencionais. Na cidade onde moro (Belo Horizonte), existe um hospital que é referência nesse sentido e tem uma imagem muito positiva justamente por trazer resultados surpreendentes nos seus tratamentos, trata-se do HEAL (Hospital Espírita André Luiz), fico imaginando quantas “Mariannes” não puderam passar por ali para ter um tratamento digno, sério e respeitoso e quantas graças a Deus, “Mariannes” por ali passaram e tiveram essa benção para continuar suas jornadas vencendo as barreiras das dificuldades e desafios desta encarnação...
Enfim, um livro que vale muito a pena ser lido e estudado, provoca reflexões e sobretudo sentimento de empatia, recomendo a leitura por todos esses motivos!
Frase destacada:
"Ninguém perde tempo. O tempo é o mestre dos nossos destinos, porque é através dele que vamos coletando experiências para o nosso crescimento. Ninguém desperdiça tempo. Nós o aproveitamos com maior ou menor intensidade, mas nunca de forma inútil."