Nebula Nebulosa 16/10/2013Livro muito bom, mas que poderia ter sido melhor desenvolvido. Não sei se a culpa é do estilo da autora ou se foi a tradução muito literal que fez certas conversas e relatos perderem o sentido. Por exemplo, tem coisas que você fica "dã, o que aconteceu?" porque as personagens riem do nada de uma piada que você não sacou ou xingam sem fazer sentido e você fica boiando, no ar.
Você se apega aos personagens - mesmo a Janie sendo chata as vezes, mas acho que a culpa é da autora que coloca ela como "se sentindo uma desgraçada" ou "se sentindo uma bosta" e algumas atitudes dela são bobas, principalmente pra uma garota que está na situação em que ela está, ela as vezes é meio orgulhosa, prepotente. Sabe, odeio pessoas com "auto-piedade" que se vitimizam.
Outra coisa meio tosca no livro - e que anda acontecendo em vááários livros, que nem os da Melissa Marr ou Becca Fiztpatrick - é que a personagem nasce com um "problema" e vive a vida toda conformada com ele, sem buscar uma forma de lidar com ele. Então, bem quando o livro começa a ser contado, num período da vida dela, ela descobre miraculosamente a façanha da "internet" e dos "livros" e encontra magicamente as respostas para tudo. Tipo se fossem crianças, que tivessem acesso restrito a isso, mas pelo amor de Deus, pessoas com 16, 20 anos? Fala sério, cade a verossimilhança com a realidade? E me desculpem, mas se aqui no Brasil - país de terceiro mundo - todo mundo consegue acesso a internet, lá no USA ou outros países é "de graça", é ridículo limitarem o acesso a esses recursos em bibliotecas ou computadores comunitários. Tipo no mínimo, até um mendigo consegue ir a um cybercafe ou lanhouse, de boa. E se você nascesse com um problema desses ia passar a vida se informando e sendo a pessoa mais versada nisso, como alguém que é portador de uma doença crônica e não só viver com os efeitos disso.
Enfim, mas isso é um desabafo de todos os livros que ando lendo. Os livros são BONS, mas se tornam fracos devido a essas coisas, acho que vocês entendem.
Outra coisa é a anormalidade que eles dão de forma que os ataques da Janie quando entra num pesadelo se torna inexplicável. Tipo, ok que não é normal alguém ter convulsões, espasmos, revirar os olhos, mas todo tempo que lia, eu pensava: "Bem, se eu tivesse o problema dela e fosse ruim as pessoas presenciando o momento, eu diria que era epilética, afinal os sintomas são muito parecidos - de acordo com o descrito - e não seria causa de suspeita nem internação nem nada.''
Continuando. Você consegue se apegar aos personagens, apesar das coisas meio sem sentido que eles fazem. Então isso é um ponto positivo. A história é boa, embora a autora não tenha sido muito criativa com os sonhos das pessoas. De boa, não sei vocês, mas eu sonho com coisas super aleatórias e não com fatos do meu dia-a-dia virando pesadelos ou momentos cômicos ou sonhos eróticos. Tipo, meus sonhos são ala universo alternativo, outra realidade, muito difícil de serem interpretados. Claro que tem os mais comuns, mas mesmo assim, acho que faltou essa parte. Parece que a autora fez os sonhos serem muito como memórias ou expectativas de momentos futuros. Ou principalmente sexuais. Isso foi meio tosco. E ai eles são narrados, e a maioria só serve pra encher linha. Tipo, ok alguns de exemplo, mas chega um momento que você diz "ok, já entendi o problema da Janie, não precisa ficar narrando todo maldito sonho em que ela entra" e o fato da Janie ficar lá sem querer fazer nada no sonho - tá eu sei que o sonhador tem que pedir ajuda dela, mas ela só se mostra indiferente com o que acontece - só piora a situação. E os sonhos que não são pesadelos, o que ela deveria fazer, se não tem ninguém pedindo ajuda? E eu entendo de fatos traumáticos, mas quem é a pessoa que sonha SEMPRE com o mesmo sonho? Não dá né. Então essa parte ficou devendo também.
Outra coisa é como o Cabel aceita na boa, tipo, eu já sonhei mil vezes comigo mesma, mas assistindo a tudo na terceira pessoa, então não me pareceu o "ó-do-borogodó" quando ele conseguiu fazer o mesmo. Acontece. Sonhos são como livros. Primeira ou terceira pessoa. E nem sempre eu estou neles, então também é uma falha. - Acho que a autora não sonha muito, todo caso.
E por fim, é como eu disse, uma enorme conhecidência que todos os sonhos sejam memórias codificadas que ela precisa decodificar - principalmente o sonho final, tãããooo oportuno!
Cabel é um amor, adorei ele e isso ganhou muitos pontos. Então, é um livro bom, que poderia ser muito mais desenvolvido - e preenchido com detalhes e tal -, mas fraquinho. Vamos ver os próximos. Mas eu gostei dele.