Nandara.Secco 06/01/2023
Um homem é feito de histórias
Como é bom se perder em um livraria e encontrar - totalmente ao acaso - um livro que você julga pela capa, ou pelo título, ou pelo prêmio que ele ganhou e está estampado em letras garrafais, e levá-lo para casa sem pretensão alguma, mas ser arrebatada pela leitura.
Exatamente o que me aconteceu com "Os livros que devoraram meu pai", de Afonso Cruz. Pareceu-me, num instante, ser uma mera fantasia, contudo, este é um exemplar do mais alto nível do realismo mágico - gênero mais incrível e que gera mais reflexão, por justamente colocar uma "lupa" na realidade, fazendo-nos ver de forma clara a nossa humanidade, ainda que pelo viés do absurdo (e ela não é absurda mesmo?).
Que prazer foi acompanhar a saga de Elias Bonfim pelo mundo dos livros em busca de seu pai, pois, para qualquer leitor, a identificação acontece naturalmente, é possível rir, chorar, se emocionar e relembrar das leituras dos grandes clássicos a partir das conversas com as personagens, as quais são colocadas em outras situações que lhes cabem tão bem que pensamos estar lendo continuações das obras originais. Além de tudo, os grandes ensinamentos dessas obras voltam à tona, nos fazendo repensar nossas próprias interpretações e até mesmo nossas atitudes diante da vida.
Para fechar a surpresa, a menção à diabetes como uma doença que acomete pessoas doces fez a diabética dentro de mim rir muito, mas também lembrar das limitações que ela traz.
Chego à conclusão de que os livros mais despretensiosos são os mais surpreendentes, assim como devem ser relidos sempre que possível.