Cristiano.Vituri 19/02/2020Hiberno ou não?Um clássico, dentre os clássicos.
Um manual sobre como ser invisível, e uma biografia sobre como ele se tornou invisível.
Um prólogo que te joga onde o protagonista vai começar a contar toda sua vida, desde a infância ate onde se encontra agora - e é delicioso ouvir/ler ele contando - de forma leve e rápida, com sarcasmo e sem papas na língua, é impressionante ter sido escrito em 1952, pois tem uma linguagem muito atual.
Um jovem que estuda numa universidade do interior sulista, é injustamente punido por algo que não fez, e a revelia é mandado para Nova Iorque, numa armadilha, já que ninguém esperava ele como disseram. Jogaram o pobre, negro e ingênuo no caos urbano que ja imperava desde muito antes.
As passagens dele no primeiro emprego e até chegar a ele, são dignas de contos de Kafka, ele sequer é ouvido e as pessoas o tratam como invisível ( mas não! não é essa invisibilidade que Ellison quer contar).
O jovem, após ver um despejo de uma família negra sem recursos, fica embasbacado, já que nunca tinha visto algo assim na vida. Como protesto, faz ali mesmo um discurso sobre os negros e as condições vigentes num período de muito racismo e recém findada a escravidão.Esse discurso chama a atenção de um personagem importante: Jack, um lider branco envolvido com uma Comunidade de inclusão dos negros na sociedade americana.
Dai sim, o livro embala, e as coisas começam a desenrolar de forma maravilhosamente bem escrita, as mãos atadas que o protagonista tem, e os conflitos que seguem insolucionáveis (de proposito talvez pelos que diziam apoiar os negros?)
É um livro muito, mas muito a frente do seu tempo.
" Como quase todo mundo nesse país, eu me pus em marcha com meu quinhão de otimismo. Acreditava no trabalho duro, no progresso e na ação, mas agora, depois de ser "pela" sociedade e em seguida ser "contra" ela, eu não me imponho nenhuma posição ou limite, e essa atitude é bastante contraria as tendencias da época" (pagina 566)
"Efetivamente não, o mundo é exatamente tão concreto, genioso, vil ou sublimemente encantador como antes, só que agora eu compreendo melhor minha relação com ele e dele comigo!" (pag 567)
Zigmound Bauman não escreveria nada diferente de tudo que temos aqui. É magnifico;.