jota 29/03/2015Meu alter ego favorito...Faz pouco tempo que Philip Roth (82 anos em 2015) parou de escrever ficção - ou qualquer outra coisa, não sei. Em seus últimos livros, especialmente em Homem Comum (2006), Indignação (2008), A Humilhação (2009) e Nêmesis (2010), temas como velhice, morte e doença compõem a base dessas histórias.
Não é nada muito diferente em Fantasma Sai de Cena, lançado em 2007. A decadência física do septuagenário Nathan Zuckerman (alter ego de Roth), também é acompanhada por sua decadência mental - fatal para todo idoso, especialmente para um escritor -, aqui representada pela perda de memória do protagonista (que agora precisa anotar tudo o que pensa ou faz).
Também perda de urina, já que ele passou a sofrer de incontinência urinária depois de retirar a próstata cancerosa. E tem mais: a impotência resultante da cirurgia é um problema que o faz pensar em sexo frequentemente e o leva a imaginar longas cenas ou diálogos (amorosos, sensuais e por vezes sexuais) com Jamie, uma admiradora quarenta anos mais nova que ele.
Por Jamie, escandalosamente bonita e inteligente, Zuckerman desenvolve um amor platônico que por vezes se torna patético ou parece doentio (traduzido em “desejo, tentação, flerte e agonia”, como ele escreve). A ligá-los também está a literatura: a bela texana residente em Manhattan, com um conto publicado na New Yorker, quer ser escritora. Assim como seu marido Billy, um sujeito que Zuckerman descreve com extrema simpatia.
Mas ainda temos um amigo do casal, um jornalista, Kliman, que quer a ajuda de Zuckerman para escrever a biografia de E. I. Lonoff, escritor dos anos 1950, que tem um mistério em seu passado, razão por ter deixado um romance que escrevia inacabado. Por Richard Kliman o ancião Zuckerman nutre os piores sentimentos e a suspeita de que seja amante de Jamie. Ainda mais que o jornalista é fisicamente descrito como um belo exemplar masculino, coisa que Zuckerman deixou de ser faz tempo ou nunca foi. É por essa razão que mais de uma vez ele diz que "os velhos detestam os jovens."
Não acabou: ainda tem Amy, velha amiga que Zuckerman reencontra em Nova York e que por vários anos foi amante de Lonoff, no passado o mestre do jovem Nathan, aspirante a escritor. Pela jovem Amy também ele se apaixonou então, mas agora ela tem câncer no cérebro e sua antiga beleza se esvaiu.
As mulheres e a literatura são as paixões maiores de Zuckerman. Então Fantasma Sai de Cena, ainda que também trate de doença, velhice e solidão, prende nossa atenção o tempo todo, pois falando daquelas paixões com a maestria da escrita de Roth, não tem como não nos interessar.
Além do que, vários autores (incluindo o fictício Lonoff) e suas obras são mencionados aqui e ali por Roth, quer dizer, Zuckerman. Encontramos pequenas referências aos mestres Melville, Hemingway, Faulkner, Mailer e outros...
Fantasma Sai de Cena (ou seria Zuckerman/Roth a sair de cena) é um livro que por todas as suas qualidades se aprecia facilmente e se lê rapidamente, mas meu preferido dos últimos de Roth continua sendo mesmo Indignação.
Lido entre 26 e 28/03/2015.