Fantasma sai de cena

Fantasma sai de cena Philip Roth




Resenhas - Fantasma Sai de Cena


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 04/10/2010

Philip Roth - Fantasma Sai de Cena
Editora Companhia das Letras - 282 páginas - Publicação 2008 - Tradução de Paulo Henriques Britto

Philip Roth coloca em cena, mais uma vez (talvez pela última vez), o seu alter ego Nathan Zuckerman em um romance que conta o sofrimento do personagem predileto do autor durante a triste e solitária passagem pela velhice e suas complicações, um tema difícil e espinhoso no qual poucos escritores contemporâneos se arriscariam, talvez apenas Coetzee. Zuckerman retorna de seu auto-exílio no campo após onze anos para tentar um tratamento que minimize os efeitos constrangedores da incontinência urinária e impotência sexual, ambas decorrentes da remoção de próstata. A abertura do romance é um belo exemplo do estilo claro e direto de Philip Roth que mostra logo no início ao que veio:

"Fazia onze anos que eu não ia a Nova York. Com exceção da viagem a Boston para remover uma próstata cancerosa, eu passara aqueles onze anos praticamente sem sair de casa numa estrada rural nos montes Berkshire, e além disso pouco lia jornal ou ouvia o noticiário, desde o 11 de setembro, três anos antes; sem nenhuma sensação de perda - apenas, no início, uma espécie de ressecamento interior -, eu deixara de habitar não apenas o mundo maior mas também o momento presente. O impulso de estar nele e fazer parte dele, eu já havia matado muito antes."

Zuckerman, aos 71 anos, vai encontrar uma Nova York muito diferente de sua época. Manhattan em plena fase da reeleição de Bush em 2004, após a crise de 11 de setembro, é uma cidade tomada por telefones celulares e o pavor por novos atos terroristas. Ele caminha como um fantasma sem conseguir se adaptar e encontra Amy Bellette que conheceu quando era uma linda estudante de literatura e amante do seu ídolo literário, E. I. Lonoff - um escritor fictício morto há 30 anos e agora esquecido do público. O contraponto para o estado terminal de Zuckerman é representado pelo jovem e impetuoso Richard Kliman que pretende escrever uma biografia de Lonoff revelando pontos obscuros e comprometedores do escritor.

O quadro de personagens se completa com o jovem casal de escritores Billy e Jamie que pretende abandonar Nova York, trocando de residência com Zuckerman pelo período de um ano. Neste ponto, Roth que faz do seu personagem-escritor Zuckerman uma fonte de objetividade e lucidez para os seus comentários sobre a vida e a sociedade americana (autobiográficos talvez), faz também com que ele se apaixone por Jamie, quarenta anos mais nova. Obviamente que Zuckerman, prisioneiro do seu próprio corpo decadente, não consegue concretizar essa paixão de nenhuma forma possível, exceto pela ficção, passando a escrever diálogos imaginários que são intercalados com a narrativa.

A literatura parece ser a única salvação para o debilitado Nathan Zuckerman que além de não poder controlar a própria bexiga e, o que é pior, o seu vigor sexual, começa a sofrer lapsos de memória que representam uma senilidade incontornável e que podem encerrar definitivamente a sua carreira como escritor. Philip Roth não tem mesmo pena de seus personagens, assim como a vida "real".
Giliade 05/10/2010minha estante
Mais um autor que estou prestes a conhecer. Excelente resenha!
Abraços!




Barbara 16/02/2023

Finalizei a leitura desse aqui. Teve bons momentos, mas não é um livro que eu amei. Gostei mais do Complexo de Portnoy, mas ali é outra pegada.
O personagem desse livro forja uns diálogos de flertes bem constrangedores, e não é por que ele é um idoso de 71 anos com uma garota de 30. Nos trechos desses diálogos eu pensei estar lendo um romance clichê adolescente.
Já em outros momentos ele parece ser um livro direcionado à leitores de alguma casta super intelectual...
No mais, é bem interessante perceber as frustrações que acompanham a terceira idade e o mundo dos grandes escritores e obcecados pela literatura.
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RAVAGNANI 28/02/2009

ESPETACULAR!
Não é um livro para quem gosta de Harry Porter, ou dos livros de Shelton...é o PHILIP ROTH de sempre. Espetacular!
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Aguinaldo 31/01/2011

Fantasma Sai de Cena
Mais uma vez estou a escrever sobre Philip Roth e isto nunca é um problema (e é sempre uma experiência gratificante, não canso de dizer). Este é o último romance dele publicado no Brasil. Resolvi ler após o combate com o cachalote de Melville (acho que para mudar rapidamente de século, voltar a paisagem deste brutal século 21 de uma vez por todas). O livro tem como personagem principal um velho conhecido dos leitores de Roth: Nathan Zucherman. Não li nenhum destes, onde Zucherman é uma espécie de alter-ego ou porta voz das idéias de Roth, mas li os livros de uma trilogia dele ("Pastoral Americana", "Casei com um comunista" e "A marca humana"), onde Zucherman é observador e narrador dos sucessos e perturbações de outros personagens. Neste livro ele é um senhor de setenta e poucos anos que mora já há uma década longe de sua New York natal, escondido em uma cidadezinha da Nova Inglaterra, escrevendo seus livros sem acompanhar pela mídia os acontecimentos de seu tempo e praticamente sem vida social. O enredo se desenvolve nos dias anteriores a segunda eleição de George Bush. Zucherman, impotente por conta de um severo câncer de próstata e amargando uma desconfortante incontinência urinária, reencontra por acaso uma pessoa com quem conversou apenas uma vez, quase cinquenta anos antes, mas que foi amante de um escritor já morto que foi muito importante para sua própria formação, também como escritor. Este escritor mais velho (Lonoff) é parcialmente inspirado em Henry Roth (um autor que nunca li, mas por quem me interessei agora). Um jovem escritor resolve contatar Zucherman pois quer ajuda na produção de uma biografia bombástica sobre este escritor mais velho. Zucherman, fragilizado pela doença, com lapsos graves de memória, dividido entre o carinho fraternal pela antiga amante de seu antigo mestre e o interesse súbito por uma jovem garota que tem pretensões literárias e com quem ele quer trocar de apartamento por uns tempos (e voltar a viver em New York), não sabe como se livrar da atenção do jovem escritor. É um romance curioso, com muito material escrito na forma de diálogos de uma peça de teatro. Este estratagema ajuda o leitor a entender um tanto como se dá o processo de elaboração de uma história, de uma ficção, por um grande novelista. É um romance complexo, que vale sim uma leitura atenta. Nele Roth discute a política de George Bush; a vida sob a tensão do terrorismo real e o terrorismo de estado praticado pelos EUA; a fronteira entre ficção e a realidade; o papel da cultura na estabilidade emocional das pessoas; o poder devastador das limitações físicas e das doenças sobre todos nós; o sexo, o câncer e o judaísmo. Curiosamente Melville é citado neste livro. Também Conrad merece várias citações. Dois homens do mar me lembrando do Moby Dick recém lido. Aparentemente Roth disse que este é o último livro onde Zucherman aparecerá e de fato, como em uma peça, no final do livro o personagem sai de cena se desintegrando. Belo romance.
"Fantasma sai de cena", Philip Roth, tradução de Paulo Henriques Britto, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2008) brochura 14x21cm, 282 pág. ISBN: 978-85-359-1248-7
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Peterson Boll 02/06/2011

O primeiro livro do Roth que leio. Realmente me surpreendeu pela escrita concisa, usando de um subjecto (a decadência na velhice) que a maioria dos escritores trata geralmente com melodramaticidades e efeitos exagerados. Roth trata do jeito como a velhice é (ou deve ser, ainda me faltam algumas décadas para certificar-me), dolorosa e solitária, mas naturalmente.
George Facundo 07/06/2011minha estante
Muito massa!!! Gostei da proposta do livro! Acho que o unico que escreveu sobre a velhice e eu gostei foi Rubem Alves... Vou conferir esse aí!




Giovanna Mayer 29/03/2009

Primeiro de muitos
Foi o livro de apresentação de Philip Roth para mim. Apesar de não ter feito uma leitura muito atenta do livro, consegui identificar um embate entre vida e morte , juventude e velhice, impetuosidade/serenidade, memória/resgate. Um bom livro.
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Sara 09/11/2010

Zuckerman conta a sua história...
É uma história com narração em primeira pessoa e cujos personagens - escritores, vivenciam dilemas como medo, amor, doenças, e o mais forte de todos a adversidade imposta pela própria natureza... as impossibilidades físicas decorrentes do envelhecimento. Não é um tipo de leitura que você espera como as coisas vão se arrumar no final, o forte aqui é a análise psicológica dos personagens... é uma descoberta sobre assuntos como solidão, frustrações pelo envelhecimento e suas consequências físicas e mentais no cenário da sociedade estadunidense do século XXI e seus dilemas políticos. Confesso que foi diferente ler esse livro... leva à reflexão sobre a força do tempo em nossas vidas.
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jota 29/03/2015

Meu alter ego favorito...
Faz pouco tempo que Philip Roth (82 anos em 2015) parou de escrever ficção - ou qualquer outra coisa, não sei. Em seus últimos livros, especialmente em Homem Comum (2006), Indignação (2008), A Humilhação (2009) e Nêmesis (2010), temas como velhice, morte e doença compõem a base dessas histórias.

Não é nada muito diferente em Fantasma Sai de Cena, lançado em 2007. A decadência física do septuagenário Nathan Zuckerman (alter ego de Roth), também é acompanhada por sua decadência mental - fatal para todo idoso, especialmente para um escritor -, aqui representada pela perda de memória do protagonista (que agora precisa anotar tudo o que pensa ou faz).

Também perda de urina, já que ele passou a sofrer de incontinência urinária depois de retirar a próstata cancerosa. E tem mais: a impotência resultante da cirurgia é um problema que o faz pensar em sexo frequentemente e o leva a imaginar longas cenas ou diálogos (amorosos, sensuais e por vezes sexuais) com Jamie, uma admiradora quarenta anos mais nova que ele.

Por Jamie, escandalosamente bonita e inteligente, Zuckerman desenvolve um amor platônico que por vezes se torna patético ou parece doentio (traduzido em “desejo, tentação, flerte e agonia”, como ele escreve). A ligá-los também está a literatura: a bela texana residente em Manhattan, com um conto publicado na New Yorker, quer ser escritora. Assim como seu marido Billy, um sujeito que Zuckerman descreve com extrema simpatia.

Mas ainda temos um amigo do casal, um jornalista, Kliman, que quer a ajuda de Zuckerman para escrever a biografia de E. I. Lonoff, escritor dos anos 1950, que tem um mistério em seu passado, razão por ter deixado um romance que escrevia inacabado. Por Richard Kliman o ancião Zuckerman nutre os piores sentimentos e a suspeita de que seja amante de Jamie. Ainda mais que o jornalista é fisicamente descrito como um belo exemplar masculino, coisa que Zuckerman deixou de ser faz tempo ou nunca foi. É por essa razão que mais de uma vez ele diz que "os velhos detestam os jovens."

Não acabou: ainda tem Amy, velha amiga que Zuckerman reencontra em Nova York e que por vários anos foi amante de Lonoff, no passado o mestre do jovem Nathan, aspirante a escritor. Pela jovem Amy também ele se apaixonou então, mas agora ela tem câncer no cérebro e sua antiga beleza se esvaiu.

As mulheres e a literatura são as paixões maiores de Zuckerman. Então Fantasma Sai de Cena, ainda que também trate de doença, velhice e solidão, prende nossa atenção o tempo todo, pois falando daquelas paixões com a maestria da escrita de Roth, não tem como não nos interessar.

Além do que, vários autores (incluindo o fictício Lonoff) e suas obras são mencionados aqui e ali por Roth, quer dizer, Zuckerman. Encontramos pequenas referências aos mestres Melville, Hemingway, Faulkner, Mailer e outros...

Fantasma Sai de Cena (ou seria Zuckerman/Roth a sair de cena) é um livro que por todas as suas qualidades se aprecia facilmente e se lê rapidamente, mas meu preferido dos últimos de Roth continua sendo mesmo Indignação.

Lido entre 26 e 28/03/2015.
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Mario Miranda 24/08/2020

"Fantasma Sai de Cena" não tem a magnitude de outras obras do autor (como "Pastoral Americana" ou "A Marca Humana", em minha opinião), mas apesar de ter uma conexão com a Sexualidade - temática tão cara a Roth - foge completamente da narrativa do autor que também escreveu obras como "O Complexo de Portnoy".

O Fantasma sai de cena é, antes de tudo, uma obra sobre a decadência. A decadência física, pessoal, moral que atinge o homem ao envelhecer. Apesar de ainda ser um escritor de sucesso, o personagem já não tem mais o mesmo vigor de outrora - e sua sexualidade seria a razão da decadência ou a consequência? -. E este homem sente um último impulso de vida, antes de sair permanentemente de cena e ir para a escuridão.

Apesar da Sexualidade ser talvez o tema que o tornou tão famoso, Roth é um mestre em representar a decadência do homem (Humilhação, Professor do Desejo, Homem Comum, Pastoral Americana, Marca Humana, etc). Vale a leitura.
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Paulo Sousa 25/01/2019

Livro Fantasma sai de cena, de Roth
Livro lido 3°/Jan//3°/2019
Título: Fantasma sai de cena
Título original: Exit Ghost
Autor: Philip Roth (EUA)
Tradução: Paulo Henriques Britto
Editora: Companhia das Letras
Ano de lançamento: 2007
Ano desta edição: 2008
Páginas: 288
Classificação: ??????
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"Eu havia exilado meu próprio país, eu me exilara do contato erótico com as mulheres e me excluíra, cansado de guerra, do mundo do amor. Eu havia admoestado a mim mesmo. Havia escapado de minha vida e minha época" (pág 72).
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Nathan Zuckerman figurou em praticamente todos os livros de "envergadura" na prolífica obra literária de Philip Roth. Sua primeira aparição foi em "O escritor fantasma", de 1979, quando, ainda um jovem aspirante a escritor, procurou conselhos de um já experiente homem de letras, E. I. Lonoff. Na ocasião, passará uma noite na casa do ilustre romancista, onde presenciou rusgas entre a esposa de Lonoff e uma enigmática jovem, Amy Bellete.
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A partir dali, o escritor, alter ego do próprio Roth, trilharia uma longa jornada, desde o reconhecimento com a publicação do fictício "Carnovsky", livro que o poria definitivamente entre os mais relevantes escritores de sua época e que lhe trouxe fama e dinheiro. Dali em diante, Zuckerman seria o personagem-narrador dos livros mais complexos e bem construídos de Roth, tendo papel preponderante na Trilogia Americana, formada por Pastoral americana, Casei com um comunista e A marca humana, entre outros. A vida do autor fictício tomou emprestada muitas das fases vividas por Roth na sua longa existência. Muitas vezes criador e criatura se fundiram numa quase indissociável personagem, onde o real e o fictício conseguiram dar origem à literatura que tanto intriga e embevece. Roth faleceu em 2018. Zuckerman, desapareceu uma década antes, num exílio que marcou o desaparecimento de um dos personagens mais instigantes da literatura moderna.
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Depois de concluir Complô contra a América, de 2004, um dos melhores de Roth que li, e pular "Homem comum", de 2006, por já o ter lido duas vezes, sendo uma ano passado logo após a morte do autor de Complexo de Portnoy, termino a leitura de "Fantasma sai de cena", de 2007. O livro, mais uma das narrativas em primeira pessoa de Zuckerman, apresenta o escritor já septuagenário, recluso há 11 anos de Nova Iorque, de onde se retirou para viver numa casinha nas montanhas Berkshire, inteiror da Nova Jersey. Ali encontrou a paz e tranquilidade ansiada para poder ler, escrever, nadar em seu lago particular e conviver com a incontinência urinária que marcou a decadência de um homem acostumado ao lado mais fescenino da vida.
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Não faltaram agitações na vida de Zuckerman. Teve muitas namoradas, sofreu à beça com um problemas nas costas, arranjou inimigos, escreveu livros que inevitavelmente o alavancaram ao patamar dos literatos mais brilhantes. Foi perseguido, recebeu cartas anônimas com ameaças de morte, sem querer participou de uma operação secreta em Israel e acabou se metendo em encrencas ao se posicionar contra o semitismo. Mas até para ele, acostumado a exagerar sempre, a vida traz a ruína e a degradação. Zuckerman perde, com a próstata retirada por causa de um câncer a capacidade de controlar a urina e o sexo. Duas habilidades tão nativas num homem dado aos prazeres, agora negados pelos caprichos do tempo. O livro narra a decisão de voltar a Nova Iorque para um procedimento experimental que poderia amenizar a incontinência. Mas além de não dar certo, Zuckerman é levado para o meio de uma discórdia envolvendo nada menos que o falecido Lonoff e sua ex-amante, Amy, os personagens de O escritor fantasma. Além disso, num disparate, Zuckerman conhecê uma mulher, casada com um jovem aspirante a biógrafo, por quem vai nutrido um desejo, mesmo apesar de ter perdido a capacidade erétil mas que busca na voz, na forte presença a satisfação que o corpo agora lhe nega. O escritor vive provas de fogo de que, ao final do livro, percebe não ser mais capaz de lidar. É quando cai em si, enxerga que chegara o momento de entrar, definitivamente, para o esquecimento...
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"Fantasma sai de cena" descreve a trajetória para a decrepitude, a força hercúlea para manter a mente ativa, apesar dos lapsos, da afirmação (ou reafirmação) da existência pululante, algo que, de forma trágica, Zuckerman não tem como manter. Sobre como há um tempo em que as pontas da história precisam ser atadas, como foi com Nathan Zuckerman que iniciou sua vida na literatura através de E. I. Lonoff e Amy Bellete e que agora, vendo um fecho nada positivo, resolve sair de cena.
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