Mayandson 23/01/2022
O abalo sísmico da poesia negra
Toda a literatura negra que conheci até agora apresentava, fosse na sua matéria literária, tanto da prosa quanto da poesia, fosse na biografia de suas produções, escritas ou oralizadas, a força da resistência era e é, para fazer uso das palavras de Alfredo Bosi, evidenciada pela inadequação ao tempo presente.
Carlos de Assumpção, poeta contemporâneo que conheci graças ao meu querido professor Marcos Pasche, em sua poética, através do regresso ao presente, denuncia a perpetuação da condição do negro brasileiro. Basta ler seus poemas lançados no livro Protesto, de 1982: o que há ali é a mesma dicção de hoje, 2022. Assumpção não alveja se não o tempo futuro e vocifera: ?não pararei de gritar?. Sua inadequação ao agora não diz respeito ao que tematiza seus poemas, pois o tom é atualíssimo, mas sim da urgência de pendências históricas ainda não resolvidas desde o período colonial.
A literatura testemunhal, denunciativa, que não é panfletária, mas sim combativa, em especial a literatura negra, muito me surpreende pois são, para e na sociedade ainda racista, o abalo sísmico que tanto temem.