Maria Altamira

Maria Altamira Maria José Silveira




Resenhas - Maria Altamira


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Bookster Pedro Pacifico 04/11/2022

Maria Altamira, de Maria José Silveira
O livro já começa com uma tragédia: um terremoto no Peru soterra a cidade de Yungay e mata os familiares de Aelí. Sua filha está entre as vítimas fatais. E é a partir de tantas perdas que a autora goiana nos leva por um caminho dolorido, na tentativa de deixar a tristeza para trás. Como se uma tristeza dessa proporção fosse passível de esquecimento.

Alelí parte sem rumo, encontrando toda uma América do Sul em seus pés. Se o sofrimento não pode sumir, ela parece descansar um pouco quando conhece a personagem Manuel Juruna. O homem leva Alelí para uma aldeia onde vive no Xingu. O que poderia ser o início de um novo capítulo na vida de Alelí, termina bruscamente com uma nova perda. De lá, ela parte mais uma vez sem rumo e abandona sua nova filha, ainda recém-nascida, com uma enfermeira que conhece. Maria Altamira é o nome da menina.

Alternando com a vida de Alelí, a autora apresenta o futuro de Altamira. Uma jovem que ainda busca seu passado e, por suas mudanças de vida, abraça causas sociais. Da destruição do meio ambiente com a construção da Usina de Belo Monte à triste realidade dos sem-teto em São Paulo. A parte de Maria Altamira não me cativou tanto, senti uma menor profundidade e, por isso, me envolvi menos com a sua narrativa.

A escrita de Maria José é cativante e toca em temas muito atuais. Desastres naturais, relação destrutiva do homem com o meio ambiente, proteção dos povos originários e a desigualdade social em grandes centros urbanos. É nesses cenário que a autora insere personagens bem construídos que carregam dores individuais. Destaque para a construção de Adelí.

Mais um lido para o Desafio Bookster 2022 que nos mostra a riqueza da literatura nacional contemporânea.

Nota 8,5/10

site: https://www.instagram.com/book.ster/
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Rafael 06/07/2022

O monstro de concreto que atira nos Brunos e Doms
Foi uma boa surpresa descobrir este livro que veio parar em minhas mãos por acaso. Estava na casa da minha irmã e ela acabou me emprestando, pois tinha acabado de ler e me recomendou.

A capa é de uma beleza estética e conceitual. Foi o primeiro livro que li que traz uma explicação ao leitor sobre o projeto gráfico da capa. Um livro completamente integrado ao seu propósito.

É claro que a gente que vive nas grandes capitais sabe - por cima - das coisas horríveis que acontecem no interior do Brasil relacionadas a desmatamento, garimpo e as consequências da construção de hidrelétricas. No entanto, acompanhar o crescimento de personagens que são impactados por isso durante anos e que, por consequência disso, têm suas vidas viradas de cabeça para baixo é outra história: é um aprofundamento necessário para entendermos melhor nosso país.

O romance mistura com destreza a ficção, o desenvolvimento dos personagens e o tom jornalístico de denúncia com os elementos reais de acontecimentos importantes para a América Latina desde a década de 1970. Ao acompanhar a história de nosso continente por meio de possíveis vivências, conseguimos, por empatia, nos conectar melhor com algo que parece tão distante de nós, mas que deveria estar tirando nosso sono.

Recentemente tivemos o caso de Bruno Pereira e Dom Phillips que chamou a atenção da mídia sobre os desmandos na região amazônica e os riscos de se defender a floresta e os povos originários. Já tivemos muitos outros casos, citados no livro inclusive. Eu me lembro de que o primeiro caso do qual tomei conhecimento foi o da Irmã Dorothy Stang. Anos se passam, mas continuamos reféns de grandes proprietários como o rei do mogno e de governantes que só enxergam o lucro e passam por cima do meio ambiente e de populações inteiras. Precisamos discutir o genocídio indígena e precisamos tirar o Bolsonaro do poder antes que ele agrave mais ainda essa situação.
Michelly 06/07/2022minha estante
Comentário urgente e necessário.


Rafael 06/07/2022minha estante
Muito obrigado!
Precisamos indicar esse livro a todos os amigos para fomentar essa discussão.




Joel.Martins 20/11/2021

5 estrelas com louvor!!
"Durou um infinito aquele abraço."

Simplesmente estou extasiado com essa história que nos faz refletir sobre o preço que a natureza paga pelo "avanço" dos homens; e nos emociona de forma profunda com a história de vida dos personagens.

Isso aqui dá voz aos povos indígenas e ribeirinhos que convivem harmoniosamente com a natureza e são extremamente afetados pela destruição que o homem provoca para garantir o tão falado "progresso".

A autora nos faz sentir todas as emoções dos personagens - É tão forte que cheguei a ouvir o canto da Alelí e sofrer com suas dores...

Enfim, mais um LIVRÃO NACIONAL ????????????????????????????
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Gabriela3420 04/08/2020

Maria Altamira
Maria Altamira é o nome da jovem protagonista desse livro, metade peruana, metade índia Yudjá, foi batizada por sua mãe adotiva em homenagem à cidade paraense, epicentro das consequências da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no trecho do Rio Xingu. Alelí profundamente abalada com a morte de toda sua família no soterramento da cidade de Yungay, no Peru, percorre sem rumo vários países da América Latina, até que chega ao Brasil e conhece Manuel Juruna que é assassinado quando ela está prestes a dar a luz. Convencida de que carrega uma maldição que atinge a todos as pessoas de quem se aproxima e ama, Alelí deixa sua filha aos cuidados de Chica e parte novamente sem rumo.
Maria Altamira cresce as margens do rio Xingu e acompanha todo o desenrolar da batalha judicial para a construção da usina, a luta dos indígenas e ribeirinhos pela preservação de suas terras e do rio e a degradação da cidade com chegada do "progresso" trazido pela usina.
Nesse livro de raiz profundamente latino americana e indígena, diferente de tudo que já li, a autora aborda temas tão próximos da nossa realidade e ao mesmo tempo tão marginalizado nas artes. O conflito pelo direito à terra, moradia digna e meio ambiente saudável de um lado e do outro a negligência governamental e a sanha por lucro das empresas. Uma luta sem fim por respeito aos direitos humanos básicos.
Pra mim esse é simplesmente um dos melhores livros do ano! A forma poética de construção da Alelí e a força de Maria Altamira e Chica me comoveram muito. Confesso que só conhecia superficialmente sobre a construção de Belo Monte, e com esse livro me senti instigada a pesquisar mais sobre o assunto. Recomendo a leitura a todos os brasileiros para que se aprofundem em suas origens latino americanas e sobre a importância da preservação de rios e florestas.

"Estamos cansados de ouvir e não ser ouvidos. Não estamos defendendo só o Xingu. A luta dos povos indígenas é muito mais ampla do que aqui, agora, porque todos precisam da Amazônia e quem preserva a floresta somos nós. Se um dia tirarem essas terras indígenas, o mundo vai se acabar de quentura."
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Debora2201 08/11/2023

Agradável surpresa
A leitura flui bem e a temática é bem interessante. Alguns trechos são difíceis de digerir e trazem bastante reflexões.
Recomendo a leitura.
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Livia1107 16/11/2023

É preciso refletir sobre literatura
Não é suficiente o número de pessoas que conhecem as consequências sociais e ambientais da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Todos(as) os(as) brasileiros(as) precisam saber como a barragem na volta grande do rio Xingu destruiu a vida de indígenas, ribeirinhos, animais e plantas, e como o desrespeito a todas as vidas - humanas e não-humanas - é realizado em nome de um progresso muito relativo. Por isso, a ficção de Maria José Silveira é bem-vinda, porque aproxima os(as) leitores(as) dessa realidade na forma de uma literatura por vezes panfletária, mas que vale a pena por contar uma história da qual ninguém parece querer saber.

A história é dividida em duas partes. A primeira é sobre Alelí, que aos 16 anos, vê toda sua cidade, e sua família, morrer sob uma onda de 40 metros de terra que deslizou de um vulcão, em Yungay, no Peru, no ano de 1970. Sua dor e falta de perspectivas são tão intensas que Alelí passa anos vagando pela América do Sul, contornando a cordilheira do Peru para a Bolívia, Chile e Argentina, depois subindo para o Paraguai e Brasil até chegar à recém-criada cidade de Altamira, no Pará, onde conhece um indígena da etnia Yudjá e dele engravida. A segunda parte é sobre esta filha, que é abandonada por Alelí e criada pela enfermeira Chica, que dá à criança o nome de Maria Altamira. Adulta, ela verá sua cidade ser destruída pela barragem que inunda a floresta e causa destruição e violência.

Triste e cheia de desventuras, a história de Alelí é contada com grande sensibilidade e poesia, e é difícil largar o livro e deixar a jovem, que vai se tornando mulher ao longo das páginas. Em cada pouso, a cada acolhida e partida, Alelí vai se aproximando de seu destino encontrando, e deixando, pelo caminho beleza e também violência.

A história de Maria Altamira, por outro lado, já é contada em um tom diferente, mais informativo. Os diálogos entre a jovem Maria e seus amigos ribeirinhos soam artificiais, muitas vezes construídos para conduzir o leitor às conclusões da autora (que, pelo menos, são boas conclusões: a hidrelétrica Belo Monte é um crime ambiental e a mineradora Belo Sun deve ser impedida a qualquer custo). Por mais que eu concorde com o rumo da prosa, ela parece mais panfletária do que literária. Silveira também leva sua protagonista a morar quatro anos em São Paulo, em um prédio invadido perto da Estação da Luz e a fazer parte do Movimento dos Sem Teto (sem, no entanto, nominá-lo efetivamente). Foi também uma forma de dar destaque à mais uma causa de desalojados, de pessoas que lutam para ter o seu lugar no mundo. Super válido, claro, mas mais uma vez fiquei com a sensação de estar lendo um manifesto político, e não uma obra de literatura em que os fatos históricos estão naturalmente tecidos na trajetória das personagens - Isabel Allende que o diga. Maria Altamira e seus amigos fazem discursos, não conversam. 

Reconheci nesta obra de Maria José Silveira o que o filósofo húngaro Gyorgy Lukács chamou de “arte de tendência ou de tese”: “O que é a tese? Numa acepção superficial, é uma tendência política ou social do artista que ele quer demonstrar, defender e ilustrar com a sua própria obra de arte”*. Ele afirma que “utilizar toda a obra, ou mesmo um só personagem, como expressão direta e imediata das opiniões do autor priva o personagem da autêntica possibilidade de viver até o fundo suas próprias faculdades vitais segundo as leis íntimas e orgânicas da dialética de seu próprio ser”**. Silveira transformou a potencialmente magnífica Maria Altamira em um fantoche, que pelo menos fala sobre uma realidade que precisa ser conhecida.

Acho válida a leitura deste romance, especialmente por causa da história de Alelí, mas para conhecer de forma magistral a história de Belo Monte, é URGENTE que todos leiam Banzeiro Òkòtó, de Eliane Brum - uma grande reportagem e relato pessoal escrito de forma visceral e poética, em que os dados e os números são contados por meio das histórias reais dos ribeirinhos e indígenas, que mostra que toda a violência em que Altamira foi mergulhada por causa da ganância do homem branco. Uma obra incrivelmente profunda, bem escrita, sensível, que me chacoalhou de verdade, Banzeiro Òkòtó, de Eliane Brum.

site: www.365livias.com
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Letícia 15/11/2021

Marcante
A história de Maria Altamira começa com uma tragédia no Peru, onde Alelí perde sua família e praticamente sua vida por causa de um desastre ambiental. Chocada com o luto e as perdas, sem nada mais a perder, Alelí segue pelas ruas com pouco dinheiro e documentos. Sua trajetória passa pela Bolívia, Chile, Argentina...conhecendo pessoas, cantando e tocando para sobreviver. É através da música que percebe que ainda lhe resta um pouco de vida e esperança apesar de tudo. Conhece uma tribo indígena já no Brasil e tem uma filha com Manuel Juruna, que já tava marcado para morrer nas mãos de madeireiros criminosos. Depois de tantas perdas e mortes, Alelí prefere não passar sua "maldição" para a filha, Maria Altamira, que nasce e cresce em outro trágico momento histórico: o da construção da usina de Belo Monte. O livro, escrito por uma antropóloga, percorre sutilmente vários momentos históricos, desde as ditaduras latino-americanas até a usina hidroelétrica e a luta por moradia em São Paulo. A sensação de impotência e abalo que os fatos causam não é maior que a força e a luta dos indígenas cuja batalha em certo ponto pode ter sido perdida, mas a história não é definitiva e nem está dada por vencida. É interessante perceber como a construção da usina abalou não "só" materialmente, mas dividiu e fragilizou as relações familiares, sociais e até alimentares dos povos. A tal da "civilização" se impondo e monopolizando como "único" meio de vida e fazendo crianças indígenas terem que comer miojo é surreal de triste! O homem branco e o capitalismo são um câncer!
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A.Henrique 15/01/2023

não é bem uma resenha, é mais uma conversa interna.
todo leitor é um ótimo fazedor de promessas. pagá-las é que é o desafio.

quando li 'a mãe da mãe de sua mãe e suas filhas' prometi que ia atrás de tudo que maria josé silveira escrevesse - até aí nenhuma novidade, outras vítimas dessa promessa são ana paula maia, vhm, aline bei, saramago, graciliano e outros 90% dos autores e autoras dos quais já li alguma coisa.
em 2022 eu estava num bom ritmo de leitura até março - o que também não é nenhuma novidade, parece que o capitalismo consegue sugar minha alma no fim de março/começo de abril e só sinto que volto a mim mesmo em meados de novembro - e tentei começar esse livro umas três vezes (ele era o livro de maio da famigerada lista x livros para 20xx), não rolou, deixei de lado porque me conheço bem. chegou janeiro de 2023, prometi não fazer metas na forma de lista, apenas manter a ideia de diversificar minhas leituras: mais mulheres e menos (ou não só) estadunidenses.
ok, metas e promessas, a gente diz que não vai fazer e vai lá e faz. mas quero manter essas metas mais sóbrias e não me cobrar tanto - como fiz ano passado, quando parei de ler e arrastei alguns livros por vários meses, sabia que ia voltar quando desse. e voltei.
enquanto escrevo isso penso que deveria manter um diário de leitura, ou nem que seja apenas um caderno para deixar minha verborragia fluir, já que ao tentar escrever uma resenha para um livro acaba mais sendo uma conversa sobre meus hábitos (ou a falta deles) de leitor, tudo muito misturado e confuso e, não sei, meio íntimo talvez.

maria altamira não aconteceu pra mim em maio de 22, mas em janeiro de 23. acompanhei alelí no seu périplo pela américa latina, fugindo da sua "maldição". acompanhei altamirita nas suas jornadas, interna e externa, se conhecendo e conhecendo as injustiças do mundo.
tenho mania de assistir à videoresenhas quando termino um livro, não sei se é uma falta de confiança nas minhas conclusões ou se é só gosto por escutar alguém falando do que acabei de ler pra que a leitura desça melhor, mas não é hora pra essa reflexão atravessada. de todos os apontametos que ouvi (da isabella lubrano, do humberto conzo júnior) quero destacar o que disse a bárbara krauss, de que o final fecha o arco das duas protagonistas perfeitamente. no mundo das probabilidades (e dos gostos literários) há alguns finais possíveis, entretanto, para esse livro, para alelí e maria altamira esse é o final perfeito. comecei falando de promessas de leitores, e maria altamira também fez uma promessa a si mesma ao saber do destino de manuel juruna. tenho pra mim que ela vai conseguir cumprir essa promessa.
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Marcos Wlrich 30/04/2021

Jornada
Uma jornada pela América Latina, do Peru ao Brasil. Mas não é uma viagem comum, é repleta de tragédias e dores. E no meio de tanta dor, Alelí em alguns momentos encontra uma cura momentânea na música. É uma jornada de mãe e filha, Maria Altamira presencia suas tragédias no Brasil com a construção da usina Belo Monte e a destruição do Rio Xingu. Vou para por aqui sobre mais detalhes, mas é um belo livro que te prende do começo ao fim. Um retrato do Brasil, dos povos indígenas e ribeirinhos que sofrem até hoje as consequências da construção de Belo Monte.
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Pri | @biblio.faga 27/09/2021

Em um país, onde o presidente, infelizmente, afirma que os indígenas são um obstáculo à mineração e ao agronegócio, defendendo a abolição das terras indígenas já demarcadas e insiste em um 'discurso radical' e 'negacionista' mesmo na ONU e perante toda a imprensa internacional, ler o livro da Maria José Silveira desponta quase como um (delicioso) dever cívico.

O título publicado pela @editorainstante e o sétimo romance da autora goiana, traz temas importantíssimos e muito sensíveis à realidade brasileira e latino-americana:

A violência física perpetuada contra os povos indígenas e a destruição ambiental (e por que não? até psicológica) causada pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em 2011, ao povo Yudjá e as comunidades ribeirinhas do rio Xingu. Além da realidade de abandono e de invisibilidade dos grandes centros urbanos, habitats e morredouros de sonhos e oportunidades de crescimento profissionais e pessoais.

Alelí e sua filha biológica, Maria Altamira, e sua outra mãe, a enfermeira Chica, demonstram empiricamente como a pobreza e a devastação podem vir em diversos tamanhos e formatados. Como a má sorte da desigualdade parece atrair a destruição, mas também pode servir como combustível para uma força de vontade e inventividade que desconhecem limites temporais e territoriais.

O romance nos apresenta "espaços e personagens com os quais nós, leitores/as de literatura, não estamos acostumados/as. Por isso, também, a surpresa da bela narrativa, que nos envolve e, de algum modo, nos responsabiliza", como aponta a pesquisadora, escritora e crítica literária, Regina Delcastagnè, no seu depoimento sobre o livro.

Apesar de todos os pesares, temos aqui um livro que faz uma bela e justa homenagem às mulheres brasileiras: a parte essencial de um povo capaz de encontrar espaço para a beleza, amor, sensibilidade e união mesmo nos tempos mais difíceis e inóspitos. Isto é, um livro-mãe que machuca, mas acalenta o coração.

Por último, mas não menos importante, aproveito a ocasião para deixar minha recomendação de leitura dos livros do líder indígena, jornalista e ambientalista, Ailton Krenak.

site: https://www.instagram.com/biblio.faga/
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Barbara.Luiza 24/06/2021

Nascer mulher traz consigo muitas marcas, mas há marcas que o mundo nos dá sem que queiramos e há marcas que talhamos a faca, para não nos esquecermos ou para nunca mais lembrar.

É assim a história de Alelí, peruana de origem quechua. Sua história começa quando termina, no acidente de Yungai em que toda uma vila foi soterrada por um deslizamento. Nessa vila sua filha, companheiro e pais.

Abandonada pelo estado e sem raízes, ela desce a América do Sul indiferente as ditaduras latino americanas, as mães da praça de maio, as lutas dos povos indigenas.

Em Belo Monte, no Pará, ela deixa uma filha para que não recaia sobre ela sua maldição. Essa filha é Maria Altamira, meio quechua, meio yudjá, disposta a enfrentar a tudo e a todos contra a construção da usina hidrelétrica na cidade em que nasceu.

Nesse romance, Maria José Silveira nos apresenta uma breve história latino-americana no qual o leitor vai desvendando os fatos históricos através do véu de indiferença de Alelí até chegar na militância ingênua de sua filha e a história que já sabemos: a derrota dos povos indígenas após mais de 30 anos contra a construção da usina de Belo Monte no alto do Rio Xingu.

A pesquisa por trás do livro é muito bem feita e pouco transparece ao leitor, das ditaduras no continente até as lutas por moradia na capital paulista é apenas na última que o caráter didático transpareceu na minha leitura. As personagens, em suas complexidades sociais intrincadas não pedem licença ou desculpas a moral pequeno-burguesa, existem apesar e contra ela.

Com densidade histórica e emocional, Maria Altamira é um romance sobre mulheres que mesmo de pés descalços caminham pelo solo da América Latina, com sua música, seus amores e a disposição de deixar também nesse solo as marcas dos seus pés.
Cristian 24/06/2021minha estante
=O quero ler!!!




sabrina 29/04/2021

maria altamira x belo monte e seu caos
"estamos cansados de ouvir e não ser ouvidos. não estamos defendendo só o Xingú. a luta dos povos indígenas é muito mais ampla do que aqui, agora, porque todos precisam da Amazônia e quem preserva a floresta somos nós. se um dia tirarem essas terras indígenas, o mundo vai se acabar de quentura."

um livro que mostra milhares de perspectivas sobre a construção de belo monte, com uma narrativa super intensa e cheia de conflitos, complexidades e muita cultura indígena! sem caricaturas dos povos indígenas, mostrando o brasil da forma mais realista possível com personagens extremamente cativantes e intensos (as principais seriam a Alelí (mãe) e Maria Altamira (filha).

não quero falar muito em detalhes sobre, porque é uma história com muita cultura, revolução, conflitos, romance. nada do livro é tirado do nada, as lutas dos povos indígenas são construídas de forma tão intensa que intriga pra querer saber mais sobre e é exatamente disso o que estamos precisando nos dias atuais! todo brasileiro deve saber sobre o caos que a usina de belo monte causou e continua causando.

uma história que vai além do contexto histórico, retratando a dor, força de Alelí e a energia revolucionária de Maria Altamira!
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Paula 04/05/2021

Excelente! Atual! Importante para contextualizar o nosso país... a questão indigena, os sem-teto, sem-terra, crimes ambientais, disputa de poder... lindo livro!
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Rodriguinho @literario.rojo 01/05/2021

“No tempo em que não havia fim, todo começo era antes, durante e depois.”

A princípio o que me despertou a atenção nesse livro foi a capa e seu título, e após pesquisa sobre o enredo da história me aguçou mais ainda em querer mergulhar no romance Maria Altamira, no qual tem como um de seus cenários a cidade de Altamira, no estado do Pará na região Norte.
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A história inicia após um terremoto destruir toda a cidade de Yungay no Peru, em 1970, onde temos a personagem Aleli que nessa tragédia perde todos os membros da sua família e após o desastre a mesma parte sem destino certo pela América do Sul carregando sua charanga, sendo a música a sua forma de se expressar nas andanças da vida.
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E entre essas paradas Aleli conhece Manuel Juruna que se apaixona pela moça e a leva para sua aldeia do Paquiçamba, localizada na Volta Grande do Xingu, Pará. A vida da personagem novamente será marcada por uma tragédia, e ela deixa a aldeia e vai para a cidade de Altamira e sendo acolhida pela enfermeira Chica. Aleli que está grávida tem ali sua filha e deixa sob os cuidados de Chica, pois a mesma dizia-se amaldiçoada e só traria coisas ruins aos que a cercavam.
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Nisso, a menina recebe o nome de Maria Altamira, a história passa assim contar sobre a vida de Maria, e temos como um plano de fundo a indignação da personagem em relação a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte que destruirá a vida das comunidades ribeirinhas, comunidades indígenas do rio Xingu e que também causará grande impacto social na cidade de Altamira.
Maria se muda para São Paulo para trabalhar e poder almejar um rumo melhor na sua vida, ela vai morar em um prédio ocupado e nisso a personagem observa e vivência as gritantes desigualdades em relação aos moradores de rua na cidade mais rica do país. Paralelo a isso e recebendo as notícias da sua cidade e nesta amplitude de problemas Maria decide retornar para Altamira, e no seu regresso já encontra os impactos causados por Belo Monte.
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“NEM VOU FALAR DOS RIBEIRINHOS DESALOJADOS DO RIO E COLOCADOS NAQUELAS CASINHAS TRISTES QUE PINTARAM DE CORES ALEGRES PRA ILUDIR QUE ALGUÉM PODE SER FELIZ MORANDO ALI.” (trecho da página 251).
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Um livro simplesmente espetacular e que aborda vários temas que fica difícil mencionar em uma resenha todos os pontos, deixo como destaque aos interessados em saber as consequências que a construção de Belo Monte gerou e ainda causa em Altamira.
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Eliane 10/09/2022

Forte
História forte sobre migração, questão indígena, mulher e tantas outras questões atuais e importantes. Muito bom. Recomendo. ?
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