alexandream 09/06/2020minha estanteCapítulo 1: "Em 1957, numa entrevista conduzida pelo psicólogo norte americano Carl Rogers, o filósofo Martin Buber expôs um equivoco comum relacionado ao conceito de individuação de Carl Jung. Na conversa, testemunhada por centenas de alunos na universidade de Michigan, Buber questionou vigorosamente o uso que Rogers fazia do termo 'pessoa'. Em seguida, passou a explicitar sua discordancia com relação a Jung:
- Você fala sobre 'pessoas' e o conceito de 'pessoa', ao que parece, está muito próximo do conceito de indivíduo. Penso ser aconselhável fazer distinção entre eles. Um 'indivíduo' é apenas certa singularidade de um ser humano. Isso é o que Jung denomina 'individuação'. Ele pode se tornar mais e mais um 'indivíduo' sem que isso o torne mais e mais 'humano'. Tenho inúmeros exemplos de homens que ser tornaram muito, muito individuais, muito distintos de outros, muito desenvolvidos em sua peculiaridade, sem ser de modo algum o que eu gostaria de chamar de 'homem'. Uma pessoa, eu diria, é apenas o indivíduo que vive de fato com o mundo. E com o mundo não quero dizer 'no mundo'. Mas sim, em contato real, em reciprocidade real com o mundo em todos os pontos em que o mundo pode encontrar o homem. Sou contra indivíduos e a favor de pessoas.
Buber interpretou erroneamente o conceito de individuação de Jung, considerando-o uma simples afirmação e aprofundamento de determinada estrutura de caráter ao longo do tempo. Longe de representar o tipo de entrincheiramento psíquico de que Buber fala aqui, o projeto de individuação apresentado por Jung, em centenas de escritos, é muito mais complexo e tem o objetivo de lançar luz sobre a escuridão da vida psicológica, além de integrar as várias polaridades e tensões que nela se encontram. Em termos bem mais simples, trata-se de um projeto voltado para o despertar e o desenvolvimento da consciência. A implicação aqui, é estabelecer uma relação consciente com os vários aspectos da personalidade, não por meio de uma identificação ainda maior com as características mais evidentes, como Buber gostaria, mas mantendo todas elas na consciência, o máximo possível, precisamente sem essa identificação. Na verdade, o projeto segue exatamente na direção oposta ao que Buber entende por individuação na passagem citada acima."
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Não pense em 'individuação' como 'singularidade', 'destaque', ou como algo que é 'diferente', 'único', 'especial'. Não se trata de uma relação do indivíduo com o coletivo, e as características que o distinguem dele (apesar disso fazer parte do processo). O conceito está mais relacionado à 'indivisível', à 'atômico'. Seria o processo de iluminação daS polaridades (separatio) e síntese de Um todo (coniunctio). A criação de um novo nível de consciência que transcende o jogo de luz e sombra anterior. Nele, não há apego ou identificação a uma 'personalidade' ou 'individualidade'.
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Espero ter ajudado.