Gu Henri 11/02/2018
Luta de CLASSES
Creio que eu não deva escrever tudo que deveria, até porque seria um grande tratato político se o fosse fazer.
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Germinal nos mostra não a dura vida de mineiros e/ou o surgimento de movimentos sindicalistas no século XIX, como em muitos lugares li, mas a mais crua, cruel e explícita luta de classes, é em torno disso que a obra gira.
Nota-se no começo um clima pós-apocalíptico, e um dos primeiros personagens a parecer se chama Boa-Morte, em meio a escuridão em seu velho cavalo... Prepara-se, pois, toda a crueza deste começo magistral irá se acentuar nas páginas seguintes, respire fundo e tente, se puder, manter o fôlego.
Zola nos afunda nos abismos do sofrimento, das paixões, das esperanças. Ao nos jogar no fundo de uma mina por um longo período (mesmo que pouco em páginas, a emoção é muita) é ali onde há um dos momentos mais extenuantes de nossas esperanças... sofre-se! Mas lá ainda resta uma gota de esperança... há uma grande catarse neste romance. Digno de situar-se entre os grandes clássicos da literatura.
Etienne Lantier é o humano que rompe com o triste destino de resignado. Talvez o ideal de que deva ser um socialista, como Zola propôs, ele não é como a massa ignata e raivosa. Ele é aquele que ama a humanidade, por isso se transforma. Não é o ódio aos burgueses, nem aos homens, é o dever para com a humanidade. É o conhecimento do sofrimento, do amor, da esperança. Isto é o que o move, o que o motiva. Não há ódio nele, como bem podemos comprovar inúmeras vezes. Ele repudia da violência, ela não é o caminho, pois, a massa, o exército, os burgueses quando dela fazem seu uso, não agem pela humanidade, mas pelo medo, pela obediência, pelas paixões, pela ignorância, pela irracionalidade de não entender as coisas.
Ao longo do romance Etienne transforma-se em um ser que não se resigna, que não está acabado, mas que se dá ele mesmo seu destino com sua instrução. A luta de classes há de terminar, pois é irracional, é avesso aos ideiais humanistas. Não é somente culpa dos burgueses, como bem diz ao final a mulher de Maheu "Culpa de todos."
O romance narra a dura vida dos mineiros durante uma crise na indústria do carvão. A crise é a própria consequência do sistema capitalista, são crises ciclícas, vão e voltam, dando sempre sofrimento aos homens. Até mesmo burgueses sofrem, e diferentemente dos miseráveis, eles não se preocupam com o que vão comer, a fome não os espreita cotidianamente, vivem suas vidas de total falta de sentido humano. Desprezam aqueles que lhes dão tudo o que tem, toda a abundância de que gozam é feita com a miséria de muitos. E também sofem quando os negócios não vão bem, Germinal também relata que os capitalistas comem a si próprios. Os maiores abocanhando os menores. E aí denuncia outra contradição do sistema: os monopólios.
Zola denuncia que todas as classes tem sua parcela de culpa, cabe aos que se indignam com a situação deste sofrimento que a luta de classes causa de mudar o mundo. É o curso natural da sociedade. O bem estar geral. Para tanto, cita-se até mesmo Darwin, onde a evolução mantém-se presente no enredo nas cabeças de certas personagens.
Ao final ainda há a grande esperança, não esqueçamos que os franceses sabem o que significa revolução; se houve uma, haverá outras, cedo ou tarde. E é esse o rumo da sociedade humana. A extinção da distinção entre as classes. Não mais sofimento para os homens. Um mundo novo. Germinará daqueles que sofrem, mas também daqueles que sabem deste sofrimento e querem extingui-lo.