Lauraa Machado 03/05/2021
Bom, mas mal desenvolvido e com vários furos
Por tudo que eu via falarem sobre esse livro, já tinha decidido que só leria este e não continuaria com a trilogia, ainda que amasse a história e os personagens. Depois de terminar esse, posso falar tranquilamente que não vou continuar mesmo, porque nem cheguei a gostar o suficiente para querer.
Confesso que na primeira metade do livro, eu estava me divertindo bastante. Eu ria com algumas coisas e estava interessada em ver como tudo se desenrolaria. Mas desde o começo teve uma coisa que me incomodou bastante. A Harper é descrita pelos personagens várias e várias vezes como "diferente das outras garotas". Primeiro, isso é insuportável, é machista e cria uma competição desnecessária e tóxica entre Harper e todas as outras garotas da história. Segundo, é um péssimo jeito de começar uma relação e um interesse da parte do Rhen, porque ele mesmo deve ser muito machista para vê-la assim, para ficar comparando ela com as outras e ter dispensado todas as centenas, centenas!, de garotas que vieram antes tão fácil assim, garotas aliás que ele tinha sequestrado e que não tinha o menor direito de julgar. E, por último, é completamente impossível que de centenas (já falei cen-te-nas) de garotas que vieram antes, nenhuma tentou se defender e fugir do seu cativeiro, nenhuma brigou com ele ou reclamou de estar ali. Que tipo de imagem a autora tem das mulheres do mundo para achar que todas as outras estariam super de boa por terem sido sequestradas e só a especial e incrível Harper ficaria incomodada?
Além disso, acho que o livro não conseguiu transmitir a essência da Bela e a Fera. Esse é o filme da Disney que eu mais assisti e reassisti na vida. Eu amava ver um príncipe superficial se tornar uma pessoa melhor, ver o crescimento dele como personagem durante a história. O Rhen, infelizmente, não me conquistou em nada. Nada contra ele, na verdade, só não consegui achar sua personalidade interessante ou cativante. Para mim, ele começou e terminou do mesmo jeito e ele ser obrigado a ter alguém a cada estação tirou a graça do romance, já que se tornou o objetivo dele e ele se interessou pela Harper de cara.
O romance foi a parte que mais me decepcionou, porque não foi algo que cresceu devagar, não teve aquela lição de bondade e gentileza da parte da Harper para o Rhen, como é na Bela e a Fera. No máximo, a única coisa que tem a ver é ele se transformar em uma "besta", mas até isso não foi feito direito. Se a parte da Fera era se tornar uma pessoa melhor, a da Bela era se apaixonar pela pessoa que a Fera era independente de sua aparência. Fazer um romance em que o príncipe é lindo e carismático é fácil, sabe? Ele só se transformar depois para mim foi uma espécie de trapaça.
Um dos favoritos no livro é o Grey, o capitão da guarda real, mas ele não chegou nem perto de me conquistar. Achei ele okay só. Ele pareceu ter mais potencial do que foi aproveitado na história, mas confesso que ficou bem ofuscado para mim e eu nunca consegui entender por que o Rhen tinha ciúme dele, quando ele nunca me pareceu ter química com a Harper ou ser uma opção.
Sobre a Harper, ela realmente seria uma personagem muito interessante se não fosse toda a atitude de "diferente das outras garotas". Ela também tem umas atitudes que deixam a impressão de que ela achava que é a única pessoa que presta naquele reino, o que é presunçoso demais da parte de uma garota que acabou de chegar ali e nem sabe como as coisas funcionam. Mas pelo menos isso é abordado e ela melhora durante a história, além de que ela tem atitude e isso é sempre importante. Gostei principalmente da relação dela com seu irmão e do namorado dele, que deixaram a história mais interessante lá para o final.
O final é realmente bacana e tem um gancho legal para o próximo, mas eu já tinha perdido o interesse no resto do livro antes de chegar nele, infelizmente. Acho que comecei a me desconectar com a história quando o foco passou a ser Emberfall, talvez por ter se tornado quase um livro de fantasia genérico nessa parte, mas provavelmente porque quanto mais a maldição e a situação eram abordadas, mais furos apareciam. Toda a questão da administração do reino não fez sentido. Uma corte é formada de mais do que só a família real, mas de várias famílias da nobreza também. E os criados? E todas as outras pessoas que conheciam quem estava no castelo e na corte e que não moravam lá? Ninguém falou nada em todas as centenas de estações que se passaram? Ninguém foi investigar o que estava acontecendo? Uma coisa é o rei não ser visto por todo esse tempo, outra é nenhuma das pessoas que trabalhavam no castelo terem sido vistas ou darem notícia e ninguém nem poder ir lá nesse tempo.
Tem outros furos também em relação aos outros países, o fato de que parece que todos os conflitos ficaram em espera durante as centenas de estações, só esperando a Harper estar presente para importarem. Além de que todas essas mulheres desaparecerem do nosso mundo não ter chamado a atenção de nenhuma notícia, nem para ser minimamente mencionada na história. Além disso, as motivações da feiticeira que criou a maldição foram muito fracas e ela só apareceu para "tacar o terror" gratuitamente.
Não são só esses furos, foram várias e várias coisas que não pareciam fazer sentido, mas que aconteciam rápido e de uma vez, então nem dava tempo de questionar. O fato é que o livro é bem escrito, bem descrito, mas a base da criação desse universo, do país e da maldição foi fraca demais para passar credibilidade. Se a autora tivesse compensado com um romance apaixonante ou qualquer coisa assim, quem sabe eu tivesse gostado mais, mas o livro acabou deixando a desejar nesse quesito também.
Não é um livro ruim, juro, mas você tem que estar bem aberto a ignorar os furos e só aceitar as coisas como são ditas e apresentadas sem questionar nada, ou vai ser difícil acreditar na história e em seu desenvolvimento. Por sorte, não me deu vontade de ler o resto da trilogia, que já vi tanta gente dizendo ser decepcionante.