Helder 24/02/2022Indigesta e necessária aula de históriaVolta ao mundo – 8º País : Argélia, local onde se passa a obra
O livro A tortura de Henri Alleg foi lançado pela 1ª vez em 1958 e segue sendo editado por lá até hoje. Aqui no Brasil foi reeditado em 2020 pela Editora Todavia.
É um livro curto, na verdade é quase um documento histórico, escrito por um homem chamado Henri Alleg, um jornalista franco argelino que foi preso e torturado na Argélia num período bem turbulento neste país.
O livro é curto, na verdade um relato que o autor escreveu a pedido de seu advogado e onde ele não nos poupa de nenhum detalhe de todas as atrocidades que sofreu quando foi preso acusado de subversão.
Torturas físicas e psicológicas, com choques, queimaduras, drogas etc.
O livro tem cenas tão fortes que as vezes me perguntei para que aquilo foi escrito, mas ao final a edição da Todavia traz um posfácio explicando o período histórico onde aquilo aconteceu e aí sim o livro se torna extremamente importante e necessário, principalmente em tempos de retrocesso civilizatório onde encontramos pessoas defendendo militarismo, ditaduras e terras planas.
O que achei mais interessante deste livro é que estamos acostumados a ouvir / ler histórias sobre ditadores latino-americanos e africanos, que mandam matar aqueles que são contra seus regimes.
Porém aqui os torturadores eram militares do exército francês, nomeados pelo governo da França da época que não aceitava as tentativas de independência da Argélia.
Ficam aí dois pontos extremamente curiosos e cruéis, que a meu ver tornam esta leitura um sinal de que o homem não aprende com seus erros.
O primeiro ponto que vale lembrar era que Henri Alleg era francês. Ela nasceu na Inglaterra, mas passou toda sua juventude em Paris, de onde saiu aos 18 anos para ir morar na Argélia, onde acabou montando um importante jornal, mas que acreditava em ideais comunistas, o que o fez ser preso e torturado, já que escrevia coisas contra o governo francês em seu jornal. Ele não era um argelino se revoltando contra seu colonizador. Ele conhecia todas as benesses de ser um colonizador, porém mesmo assim não concordava com aquilo.
O segundo ponto que acho mais cruel e triste, é pensar que todas estas torturas foram feitas por franceses somente 12 anos após terem sofrido o mesmo nas mãos dos nazistas durante a 2ª guerra mundial. Como é fácil mudar de atitude quando você está do lado do poder, certo??
Sendo assim, ler A Tortura foi para mim uma pesada e indigesta aula de história, mas que valeu muito a pena.
Para isso precisamos da literatura!