Carolina 13/06/2020
Quase sem palavras.
"A estrada para o inferno está pavimentada de boas intenções. Andando por ela, vi um homem pálido. e ele sorriu para mim..."
Está bem. Eu quero fazer uma resenha que consiga mostrar o quanto eu amei essa HQ. Essa é uma HQ de Stjepan Šejić, o mesmo criador de Sunstone, que já postei aqui. Mas nessa HQ, acho que ele se supera.
"Deus, me ajude... Uma pequena parte de mim... quer deixá-lo entrar".
Eu sempre fui fascinada pela história da Harley Quinn. Não porque acho que o relacionamento dela com o Coringa seja algo invejável, mas porque ela é uma personagem que sofreu muito dentro de um relacionamento abusivo e conseguiu sair dele. Por isso, acho que é uma história que precisa ser contada com muito cuidado, sem glorificar a figura do Coringa, mas também mostrando como uma mulher bonita e inteligente como a doutora Harleen Quinzel largou absolutamente tudo por um homem como ele.
A Harleen queria mudar o mundo. Acreditava que as doenças mentais são um mecanismo de defesa. E quando ela é financiada pelo próprio Bruce Wayne para continuar sua pesquisa no manicômio de Arkham, ela nem pensa duas vezes. Entretanto, ela já tinha visto o Coringa, ele já tinha apontado uma arma para a cara dela enquanto aterrorizava as ruas de Gotham, e ela também viu quando o Batman o prendeu e a multidão clamou por sangue, como chacais.
Porque, meus amigos, nas palavras do próprio Coringa, "Gotham está cheia de gente assim. Mãos tremendo enquanto sonham com violência, tremendo de raiva reprimida, transbordando de justa indignação. Sorrindo educadamente enquanto imaginam coisas selvagens. Cada uma delas uma bomba que precisa de apenas uma faísca para explodir."
E isso tudo me fez pensar no que vivemos atualmente, de pessoas explodindo, clamando pelo sangue umas das outras, negando direitos humanos, bebendo da violência... e gostando.
Outra coisa que essa HQ fez muito bem foi mostrar o quanto o Coringa é carismático. Stjepan Šejić desenha muito bem expressões e olhares, e o olhar dele atravessa a página e chega até o leitor. Nos questiona se não faríamos a mesma coisa, se não nos sentiríamos seduzidos. E eu sei a resposta para mim, porque me vi caindo na espiral da loucura junto com a Harleen, pouco a pouco, vendo o Coringa virar o jogo, assumir o controle, nos seduzir. Porque vi muito de mim na Harleen. Alguém com poucos amigos, fechada, altruísta, muitas vezes ingênua. E ela acha genuinamente que pode salvá-lo, mas nas palavras de Nietzsche, "Quando se olha muito tempo para um abismo...", e nas palavras da própria Harleen, "Havia um homem quebrado dentro do abismo. Eu estendi a mão para ajudá-lo. Percebi, tarde demais, que ele não estava escorregando... ele estava me puxando".
E é isso que essa HQ faz. Nos puxa para o abismo onde a Dra. Harleen Quinzel ficará presa por muitos anos e passará a ser conhecida como Harley Quinn. E sabemos que ela, um dia, sai desse abismo. Mas essa, infelizmente, não é a história de como ela saiu, mas de como ela chegou lá.