A Aventura da Reportagem

A Aventura da Reportagem Ricardo Kotscho
Gilberto Dimenstein




Resenhas - A Aventura da Reportagem


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Rafael Iglesias 01/11/2012

Repórteres são idiotas
Se o jornalista perder a capacidade de sonhar e ser um agente da utopia, é melhor mudar de ramo, segundo Ricardo Kotscho, o repórter do pipoqueiro. Com Gilberto Dimenstein, em 1990, publicou “A Aventura da Reportagem”.

Dividida em duas partes, a obra se compromete a demonstrar que por trás do talento individual de cada jornalista podem existir princípios e técnicas que permitem chegar à “melhor versão da verdade”, em expressão utilizada por Carl Bernstein. Este, com Bob Woodward, ficou conhecido por “desvendar” o caso Watergate, que causou a renúncia do presidente dos Estados Unidos Richard Nixon em 1974.

A maioria dos assuntos é tratada de maneira superficial, dado o tamanho do livro – 99 páginas – em relação ao tempo abordado: desde antes da Ditadura Militar (que durou de1964 a 1985) até pouco depois da campanha eleitoral de 1989, entre o vencedor Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, que foi assessorado por Kotscho à ocasião e futuramente seria eleito presidente do Brasil.

Nas primeiras páginas, a apresentação é de Clóvis Rossi (várias vezes lembrado no livro como ex-jogador de basquete), que afirma que os repórteres são seres idiotas, mas às vezes conseguem até ser felizes na sua estranha maneira de viver a vida. Mais do que idiota, um dos autores ressalta que o repórter é como um goleiro: “se não tiver sorte, dança”.

Apesar de ter sido publicado há 22 anos, a temática é atual, dados os grandes problemas políticos e os de violência, como Kotscho, por exemplo, conta em suas últimas páginas, com o título de “A agonia dos sem-terra”.

Contando “As Armadilhas do Poder”, Dimenstein usa de sua experiência em Brasília para dar uma pequena aula, principalmente aos focas (iniciantes no jornalismo), de como é a malícia no relacionamento promíscuo entre jornalistas e representantes do poder. “Quando o poder e a imprensa se dão muito bem, o leitor se dá mal.”

A publicação mostra também de como é difícil o relacionamento entre os próprios governantes. “Os repórteres ficam atentos para saber quem está brigando com quem, a fim de obter inconfidências ou documentos.” Com isso, aumenta a necessidade da checagem de informações, porque em todas as matérias o denunciante tem os motivos desconhecidos para acusar: as fontes podem ser pessoas com interesses contrariados.

“No olho da rua”, Ricardo Kotscho revela como entrou na profissão: de jornaleiro a jornalista. A maior lembrança, entretanto, é a do estilo por que ficou conhecido: “Enquanto todos cobriam o palco, eu ficava pela plateia, dando uma espiada nos bastidores”.

Curiosidade e simplicidade definem o tipo de reportagem de Kotscho, que com as chamadas “amenidades” acaba chocando muito mais do que muitos grandes escândalos, os quais o leitor não compreende as raízes. “Se eu não entendo, o leitor também não vai entender.”

A obra é composta por um texto simpático e com grande quantidade de conteúdo em suas poucas páginas, contudo apenas fomenta o interessado a procurar saber mais sobre os assuntos abordados, que não são aprofundados em sua grande maioria. Ainda assim, o livro permite que o leitor tenha uma visão do empregado (jornalista) e não do patrão (jornal).

OS AUTORES

Gilberto Dimenstein é membro do conselho editorial da Folha de São Paulo; no mesmo jornal, foi diretor da sucursal de Brasília. Além disso, assina coluna na Folha.com. Escreveu livros como “A República dos Padrinhos” e a “A Guerra dos Meninos”. Ganhou dois prêmios Esso e dois Líbero Badaró de Imprensa.

Ricardo Kotscho, ganhador de três prêmios Esso e dois Vladimir Herzog, entre outras obras, já publicou “O Massacre dos Posseiros” e “Explode um Novo Brasil”. O jornalista é do conselho editorial da revista Brasileiros, de que também é repórter especial, comentarista da Record News e blogueiro no Balaio do Kotscho, hospedado no R7.

A AVENTURA DA REPORTAGEM

Autores: Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho
Editora: Summus
Valor: R$ 30, em média (99 páginas)
Avaliação: regular

Do blog Reticência Jornalística:
http://reticenciajornalistica.wordpress.com/2012/03/20/reporteres-sao-idiotas/
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Paty 19/10/2013

Recomendadíssimo para estudantes de jornalismo e curiosos
O livro “A Aventura da Reportagem” é dividido em duas partes contando as experiências profissionais dos jornalistas Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho. A apresentação é de Clóvis Rossi e não poderia ter ficado melhor – com um tom de seriedade e ao mesmo tempo de humor.
A primeira parte é escrito por Dimenstein contando suas experiências no ambiente de política e disputas partidárias. Com suas experiências, ele aponta as várias condições e situações que todo repórter enfrente durante sua apuração. Todos os pontos estão subdivididos em tópicos.
A primeira lição apresentada por Gilberto Dimenstein é o off “a responsabilidade do off é de quem publica, não de quem produz informação falsa”. Depois o jornalista fala das armadilhas que existem. Mas comum na área da política. Entre os vários tópicos apresentados por ele, além das já apresentadas anteriormente são “fontismo” falando das fontes; “versões” onde ele deixa um ditado comum entre os políticos: “Em política, o que vale é a versão e não fatos”, mostrando que a veracidade no mundo da política é uma questão incerta.
Um outro tópico interessante é “deslizes” onde ele fala da apuração, os boatos e etc e diz que “a vítima foi parte da imprensa, que confiou demais e checou de menos”. Além de alertar para os boatos e falta de checagem, ele alerta para as mentiras e fofocas.
Um dos tópicos mais interessantes de Gilberto Dimenstein é “investigação”. Neste tópico ele conta que a falta de fontes para denunciar alguma falcatrua faz o repórter começar uma investigação.
A segunda parte do livro é escrita por Ricardo Kotscho. O perfil dele é diferente de Gilberto Dimenstein em política. Como fala Clóvis Rossi na apresentação do livro, Ricardo Kotscho “especializou-se em contar histórias dos anônimos, das pessoas e dos lugares que raramente entram nos jornais, rádios e televisões”.
A vantagem do jornalista Kotscho é que ele veio de uma família alemã. Com a dominação da língua alemã, Kotscho conseguiu, além de traduzir notícias, fazer matéria fora do país e assim, conseguir alguns furos de reportagens e escrever matérias diferenciadas.
Desde sempre Ricardo Kotscho gostava de ler jornais. Ao se tornar jornalista, aguçou sua percepção. Diferente de outros repórteres, Ricardo tinha um olhar incomum – “Meio por necessidade de fazer algo diferente, meio por sacação, já que a imprensa sempre se ocupava dos mesmos personagens, civis ou militares, oficiais sempre, fui falar com o povo”.
Assim, o jornalista foi conseguindo matérias e informações por meio de sua “sacação”. Essa foi a melhor lição na história de Kotscho – jornalista tem que ter percepção, agir além daquilo que é mandado fazer.
É possível observar que o livro “A Aventura da Reportagem” escrito por Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho traz várias lições de experiências para o jovem estudante de jornalismo ou o jovem repórter. É uma leitura simples com uma narrativa tranquila e, ao mesmo tempo que ela é divertida, ela consegue passar muitos aprendizados.
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danton k 25/02/2012

Recomendo não só para os focas, mas também para que os jornalistas veteranos redescubram o prazer da grande reportagem - principalmente pela parte do Kotscho -, que afinal é jornalismo em sua essência. E o prefácio do Clóvis Rossi é maravilhoso.
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