spoiler visualizarBrujo 13/05/2021
" Todos vocês estão mortos, eu tenho vida "
Terminei este livro há 3 dias e confesso que estou embasbacado até agora. Essa foi uma das leituras mais psicodélicas que já tive o prazer de conhecer, que explosão de criatividade!!!
Basicamente a premissa é a seguinte: no ano 1992, o mundo está repleto de pessoas com diversos dons fantásticos como telepatia, precognição e etc, a ponto de haverem empresas chamadas de organizações de prudência, especializadas em combater e neutralizar a espionagem protagonizada por esses seres. Uma das mais proeminentes destas organizações, a Runciter e Associados, é pega em uma armadilha engendrada por uma organização rival em um trabalho fora do planeta, que acaba resultando na morte de Glen Runciter, líder da organização. A partir daí, o grupo que havia embarcado neste trabalho se vê envolvido numa espiral de acontecimentos bizarros e psicodélicos que os fazem questionar profundamente a realidade dali em diante.
O livro é fascinante e em apenas 242 páginas cria um universo riquíssimo, construído com conceitos como a meia vida (onde os mortos são mantidos em estado de criogenia que permite a comunicação com seus entes queridos e que nos faz pensar na vida após a morte) e um mundo repleto de tecnologia que te cobra para a realização das ações mais banais, apenas para citar alguns exemplos.
Joe Chip, o protagonista da história, carrega fortes traços da biografia do autor e é o típico protagonista de obras cyberpunk: é desajustado, tem diversos problemas financeiros e faz uso de drogas.
E Ubik... O que é Ubik ? Bom, PKD não te responde essa pergunta, mas eu tenho uma teoria: a substância é uma alusão a Deus (sem religião específica). A começar pelo nome, derivado de ubiquidade, que é o dom divino de estar em todos os lugares, omnipresença. Além disso, cada capítulo do livro abre com uma propaganda dos mais diversos produtos, reforçando a idéia de que Ubik está em tudo ( e talvez uma crítica à monetização do conceito de divindades ? ) e, principalmente, pela propaganda do último capítulo: " Eu sou Ubik. Antes que o universo fosse, eu sou. Eu fiz os sóis. Eu fiz os mundos. Eu criei as vidas e os lugares que elas habitam. Eu as transfiro para cá, eu as ponho ali. Elas seguem minhas ordens, fazem o que eu mando. Eu sou o verbo e meu nome nunca é dito, o nome que ninguém conhece. Eu sou chamado de Ubik, mas este não é meu nome. Eu sou. Eu sempre serei." ( Me deu um arrepio aqui só de lembrar desse trecho ).
Por último, o final: que final!!!! Li que algumas pessoas se incomodaram por ele ser maluco e aberto, mas eu também tenho uma teoria para isso: a cena final de Runciter no moratório se deparando com o dinheiro com o rosto de Joe Chip ( arrepios aqui novamente! ) se passa num futuro e ele está em meia vida, tendo Joe Chip a lhe ajudar, assim como Ella Runciter fez com ele mesmo. Eu tenho certeza disso? Absolutamente não!! PKD não escreveu esse livro para que nós leitores tenhamos certeza de nada, mas sim para que questionassemos a realidade, assim como ele mesmo fez em vida !! Obrigado Philip Kindred Dick, por me fazer questionar um pouco da realidade pela sua ótica !!!!!