Alle_Marques 30/12/2022
“Um homem de bom senso conhece os seus limites.”
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[...] O peixe estava ao lado da mulher, distante cerca de doze metros dela, quando de repente virou-se para a esquerda, afundou na água por completo e, com duas rápidas arremetidas da cauda, estava sobre ela.
A princípio a mulher achou que tinha machucado a perna numa pedra ou num pedaço de madeira. Não sentia dor, apenas um puxão violento na perna direita. Tentou alcançar seu pé direito, boiando com a perna esquerda para manter a cabeça acima d’água. Ela não conseguiu encontrar seu pé. Buscou sua perna mais acima, então foi tomada por náuseas e tontura. Seus dedos tatearam uma ponta de osso e a carne dilacerada. Ela sabia que o fluxo quente e pulsante que passava pelos seus dedos na água fria era o próprio sangue. [...]
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É tão diferente do filme quanto eu imaginei que seria, mas está longe de ser ruim por causa disso, ambas são obras a parte e devem ser analisadas dessa forma, então, enquanto no filme do Steven Spielberg – ótimo filme, aliás – a trama era mais centrada na ação, mais focada, direta e objetiva, além de também trabalhar a tensão através dos filhos do protagonista, coisa que não acontece na obra, o livro vai um pouco mais além, mas isso nem sempre de maneira positiva, infelizmente.
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“Uma das poucas vantagens que o homem tem sobre os outros animais é a possibilidade de escolher como vai morrer.”
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É um livro fácil de ler, bem escrito e imersivo, os personagens são bem construídos, bem desenvolvido e realistas na medida certa, o cenário, por sua vez, é quase um personagem a parte, porém onde peca mesmo é na história, mais especificamente, no excesso de tramas secundarias e o grande destaque que elas recebem em comparação ao que deveria ser o foco do livro, há muitos elementos ali e a maioria deles não casam bem com a trama principal, além de não convencerem, fora que, muitas dessas tramas não influenciam tanto assim no desfecho final, ou seja, aparentemente elas servem apenas para tornar a obra mais parruda, uma tentativa de torná-la mais complexa do que ela realmente precisava ser, isso prejudica o desenrolar da história, sua imersão e essência, além disso, tem algumas passagem e trechos bem problemáticos presentes na obra e, no geral, o livro é um desserviço para os tubarões e não ajudar em praticamente nada a fama deles – o filme também não colabora –, é cheio de medo, estereótipos e, para piorar tudo, um clima quase maligno e sobrenatural no ar toda vez que o protagonista título – sim, protagonista – aparece, não foi à toa que o autor passou tanto tempo de sua vida tentando recuperar o estrago que havia ajudado a fazer na vida desses animais.
Apesar disso, o livro ganha destaque, se torna memorável e se garante por outros métodos, como: as cenas no barco, todas elas sempre carregadas de tensão, hostilidade e receios; as descrições do tubarão, suas aparições e seus “pontos de vista”, o que consegue ser aterrorizante, frio e inconsciente ao mesmo tempo; o realismo de seus ataques e do que sobra das vítimas, nisso não deixa nenhum pouco a desejar, é sangrento, cru e visceral, tanto quanto uma obra desse nível exige que seja e, é claro, a atmosfera carregada e hostil presente na obra do início ao fim e a sensação constante de que algo, outro ataque talvez, está por vir, nisso tudo a obra mostra a que veio e deixa claro que não conquistou a fama que tem fazendo qualquer coisa – embora seja obvio que o filme tenha ajudado um pouco essa fama.
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[...] “Suponha que a gente caia no mar com esse peixe. Tem algo que se possa fazer?”
“Claro. Rezar. Seria como cair de um avião sem paraquedas e esperasse aterrissar num monte de feno. A única coisa que te salvaria seria Deus. Uma vez que foi Ele que te empurrou pra fora, eu não daria um tostão furado pelas suas chances.” [...]
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26° de 2022
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