Aldemir2 27/07/2022
Olha a onda, olha a onda
Antes de começar a ler esse livro eu já sabia ele seria bem diferente do clássico que é o filme do Spielberg, mas não esperava que se distanciasse tanto assim da procura pelo tubarão. Do livro se fala bastante da presença da máfia e dos assuntos paralelos ao tubarão, mas eu não recebi nem o que eu esperava do tubarão nem da máfia e só passei raiva.
*Tubarão* foi lançado originalmente em 1974 por Peter Benchley, que desde sempre tinha fascínio pelo animal do título, e com a ajuda da editora logo se tornou um grande sucesso, ganhando já no ano seguinte a sua adaptação. A narrativa segue a pequena cidade de Amity sendo assolada pelos ataques de um tubarão branco que não deveria estar naquela região, o protagonista é o chefe de polícia da cidade, Martin Brody, que irá caçar o animal com a ajuda de um especialista em tubarões, Matt Hooper, e um pescador, Quin. O livro é dividido em três partes, na primeira a cidade é apresentada e os ataques acontecem, já a segunda parte é focada nos problemas conjugais de Martin e sua esposa, e por fim a terceira narra a caçada pelo tubarão. A subtrama das turbulências do casamento de Martin e Ellen é totalmente apagado do livro (e ainda bem), mas no livro é uma parte muito importante da história, mesmo que não necessária. Matt é um antigo conhecido de Ellen e ao se reencontrarem ela se lembra do seu passado, de como ela era bem relacionada com as pessoas da cidade e sente falta disso, do status social em que se encontrava e agora não conhece mais. Então vai se criando uma tensão sexual (do nada, do absoluto nada) entre Ellen e Matt até culminar na traição de Ellen e numa cena muito bizarra em um restaurante onde Matt pergunta das fantasias dela e a resposta é que ela tem fantasia de ser estuprada. Como um livro da década de 1970 escrito por um homem branco e hétero, não me surpreendi nem um pouco com o quão datado vários aspectos dessa história é, em questões de gênero, raciais e de orientação sexual, causando até um certo incômodo em várias partes. Além disso, ao final de alguns capítulos há algumas cenas em que é mostrada a vida de alguns moradores da cidade, mas são cenas que não tem a menor importância nem adicionam algo na história, algumas partes eu nem entendi o que realmente estava acontecendo. Muito se fala da presença da máfia na história e como ela interfere na política da cidade, mas eu esperava que ela fosse bem mais presente e não só no subtexto de um personagem secundário da história.
Não foi um livro que eu tenha gostado de ler, além dos problemas já citados há ainda uma lentidão na leitura que não me agradou e pareceu mais truncada. No entanto, o autor sabe muito bem como criar uma tensão colocando a cena do ataque no ponto de vista do tubarão, com cenas bem detalhadas e extremamente sangrentas, isso é um grande destaque para mim (e acho que o único). Não é um livro que eu recomendaria muito para quem quer ler algo do tipo, recomendaria mais o filme que, diga-se de passagem, é bem legal.