baunilha 28/02/2011Necrópolis tem uma narrativa bem dividida, porém não estanque. Narrada em terceira pessoa, a história conta como Verne Vipero atravessa um portal para Necrópolis, um dos três mundos do Moabite, o sétimo dos Oito Círculos do Universo para encontrar e salvar seu irmão.
A primeira das três partes dá conta da relação de Verne com o irmão Victor e situa o leitor no mundo em que eles vivem que nada mais é que o nosso mundo, com algumas peculiaridades como a existência de criaturas como os AIs ou “Amigos Imaginários” que acompanham as crianças e jovens até certa idade, mais ou menos como um grilo falante do Pinóquio.
As duas partes seguintes já acontecem em Necrópolis, com Verne buscando não apenas ao irmão, mas também o “pagamento” para aquele que o proporcionou esta viagem fantástica. Nessa aventura Verne conhece a bela Mercenária Karolina, o veloz Ladrão Simas e o simpático Ícaro, um corujeiro que é prisioneiro da Mercenária, além de outras figuras tão fantásticas quanto. Verne passa por grandes provações, traições e demonstrações de amizade.
Em alguns momentos achei que a história se arrastava um pouco pelo excesso de descrições e acontecimentos que levavam, a meu ver, a lugar nenhum na história. Mas então eu me dava conta de que esse era um livro de fantasia e diferente de outros gêneros que nos perguntamos “por que?”, em fantasia a pergunta correta seria “por que não?”. Se outras possibilidades e histórias podem ser criadas e exploradas, por que não contá-las? Se não fizerem diferença na espinha dorsal da história, ao menos servem de entretenimento. E o que é um livro de fantasia além de puro entretenimento?
O grande problema com este livro é ter uma parte boa demais: o prólogo. Necrópolis começa com um dos melhores prólogos que já li. Tem começo, meio e fim e mais se assemelha a um conto sobre exorcismo. O prólogo me comprou, me fez passar o livro na frente de vários outros e talvez isso tenha prejudicado um pouco as minhas expectativas em relação a história porque passei quase toda a leitura tentando descobrir onde aquele exorcismo se encaixaria.
Em determinados momentos cheguei a desconfiar que ele realmente tivesse ligação com algo na narrativa de Necrópolis e acredite, ele tem. Embora encaixe-se perfeitamente, achei que o prólogo foi mal aproveitado no contexto geral. A ligação entre ele e o todo é mencionada muito rapidamente, explicando de forma superficial as razões do “vilão”.
Além disso, achei que duas perguntas ficaram sem resposta, sendo uma delas a própria busca de Verne que considerei despropositada. A outra fica por conta das razões do vilão para fazer o que faz – que obviamente, se eu explicar mais aqui, a leitura do livro perde o sentido.
O final do livro deixa a entender que haverá uma continuação – embora o próprio autor já tenha afirmado isso – apesar de terminar não exatamente com um cliffhanger, que só acontece, na verdade, no epílogo.
No geral este foi um livro que me encantou por duas razões: o prólogo, como já falei e pela diversidade de criaturas. Além de algumas que já fazem parte de nosso imaginário como zumbis e vampiros – que são até bem pouco explorados – o Douglas criou outras criaturas como corujeiros, equinotrotos e o Planador Escarlate que é parte máquina e parte ser vivo.