Resenhas - A Religiosa

Pseudokane3 16/04/2011

'Ipsis literis' de mim mesmo:
Precisei ler o livro de forma vagarosa, temendo - e, ao mesmo tempo, sendo incapaz de evitar - uma profunda identificação psicológica com a magnífica protagonista. Telefonei a um amigo que agora vive em Goiânia – GO, e disse-lhe que estou a ler o tal livro, que ele me dera de presente antes de viajar. Confirmei-lhe que, dado o extremo sadismo dos personagens e a possível identificação que travaria com algumas situações envolvendo a protagonista, que é lançada contra a sua vontade num convento, tentaria consumir as páginas do livro com um rigor literário atroz, a fim de não ser pessoalmente atingido por toda a dramaticidade contida na obra, mais tarde convertida num filme apócrifo, o qual só verei quando terminar a dolorosa leitura. Creio, porém, que me seja tarde para evitar identificação: já sinto os horrores vivenciados pela irmã Maria Susana como se fossem meus, aquilo me dói na alma: sou religioso, hipocrisias e injustiças institucionais me afetam intimamente. Não posso evitar!

Enquanto sigo adiante nesta trama de extrema penúria imposta sobre a sina de uma mulher injustiçada desde o nascimento, por ser a prova viva de que sua mãe fora adúltera ao menos uma vez, anseio pela oportunidade ideal de assistir à versão fílmica de Jacques Rivette, realizada em 1966 e coberta de polêmica desde o seu lançamento, visto que fora proibida por autoridades francesas e defendida até as raias do extremismo político benfazejo pelos partícipes da revista Cahiers Du Cinèma, numa cadeia de eventos revoltosos que engendrou as manifestações universitárias que sacudiram o mundo em maio de 1968. A musa da ‘nouvelle vague’ Anna Karina interpreta o papel principal. Já até imagino o que me espera... Eis um livro que dói!

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