Ludmilla Silva 08/02/2021"Part of being a Jedi is trusting in the Force even when it's difficult"‘A Test of Courage’ é o segundo livro da iniciativa multimídia Disney/Lucasfilm mais conhecida como ‘The High Republic’. A Test of Courage se passa logo após o Grande Desastre apresentado em ‘Light of the Jedi’ e antes da inauguração do Farol Starlight no final deste mesmo livro, isto é, os acontecimentos deste livro se passam – em grande parte – ao mesmo tempo que o primeiro livro. Aqui acompanharemos a recém nomeada Cavaleira Jedi Vernestra Rwoh acompanhar uma delegação diplomática até o Farol Starlight. Tudo começa após uma sabotagem dos Nihil na nave da República, a Steady Wing. Tal acontecimento, que resulta na explosão da nave e na morte de centenas de pessoas, obriga Vernestra, o padawan Imri Cantaros e os filhos de senadores Avon Starros e Honesty Weft a procurarem abrigo em um planeta desconhecido até a ajuda chegar.
Diferente do primeiro livro da iniciativa ‘Light of the Jedi’ que é considerado um livro adulto e com um teor bem mais pesado e complexo, ‘A Test of Courage’ é um livro para crianças – recomendado de 8 a 12 anos – então traz uma narrativa mais simplista, leve e fluída. Apesar de ser um livro considerado infantil eu super recomendo a leitura, não achei o livro bobo demais, pelo contrário ele apresenta vários assuntos importantes – como perda, ódio, luto, raiva - trazidos e trabalhados de forma impecável, além de trazer várias referências e do próprio universo Star Wars. Esta era da ‘Alta República’ é extremamente interessante, eu estou lendo tudo que está saindo, e está valendo muito a pena. A Test of Courage não é leitura obrigatória para entender esta era, mas traz vários temas e personagens interessantes que merecem atenção.
Vernestra Rwoh tinha apenas 15 anos quando passou nos testes e foi promovida a Cavaleira Jedi – algo bastante inédito e prematura para alguém da sua idade. Agora com 16 anos, ela ficou responsável por supervisionar a delegação diplomática e também Avon Starros, a filha da senadora Ghirra Starros. Uma das coisas mais interessantes de Vernestra é seu sabre de luz que também se transforma em um chicote de luz (lightwip), e é a primeira vez que a Lucasfilm traz essa arma para o mundo cânone da saga. O modo como Vernestra construiu a arma e justificou sua existência, como algo gerado pela Força, é incrível.
Falando em Força uma das coisas que mais me impressionou na Vernestra é sua humildade, determinação e conexão com a Força. Vernestra não se sente superior ou melhor a ninguém por ser uma Cavaleira Jedi tão nova, ela aquela situação como um propósito maior, como uma forma dela alcançar e ajudar mais pessoas. Ela também é bastante conectada a Força e sempre age com base no que a mesma diz para ela, a Cavaleira Jedi também é muito conectada aos valores e ideais da Ordem Jedi e sempre lembra dos mesmos na hora de agir. O melhor momento de maturidade da personagem é no final, quando ela aceita treinar um novo Padawan e entende que ela consegue transmitir todos esses ideais e valores que ela tanto prega.
Avon Starros tem 12 anos e é uma personagem bastante cativante. Mesmo sendo nova ela é extremamente inteligente e já tem o desejo de ser uma cientista/inventora. O desejo dela é estudar os Kyber Crystals dos Jedi – e eu particularmente acho uma ideia incrível, inclusive um bom gancho para um próximo livro. Ela é sagaz, sarcástica, e muito esperta. Ela parece independente e durona, mas por baixo sofre bastante com problemas familiares. Ela me lembrou demais a Meg de ‘As Provações de Apolo’, ou seja, uma personagem bastante fácil de gostar. A relação dela com o seu droide, o J-6, também é bastante divertida, principalmente considerando todas as modificações que ela fez no droide, que começa a ser muito independente e respondão o que me fez lembrar a L3 do filme “Solo”.
Imri e o Honesty são personagens que devem ser trabalhados juntos, pois eu os acho bastante parecidos. Ambos são novos, passando por treinamento – seja o Jedi ou os testes no planeta Dalnam – ambos estão aprendendo, mas, ao mesmo tempo precisam de um incentivo e os dois são os que mais sofrem com a perda e com o luto. Honesty lida muito mal com a morte do pai, principalmente porque ele teve vários desentendimentos com ele nos seus últimos momentos, mas é uma perda muito real, e nua e cruel. O Imri perde seu mestre, e a princípio ele parece lidar melhor com a dor e a perda do que Honesty, mas ele começa a refletir o quão importante seu mestre era, em como o mestre era o único que acreditava em seu potencial, e começa a ceder para os sentimentos de raiva e vingança. Honesty não sabe lidar muito com aqueles sentimentos mútuos que ele está sentindo e isso acaba afetando fortemente o Imri que apenas vê a vingança e a morte como as únicas saídas para toda aquela situação.
Eu gosto de como o livro traz essa questão do Lado Negro da Força de um modo bem delimitado. A princípio temos o Imri entendendo seus sentimentos, como a inveja de Vernestra e a dor, como algo que não deveria o dominar, como algo prejudicial a ele e aos valores Jedi. Logo em seguida, vemos os sentimentos de Honesty totalmente aflorados e como isso prejudica o Imri, que passa a achar aquilo tudo normal. E no final vemos Imri cedendo totalmente ao ódio, a vingança e indo para o Lado Negro da Força. Mas para mim, o mais interessante disso tudo é como o Imri teve apoio no final e conseguiu ver como era errado a direção que ele estava seguindo.
É um livro que fala bastante sobre morte, luta, perda, e vingança, principalmente na visão das crianças. É mais fácil um adulto lidar com todas essas emoções e entender o que é certo ou não, já para as crianças é tudo mais complicado e frágil, e o legal é que a Justina Ireland ao escrever o livro, constrói uma rede de apoio muito forte para estes personagens que ajudam no desenvolvimento e maturidade dos personagens mais frágeis. Às vezes eu até me esquecia que era um livro de criança justamente pela autora tratar tão bem essas questões. Atrelado a isso vemos o poder da Ordem Jedi, de como ela realmente está em seu ápice e de como oferece todo apoio e suporte para os Jedi serem os melhores que eles podem ser e ajudarem o máximo de pessoas que eles podem ajudar.
A trama principal é ótima também. Os Nihil aqui não são tão aterrorizadores e sanguinários quanto em ‘Light of the Jedi’, mas eles são uma ótima ameaça para as crianças e os desafios que elas precisam enfrentar. A premissa da explosão da Steady Wing e de um planeta totalmente à deriva e desconhecido foi bastante interessante também. A união e a amizade – apesar de serem totalmente clichês – são grandes parte do livro também e da relação entre os personagens. Eu gostei do livro mais do que pensei que gostaria, foi bastante divertido, a leitura fluiu bem rápido e eu amei todos os personagens. É uma leitura que vale a pena, e The High Republic segue não decepcionando.