spoiler visualizarGabrielli.Caruso 30/10/2018
Não dá pra ler sem conhecer o histórico da autora e cenário político da época
Gostei muito de ter lido, mas só pela experiência. Eisso depois da minha pesquisa sobre a vida da autora e o cenário político da Romênia na época, porque foi uma leitura difícil, arrastada. A autora escreve de forma seca, curta e dura, muito dura. O conteúdo é por muitas vezes intragável, triste, causa até náusea
São só 140 pgs mas parecem 500
Comecei a pesquisa quando estava no conto mais longo, o que dá nome ao livro porque eu tinha vontade de fechar o livro e não abrir mais. Ele tinha parágrafos desconexos que não tinham sentido algum para mim. Foi batata depois da pesquisa, comecei a entender as entrelinhas. Isso porque o livro é uma auto ficção, a personagem relata acontecimentos com base no que a autora viveu
Depressões é um livro de contos onde a personagem não tem nome, é uma jovem que conta sobre sua infância e adolescência, em uma vila no interior da Romênia, mas com habitantes alemães, com catolicismo intolerante e autoritário, alcoolismo, violência institucionalizada nas famílias, clima de violência. Isso tudo piora quando a Romênia abraça o nazismo e depois vira comunista com o apoio da Rússia. O comunismo totalitaristas trará mais repressão com a instalação da polícia secreta romena, violentissima.
Isso tudo sobre o cenário político da época eu descobri depois
Pra vcs terem idéia, vou falar de alguns contos, mas é spoiler então não leia se não quiser saber o conteúdo dos contos.
O primeiro, Discurso Fúnebre, a garota está sonhando que está no velório do pai e os amigos e parentes presentes começam a beber e jogar na cara da menina os pecados do pai, os roubos, estupro, etc e no final ela é alvejada por essas pessoas por revolta.
No segundo conto, eu demorei pra interpretar assim. Ela narra o banho de uma família em uma banheira com água quente e limpa. A sequência de quem toma banho começa pelos mais novos e termina com os mais velhos. Conforme eles vão tomando banho na mesma água, um após o outro, essa água vai ficando escura de sujeira e fria. Eu li ele de novo e interpretei que ela está narrando a sujeira acumulada da família, pois naquele regime violento um denunciava o outro e quanto mais velho, mais ruindade tinha colecionado.
Agora o terceiro e maior conto, chamado Depressões tem bastante coisa pra falar
No começo ela está dentro de um banheiro e analisa as fezes da família ?, investiga a parte mais íntima de cada um. Ali a autora, para mim, está contando a falta de respeito com a intimidade, com o individualismo porque a polícia secreta investigava todo mundo, fazia as pessoas contarem os detalhes das outras, invadia a privacidade de todos.
Outra parte "bacana", os cães são chutados pela rua, um foi tão forte que caiu agonizando, morreu e o cadáver ficou dias fedendo até alguém recolher. Pra mim também está claro como ela está usando isso para mostrar como a polícia secreta tratavam as pessoas.
Outra, as donas de casa procuravam ninhos de passarinho e chamavam os gatos para comer os filhotes. Isso tem relação quando alguém denunciava uma família a polícia levando destruição e morte
E quando achavam ninhos de rato? Aff, davam pauladas e levavam os gatos para comer a cabeça dos ratos
As crianças torturavam borboletas com alfinetes, arrancavam as cabeças até o líquido interno delas sujarem seus sapatos. Mostra a presença da violência constante naquela vila.
A Herta usa de fatos corriqueiros daquela família para mostrar o cenário de desesperança, sofrimento, violência e morte
Quando a gente percebe isso, lê essas partes grotescas e pensa que as pessoas sofriam desse jeito é bem triste
Ah tem outro conto legal
O dos casamentos consangüíneos, e uma aldeia pequena e fechada então as pessoas tinham relações com os próprios familiares e no conto, um homem relata que seus cachorros estão cruzando com os gatos, esses com os coelhos e esses com os porcos. Aqui eu vejo o tal do realismo fantástico porque ela conta uma transgressão biológica querendo contar uma transgressão embora tbm biológica, cultural e humana da sua aldeia.