Depressões

Depressões Herta Müller




Resenhas - Depressões


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Aguinaldo 27/05/2013

Depressões
São quinze contos terríveis, contos que só serão tolerados e lidos sem medo, do primeiro ao último e sem interrupções, por um leitor bem humorado ou otimista, nem um pouco estressado, leitor que esteja de bem com a vida e seja suficientemente curioso, pois caso contrário é fácil abandoná-los sem dó. Trata-se de "Depressões", o primeiro livro publicado de Herta Müller. Ela o publicou em alemão, em 1982, quando ainda morava na Romênia. Uma segunda versão foi publicada em 1984, quando já havia emigrado para a Alemanha. Os contos quase sempre são curtos, duas, três ou quatro páginas, somente um deles é realmente longo. O conto que dá nome ao livro tem quase oitenta, conta a história de uma garota adolescente que se descobre no mundo, mas que aparentemetne não sabe que vive uma versão real do mito da caverna platônico. São páginas opressivas e cruéis, todas elas. O que salta evidente destas histórias são a estupidez do comunismo, o absurdo da escravidão que a experiência do totalitarismo gerou, as misérias de gerações inteiras condenadas aos desmandos de um grupo pequeno de indivíduos doentios. Herta Müller quase sempre usa frases curtas, algo monocórdias, como em uma litania infernal. Ela conta histórias simples, como a de crianças que mal entendem a opressão que as dominam; ou das relações consanguíneas nos vilarejos empobrecidos e controlados por sádicos comissários do povo; ou a de um dia de finados particularmente duro de aceitar; ou das lembranças de um piromaníaco; ou do censo dos passageiros de um ônibus de província; ou, numa espécie de autoanálise, sobre a fuga através do alcoolismo; ou do lamento de uma cansada moradora de rua. Não há concessões bestas ou escapismo nas histórias (não há esperança na realidade de um deus ex machina, ou em uma alternativa que são seja engendrada nos destroços daquela gente mesmo). "Depressões" é um livro bom de se ler pela qualidade do texto, pelas metáforas, pela beleza inusitada das construções, mas como aproveitar a beleza que brota das vísceras, lama, águas estagnadas, da solidão e sofrimento das pessoas? Os temas realmente cobram algo do conforto mental do leitor, mas Herta Müller é mesmo uma grande escritora. Impressionante.
[início: 11/04/2013 - fim: 15/04/2013]
"Depressões", Herta Müller, tradução de Ingrid Ani Assmann, posfácio de Ricardo Lísias, São Paulo: editora Globo, 1a. edição (2010), brochura 14x21 cm., 161 págs., ISBN: 978-85-250-4834-9 [edição original: Niederungen (Bukarest: Kriterion Hefte) 1982]
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DznHenrique 30/01/2024

Depressões.
Confesso que achei a leitura bastante penosa, não porquê é ruim ou algo assim, mas porquê durante grande parte da mesma, eu não consegui compreender quase ou absolutamente nada, só fui começar a entender (ao menos um pouco) no 4° capítulo, onde a autora dá ao leitor o contexto de onde viveu, na Romênia, durante a ditadura, a partir daí e juntando ao prefácio pude entender como a autora deseja e transmite os sentimentos de melancolia, tristeza e o pressão, contando sobre como tudo isso, causado justamente pela ditadura vivida e o ambiente da vila causaram a ela, levando-a também ao alcoolismo.

Apesar de não ter entendido o bastante, recomendo a leitura, gostei do tom seco e como de forma levemente gradual e até sorrateira vai se sentindo e criando um clima tenso, que aos poucos pareceu que vai eclodir a qualquer momento.

3.5/5
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Lelei 11/08/2010

Um texto metálico.
Um sabor idem.
A autora mantém do começo ao fim um domínio impressionante sobre o tom da história que está contando. Não derrapa. É de tirar o fôlego. Você começa e não pára mais.
Recomendo a leitura, com louvor!
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Higor 19/01/2018

Sobre a necessidade de conhecer vozes amargas e ásperas
É um fato incontestável: basta ler um pouco da biografia de Herta Müller para se sentir atraído por qualquer livro dela. Sendo o pai nazista e a mãe deportada, ainda adolescente, para campos de concentração de trabalho forçado da União Soviética, a literatura de Müller é conhecida, além dos relatos autobiográficos, por ser fonte de resistência ao preconceito.

A leitura de ‘Depressões’, livro de contos que narram uma aldeia alemã em tempos de ditadura militar aparentam ser uma porta de entrada perfeita para conhecer a autora, mas o mesmo se mostra, com o passar das páginas, embora necessário, bastante intragável e que o leitor, mesmo o mais persistente, não veja a hora de acabar logo, para se livrar de tão pesado fardo. O curioso é que o livro não chega nem a 200 páginas, mas parece que dispõe de muitas centenas, um prolongamento difícil de histórias dolorosas de pouco mais de três páginas, cada, exceto a história que dá título a coletânea.

‘Depressões’ é uma novela em que conta o dia a dia de uma adolescente descobrindo o mundo, aparentemente comum para ela, já que ela sempre viveu naquela miserabilidade opressiva sem conhecer outra versão do mundo, por mais ínfima que seja. É através da inocência da garota que o leitor vê o quão cruel e sufocante é a vida naquela aldeia pobre, esquecida por todos, e como a garota não percebe pelo olhar dos pais o quão eles poderiam ser felizes, mas não têm força de tentar melhorar de vida. O comodismo é gritante, e o leitor precisa respirar fundo diante de tal disparate.

O mesmo conformismo escancarado diante de tal sofrimento se encontra em pequenos contos, como ‘O banho suábio’ e ‘Dia de trabalho’, impregnando fortemente em ‘Crônica da aldeia’, um conto sem clímax, mas que mostra que, ao contrário do que muitos pensam, uma vida rural e urbana, naqueles dias ditatoriais, era idêntica, com apenas palavras e expressões diferentes para explicar a cada tipo de sociedade o que estava acontecendo ali.

Longe de ser uma literatura prazerosa, Herta Müller e sua escrita têm a difícil missão de representar os desapossados, como citou a própria Academia, aqueles grupos e nações que sofreram, e ainda sofrem, diante de um sistema político opressor que cala e dita o povo, mesmo que para isso seja necessário matar. Diante de tal circunstância, tal grupo é necessário para o mundo, as vozes que lutam pela liberdade de expressão, por dias melhores.

Uma literatura consistente e de qualidade, o fato de ter histórias dolorosas e intragáveis demais faz com que o livro seja abandonado com frequência, esquecido na cabeceira da cama, não por ser ruim, mas por ser real demais para se ler de uma vez só. Uma página ou outra por dia às vezes se mostra mais que o suficiente para se acompanhar.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
Tonný 19/01/2018minha estante
Parece ser bom..


Higor 19/01/2018minha estante
A literatura de Müller é mais necessária que agradável ou boa, Tonny. O castigo imposto à Alemanha por conta do nazismo foi igualmente doloroso que a própria Guerra, e é algo ignorado pelo restante do mundo. Uma espécie de 'bem feito', que se, analisado pela literatura da Herta, a gente fica meio chocado e revê o conceito de ser, de fato, humano.




Henrique Fendrich 30/09/2019

São textos escritos em certo tom onírico, pictórico, lírico, que parece agradar a bastante gente, mas devo confessar que para mim foi uma leitura bastante penosa, pois o tempo inteiro eu tinha a sensação de que não estava entendendo absolutamente nada. Não consegui me abstrair de um excessivo racionalismo e fazer dessa leitura uma coisa prazerosa. Depois de um tempo diante dessa dificuldade, eu começo a ficar impaciente e vou atropelando a leitura mesmo. Os dois contos que consegui apreciar são "Crônica da aldeia" (em que se nota inclusive certo humor satírico, em meios às agruras de uma vila suábia) e "A risca do cabelo e o bigode alemão", um drama que me pareceu muito bonito. Da novelona "Depressões" eu apreendi pouco, muito pouco. No posfácio do livro, o Ricardo Lísias chega a comparar o estilo do texto ao do Graciliano, pela economia de elementos, mas acho que nunca tive com o velho Graça uma dificuldade semelhante. Admito que muitas pessoas possam apreciar o estilo da autora nesse livro, mas, infelizmente, não é o meu caso.
Maria 21/01/2020minha estante
Eu sabia que o conto "Depressões " me lembrava o estilo de alguém. Graciliano Ramos! Ainda estou na metade da novela (gigantesca, comparando-se aos primeiros contos) e, sinceramente, estou gostando muito do livro. É certo que a escritora é tão hábil que fui profundamente afetada pelo tom opressivo dos textos, mas isso não me desagradou, muito pelo contrário. Sim, estou entre aquela gente que aprecia a autora.


DznHenrique 25/01/2024minha estante
Já passei da metade do livro e te confesso que venho entendendo pouco também




Michel 19/10/2020

A BAIXARIA RURAL DO PÓS-GUERRA
Existem certos livros cujo conteúdo pode suscitar mal-estar e, por essa razão, talvez não devam ser lidos por leitores que atravessam fases difíceis de suas vidas. A depressão do título dessa obra não remete propriamente à doença psiquiátrica (ou não apenas a ela), mas ao clima de constante opressão. E o desconforto paira constante através das páginas dessa compilação de contos da vencedora do Nobel de Literatura Herta Muller.

A escritora nascida na Romênia vivia numa pequena comunidade rural em que predominava a cultura alemã que era alvo de perseguição do regime comunista que dominava o país. Provavelmente é desse cenário de escassez extrema que surge a inspiração para a prosa franca e eloquente de Muller.

DEPRESSÕES é uma reunião de contos insalubres por excelência. A essência narrativa desse livro percorre por ambientes impregnados de imundices das mais variadas espécies, desde a sujeira física até a psicológica. O olhar das personagens denota com clareza os limites de sua realidade, a precariedade que quase sempre evolui para cenários trágicos de violência... Violência de todos para com todos, entre categorias sociais distintas e que permeiam o cotidiano, compondo a dramaticidade coletiva do cenário.

O livro divide-se em quinze contos, porém o texto que fornece seu título ocupa mais da metade do volume e é aqui o lugar onde encontramos a sutil constituição literária da tragédia humana que faz de Herta uma escritora notável. Sugiro que o leitor faça sua incursão com calma, para que não se perca nenhum detalhe da sordidez social explicitada aqui.

A personagem narradora transfere sua insuficiência para fora das páginas com tamanha eloquência, deixando na leitura uma sensação de desesperança constante. Qualquer escapismo do caos parece mero fingimento, como se a ruina fosse uma máxima inevitável para humanos inseridos naquele ambiente. O cenário rural precário, cujo clima opressivo em que a protagonista está inserida é quase palpável e, justamente por isso, desperta certa solidariedade no leitor. A menina não vive, mas, apenas sobrevive neste lugar de aviltamento da dignidade.

O olhar em primeira pessoa torna o conteúdo ainda mais enervante. Sem nenhuma análise sofisticada sobre tragédias resultantes dos regimes ditatoriais, aqui é somente o universo dos desassistidos a conjuntura que viabiliza o desconforto no leitor. É a maravilhosa mágica da arte literária de inserir-nos no terror existencial para nos fazer sentir exatamente as mesmas agonias que as pessoas que nele estão inseridas.

Alguns críticos dizem que este escopo caótico de Herta Muller possui particularidades semelhantes às de Samuel Beckett, porém, o escritor irlandês ainda não conseguiu me atar em sua literatura de modo tão irreparável quanto o fez Muller.

Além de Depressões, os demais contos são curtos e alguns mantém o mesmo aroma pútrido. Muitos parecem breves trechos retirados de algo maior, o que pode causar alguma confusão em leitores que apreciam objetividade linguística. Depressões é, de longe, o conto que sobressai os demais e aponta o lirismo estético que deu a autora o Nobel de literatura em 2009. E precisamente por ser este conto tão extraordinário que acabou ofuscando os demais.

DEPRESSÕES é um livro para se ler com sobriedade, imparcialidade e, acima de tudo, coragem. Um eco incômodo da tragédia humana que parece espreitar em algum canto, à espera do momento certo de nos dar o bote. Em tempos de extremismos aparentemente superados e que parecem ressurgir sutilmente em sociedades mundo afora, a literatura de Herta nos soa cada vez mais atual.

site: Outras resenhas no endereço: http://dimensaoreluzente.blogspot.com/
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Douglas.Milani 27/01/2022

Fez jus ao Nobel
Uma escrita seca e ao mesmo tempo lírica. De alguma forma, a Herta consegue pegar a opressão, matéria nuclear de todos os contos (e da novela que dá título ao livro), e transmitir isso não apenas pelo enredo, mas também por meio da própria linguagem.

Não se deve esperar grandes acontecimentos nos contos, alguns chegam a ser meras cenas do cotidiano. A peculiaridade do livro não está no enredo, mas na sensação. Isso, por si só, já vale a leitura.
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Aninha 24/05/2017

Depressões e opressões
"Tudo parece próximo e, quando nos aproximamos não chegamos lá. Eu nunca entendi essas distâncias. Eu sempre estava atrás dos caminhos, tudo corria à minha frente. Eu só tinha a poeira na face. E em lugar nenhum havia um fim." (página 23)

"Depressões" é um dos 15 contos desse livro, o maior deles, que conta as lembranças de uma menina no campo, sua vida na aldeia com seus pais e avós. Ela não recebe carinho, pelo contrário, só broncas, tapas e bofetadas.

"Toda vez eu caía e começava a chorar, mordia o pente na minha dor e sabia, nesse instante, que não tinha pais, que estes dois não eram ninguém para mim, e me perguntava porque estava sentada nesta casa, nesta cozinha com eles..." (pág. 68)

Há toda uma descrição do campo, dos insetos, das flores e do comportamento da família e da aldeia, que fica em algum lugar de Banat, região limítrofe da Romênia com a Hungria e a Sérvia.

Todos os contos são carregados de tristeza e conformismo. Não há liberdade de ser o que se é, mas o que se esperam que você seja, num mundo que é assim mesmo.

Como a autora cresceu sob de Ceausescu e mudou para a então Alemanha Oriental, levou consigo o sentimento de seu povo e da opressão que é a vida numa ditadura. Ela recorre a frases curtas, fragmentadas, para que o leitor imagine a beleza ou a dor do momento.

Vale a pena a leitura!


site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2017/05/depressoes.html
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Luciana Lís 27/02/2015

Depressões (1982) é o livro de estreia da romena radicada em Berlim, Herta Müller. A publicação possui 15 contos ambientados entre Romênia, Sérvia e Hungria, que retratam a vida em aldeias e comunidades rurais no período após a Segunda Guerra Mundial e se estende até a década de 1980. Retrata as dúvidas do socialismo e as condições limítrofes às quais o povo era submetido nas cidades e nos campos – ambientes repressivos permeiam toda a obra da autora. O conto homônimo, Depressões, o mais significativo e longo do livro, narrado por uma menina, é carregado de simbologias, como o significado de Deus para os desesperançados e despossuídos; a moral inquestionável da figura de seus pais; o pai que lhe espanca por tocar em seu rosto; retrata a figura de sua mãe, que não suporta se olhar no espelho e carrega por horas a fio sua vassoura, tentando dessa forma, não chorar pela vida e esperando por seu destino, a morte. Depressões não contém amor, não possui fábulas, não há alegrias, não há maniqueísmos. Herta Müller recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2009.
Por: @lucianalis

site: Para mais resenhas: instagram.com/coletivoleituras
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Xandy Xandy 16/10/2017

Contos perturbadores e atraentes. Tudo ao mesmo tempo!!!
Para iniciar as resenhas da semana, escolhi o livro Depressões, primeira obra da escritora alemã, nascida na Romênia Herta Müller, ganhadora do Prêmio Nobel da Literatura de 2009.

O livro é composto por quinze contos extremamente perturbadores, que falam das dificuldades encontradas pelas famílias para viverem no campo, numa Romênia pós-guerra. A infância das crianças é retratada aqui de forma dura, brutal e muitas vezes agressiva; mesmo assim, há sinais de devaneios e até brincadeiras infantis.

Problemas como alcoolismo, adultério e espancamentos são traços marcantes da escrita da autora e são tratados como algo extremamente normal, chegando até a receber um certo lirismo por parte da mesma.

Posso dizer que as histórias parecem repugnantes num primeiro momento, contudo, conforme avançamos na leitura, a desgraça é descrita de forma tão corriqueira que acabamos nos solidarizando com tamanho sofrimento vivido pelos personagens, por mais absurdo que isto possa parecer!!!

Escolhi dois contos para dar destaque:
Quer ler mais?
Então visite o Lendo Muito!!!

site: https://lendomuito.wordpress.com/2017/10/16/depressoes-herta-muller/
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Isotilia 04/12/2018

Dê este livro de presente para um(a) coxinha amigo(a)...
Recomendo este livro para aquele ou aquela amiga "de direita"... Saiba o porque, no blog 600 livros.

site: https://600livros.blogspot.com/2018/12/para-coxinhas-duas-recomendacoes-de.html
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vefaria 13/09/2020

Depressões
Textos pesados e cruéis, porém necessários. Principalmente para compreendermos melhor as opressões passadas e que ainda existem.
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Cris01 11/12/2020

Não recomendo para quem sofre de depressão ou estômago fraco
Um livro de contos sem nexo nas histórias contadas. Vendo sob outro aspecto, a região e o que aconteceu é interessante pois a autora retrata muito bem isso em todos os contos e também retrata a violência e maldade com animais e entre os humanos. Enfim uma região que sofreu e sofre até hoje
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