Leonardo 03/06/2012
Um volume de preparação
Disponível em http://catalisecritica.wordpress.com
O Festim dos Corvos, quarto livro da série As crônicas de gelo e fogo, conta o que acontece depois de gravíssimos eventos relatados no terceiro livro (sobre o qual você pode ler aqui e aqui. A guerra está praticamente acabada (ou ao menos assim acreditam os Lannister) e é tempo de novos jogadores ocuparem seus postos no jogo dos tronos. É por isso que este volume dá especial atenção a duas regiões que exercerão importantes papéis no desenrolar da saga: as Ilhas de Ferro, e a briga interna pela sucessão do trono outrora ocupado por Balon Greyjoy, e Dorne, com tudo que acontece depois de Oberyn Martell se oferecer como campeão de Tyrion no final de A Tormenta de Espadas.
Muitos novos pontos de vista são acrescentados à história, que tem um ritmo extremamente lento. Apesar de ser um livro longo, mesmo eu, que tenho uma memória péssima, consigo resumir o que acontece com cada personagem de maneira precisa, porque, de fato, muito pouco acontece. Percebe-se que George R. R. Martin preocupa-se mais com o que já aconteceu do que com o presente. Praticamente cada diálogo é recheado de referências ao passado: história, geografia, religião.
Um dos exemplos mais evidentes dessa tendência é quando um pequeno grupo, que inclui Brienne, vai se hospedar numa estalagem de beira estrada e a pessoa que a indica conta a história da estalagem, desde que foi fundada, há uns dois mil anos, até o presente, incluindo figuras importantes que lá se hospedaram, símbolos que já ostentou e quem já foi seu dono.
A impressão que dá é que o autor está empolgado e quer mostrar o quão rico é o universo que ele criou. Da forma como isso foi colocado no livro, fica cansativo e atrapalha o desenrolar da trama. Quando eu lembro como eu fiquei empolgado com o final de Arya em A tormenta de espadas, usando sua moedinha de ferro, e o quanto eu esperava o desenvolvimento da trama da pequena menina-lobo neste quarto volume, é inevitável ficar com um gosto de decepção com o pouco que acontece.
Assim como há, nos outros livros, capítulos de preparação, que, naturalmente, antecedem os capítulos com grandes acontecimentos, esse livro inteiro é de preparação: os homens de ferro começam um grande plano, assim como Doran Martell e mesmo Samwell Tarly (mesmo que indiretamente). Em King’s Landing, tudo vai mudar, e alguns personagens clássicos devem sair do jogo.
O que me deixa apreensivo é que o próximo volume, A Dança dos Dragões, praticamente não avançará no tempo, mas contará a história de personagens que ficaram de fora do quarto livro: Jon Snow, Stannis, Davos, Theon, Melisandre, Tyrion, Bran, Daenerys…
O único alívio é que a trama envolvendo Jaime e Cersei vai continuar e, principalmente, a história de Arya.
Um ponto que vale a pena ressaltar é a preocupação em desenvolver a religião. Pela primeira vez (até onde lembro) o livro sagrado dos Sete é citado (o nome do livro é The Seven-Pointed Star na versão em inglês), e com muito destaque. Profecias, ritos, lendas, histórias, tudo que está relacionado à religião ganha destaque (e com razão, já que, na história, o Alto Septão começa a desempenhar um papel importantíssimo, que deve se intensificar nos próximos livros).
Como personagens de destaque nesse volume, ressalto dois pontos negativos: o jovem Robert Arryn, uma das criaturas mais irritantes já criadas na literatura. Toda vez que ele aparece tenho vontade de bater em alguém (aqui uma pergunta a quem está mais atento à trama: A epilepsia do menino já havia sido citada ou é, como me pareceu, criação desse quarto volume?). E Brienne, mas não por culpa dela, e sim do autor. Toda a narrativa da Donzela de Tarth soa como uma side quest, ou seja, se você a excluísse da história, nada mudaria de fato.
Como ponto positivo, ressalto a habilidade de jogador de Mindinho, dando aula de como preparar a mesa para o jogo dos tronos (se ele sairá efetivamente vitorioso, não sei dizer, mas que é um jogador ambicioso e habilidoso, isso ele efetivamente é), e a intrepidez (ou deveria dizer estupidez) de Cersei Lannister, que é quem mais consegue movimentar a trama, seja para o bem, seja para o mal.
Por estar viajando, li A Feast for Crows de forma intensiva, o que foi ótimo. Lamento apenas não ter trazido meu volume de A Dance with Dragons…
Isoladamente, o livro é regular, mas dentro da trama, ele ajuda demais a desenvolver algumas motivações, e, como falei antes, ele prepara o terreno para muita ação, especialmente envolvendo a Não Queimada, Daenerys, a Mãe dos Dragões.