spoiler visualizarRafael.Goncalves 15/04/2021
Resenha Vencendo o Mundo
BEEKE, Joel. Vencendo o mundo, São José dos Campos: Fiel, 2005, 215p; primeira edição em português 2008. Tradução: Francisco Wellington Ferreira.
O livro traz uma proposta relevante para todos aqueles que se intitulam cristãos, a saber: O autor utiliza-se de sua maestria para mostrar ser possível vencer o mundo, e com uma tenacidade pastoral o mesmo aborda de maneira prática este assunto, e faz a utilização de meios que podem auxiliar o crente nesta jornada. O leitor poderá fazer a leitura tranquilamente, visto que Beeke cumpre o que acaba propondo durante a leitura. É um fato notório o temor que o autor guarda eu seu coração pela beleza da santidade de Deus. Ele também faz com que seus leitores percebam o que o motivou a escrever este livro “A igreja de Jesus, está sendo destruída pelo mundanismo, devido ao seu envolvimento com o mesmo. O que causa a perda de seu propósito original”
A obra foi organizada em quatro grandes partes, que são os temas norteadores, o autor utiliza-se de capítulos pequenos e concisos em casa uma dessas grandes partes, chegando ao todo de vinte e um capítulos. A obra é o resultado de aulas executadas pelo autor na Escola de Teologia do famoso Tabernáculo Metropolitano em Londres, onde o príncipe dos pregadores pastoreou por vários anos, as palestras foram proferidas por Beeke no ano de 2002.
A primeira parte “Vencendo o mundo pela fé” é composta por três capítulos. O primeiro capítulo intitulado por “O que significa vencer o mundanismo?”, revisita alguns conceitos que podem e irão ajudar o cristão nas tomadas de decisões frente ao mundanismo, principalmente porque “As coisas mais valiosas da vida não são obtidas e, muito menos, preservadas com facilidade” . Os conceitos apresentados no primeiro capítulo são: 1) A tomada de decisão para se vencer o mundanismo, “Somente aqueles que compreenderam que existe algo a ser vencido, desejarão vencer o mundo” . 2) Liberdade e perseverança através de Cristo, “Devido a grande atração que o mundo, empenha-se por imprimir na vida do crente, visando sempre, engana-lo, torna-se indispensável a perseverança contra este sistema, e isso exige bastante graça” . 3) Manter-se acima das circunstâncias mundanas “Nem riqueza, nem pobreza, nem tristeza, nem alegria poderão afastar o viver centralizado em Cristo” , isto a semelhança do que viveu o apostolo Paulo. Por fim o capítulo um é finalizado o último conceito a saber: 4) Uma vida de auto renúncia – renunciar em prol de outros, como o próximo, renunciar com o objetivo de glorificar e ser obediente à vontade de Deus. Os conceitos apresentados por Beeke são de fundamental importância para que o crente em Jesus esteja preparado para resistir ao mundo e vence-lo de maneira plena. No capítulo dois “Praticando a vida vitoriosa”, o autor se dispõe a demonstrar a natureza pecaminosa do homem e as consequências de uma vida mundana, a partir deste prisma caído pode-se perceber os reflexos da queda que são três: 1) Concupiscência da carne; 2) Concupiscência dos olhos e 3) Soberba da vida. Apesar dos efeitos noéticos, que revelam uma condição terrível, em relação ao ser humano, Joel Beeke labora por imprimir na mente do leitor, que “a fé luta contra os caminhos do mundanismo. Ajudando-nos de várias maneiras, a obter vitória sobre todo o poder sutil do mundanismo externo e interno” . A “práxis” apresentada repousa nas seguintes afirmações: 1.º Crendo em Jesus, o Filho de Deus; 2.º Purificando o coração por meio da centralidade em Cristo; 3.º Vivendo de acordo com o que agrada a Deus; 4.º Vivendo em função do mundo invisível que no aguarda. Confirmando o que propõe o título do capítulo, o autor finaliza-o de maneira prática, visando uma vida vitoriosa. O capítulo três da primeira parte “Tornando a vitória duradoura” tem uma característica curiosa, ele é pequeno em sua extensão, mas possui uma profundidade imensa, pois leva o leitor a colocar a sua confiança em Jesus Cristo, lembrando sempre que Cristo é o intercessor dos filhos de Deus, e que os meios para fortalecimento da vida cristã, já foram dados por Deus. O ponto culminante, está no fato de que as promessas divinas repousam sobre a Palavra, daquele que não retrocede, e este fato deve ser rememorado sempre pelos crentes.
A segunda parte “Vencendo o mundo por meio da piedade: A resposta de Calvino ao mundanismo”, é composta por quatro capítulos, dos capítulos quatro a sete Beeke labora em analisar e apresentar alguns dos muito aspectos da vida e teologia de Calvino, está parte tem um grande valor, visto que mesmo em um período tão longínquo do autor, ele encontra um homem com uma vida piedosa e comungante com Cristo e seu corpo. A beleza na exemplificação da vida de Calvino, se encontra no fato de que ele não temia nada a não ser o Deus da escritura. E o seu temor, o leva ao ápice da sabedoria e piedade. O capítulo quatro trás a seguinte pergunta “O que é a piedade?”, e a resposta que emerge do texto tem uma tonalidade característica do movimento da reforma protestante, que é “O conceito de piedade (pietas) ensinado por Calvino se fundamentava no conhecimento de Deus, incluindo atitudes e ações direcionadas à adoração e ao serviço de Deus” . No capítulo cinco “Comunhão com Cristo”, duas doutrinas axiais para a fé cristã se destacam, a saber: A união mística e a justificação. A primeira, traz paz ao coração do crente e refrigério para sua alma, a segunda é o ponto basilar do cristianismo. O capítulo seis é trabalhado sobre “A piedade e a igreja”, segundo Calvino a piedade deve permear todos os aspectos na vida, enquanto comunidade da fé. Algo fundamental para o entendimento da piedade no seio da fé, se encontra na tratativa que Beeke faz sobre Calvino, apresentando a seguinte afirmação “A Palavra de Deus é central ao desenvolvimento da piedade no crente. A verdadeira religião é um dialogo entre Deus e o homem” . Em uma breve conclusão do capítulo seis, pode-se inferir que na teologia de Calvino, ele enxergava que sem a comunhão com a igreja, não seria possível haver verdadeira piedade. Essa afirmativa deveria ser tomada como uma máxima, pois o seu impacto pode ser sentido até os dias da pós-modernidade. No capítulo sete, Beeke fala do seguinte tema “A piedade e o crente”, que de maneira muito prática aponta alguns aspectos que são essenciais na vida do crente. O primeiro deles é a oração, sem este exercício continuo não é possível ser piedoso. Em segundo lugar, o arrependimento, o qual é fruto não só da fé, mas também da oração, como bem-apresentado pelo autor. Em terceiro lugar, a auto-renúncia, e está é “a compreensão de que não somos mais de nós mesmos e de que pertencemos a Cristo” , está noção é essencial. Em quarto lugar, carregar a cruz é apresentado como ponto fundamental para um crente piedoso. Em quinto lugar, a sensibilidade para meditar na vida futura, isto é, a mesma passa como brisa ligeira, a contemplação da vida eterna deve inundar o coração do crente. Por fim, em sexto lugar, é de extrema importância a observância da obediência, as palavras de Calvino podem resumir isso de maneira magistral “a obediência incondicional à vontade de Deus é a essência da piedade” . O capítulo finda-se com o exemplo de Calvino, e não poderia diferir disto. Para que uma mente intelectual chegue ao nível de práticas piedosas como estas citadas, essa mente não vive somente no campo das ideias, mas experimenta continuamente a oração, os labores e os ataques na vida. Ou seja, somente um homem experimentado na fé, poderia produzir algo tão profundo, pela iluminação do Espírito.
A terceira parte “Vencendo o mundo por meio da santidade”, estabelece seu foco a partir do capítulo oito e vai até o capítulo treze, a maneira de transmissão proposta pelo autor, continua sendo algo agradável de se ler, porque ele põe simplicidade e praticidade nos conceitos apresentados. O capítulo oito é um convite “A chamada ao cultivo da santidade”, este é um convite para se apropriar de um antidoto contra o mundanismo. Em uma breve análise o autor demonstra como o tema era tratado no antigo testamento, e como passa a ser tratado no novo testamento. Desta forma ele apresenta a essência da santidade a partir do texto sagrado. No capítulo nove “Como cultivar a santidade”, é apresentado de modo prático o que deve e o que não se deve fazer, para obter êxito nesta jornada tão gloriosa. Beeke apresenta sete atitudes que o cristão deve possuir, na busca pela santidade. Dentre todas apresentadas, a terceira impacta de maneira positiva a ênfase é morrer para o pecado e viver para Cristo, o cristão que consegue viver assim, reflete a cruz de Cristo. O decimo capítulo “Encorajamento ao cultivo da santidade”, é um pequenino capítulo que traz consigo, uma frase que gera no coração do leitor aquilo em o seu titulo anuncia, essa frase marca o crente e o encoraja para a caminhada “Nossa vida está sempre fazendo o bem ou o mal; ela é uma carta aberta, para todos lerem (2Co 3.2). Um viver santo influencia e impressiona mais do que qualquer coisa. Nenhum argumento pode enfrenta-lo. Expõe a beleza do cristianismo, dá credibilidade ao testemunho e ao evangelismo (Fp 2.15)” . O capítulo onze trata das adversidades que podem atordoar o cultivo da santidade, e se intitula “Obstáculos ao cultivo da santidade”, os obstáculos basicamente se encontram nas seguintes atitudes: Egocentrismo; Negligenciar o esforço; Dependência de seus próprios esforços; Opiniões errôneas a respeito da santidade e por fim evitar o conflito, “O homem santo, diferentemente dos outros, não está em paz com o pecado, que habita nele. Embora venha a cair, ele se sentirá humilhado e envergonhado por causa de seu pecado” . A temática de fechamento desta grande parte ou seção se encontra no capítulo doze “A alegria de cultivar a santidade”, o tema se baseia em um tripé muito interessante, começando com “A Alegria Suprema: Comunhão com Deus”, passando pelo segundo pilar deste tripé “A alegria Contínua: Segurança Permanente” e finalizando na “Alegria Antecipada: Recompensa Eterna e Graciosa”, a partir deste tripé o autor conclui expressando que cultivar a santidade é como uma luta constante. Dando assim o fim da terceira parte.
A segunda e a terceira parte foram constituídas, a partir de algumas revisões de materiais impressos nas seguintes obras: The Cambridge Companion to John Calvin (Cambridge: University Press, 2004, p. 125-152), editado por Donald McKim; “Cultivating Holliness”, Reformation & Revival (Primavera de 1995), p. 81-112; e Holiness: God’s Call to Santification (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1994).
A quarta e última parte do livro “Vencendo o mundo no Ministério”, tem uma série de capítulos, iniciando-se no treze e concluindo-se no vinte e um. O axioma bíblico se encontra em Atos 20.20 “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.”, este sagrado texto norteia a jornada pela última parte da obra de Beeke. O capítulo treze “Sua vida particular”, a vida pública é um reflexo da vida particular, pensando desta forma a exortação a buscar uma vida de santidade é muito relevante, a constância é algo fundamental para que se tenha êxito, pois sem a mesma, o crente chamado ficaria vulnerável aos ataques do diabo. O capítulo catorze “Sua vida de oração”, traz consigo um memorial importante, a oração é um importante agente para o ministério, sem a oração muitos não resistem e caem. O capítulo quinze que possui o título “Seu relacionamento com Deus”, ensina sobre a importância de possui um relacionamento com Deus, e este relacionamento precisa ser bem desenvolvido, pois esse relacionamento influenciara diretamente seu ministério, ele depende deste relacionamento para um sólido ministério. Mas não só o ministro precisa de um relacionamento íntimo com Deus, todos os crentes necessitam, a exortação de Beeke a esse respeito, é manda e instrutiva. O capítulo dezesseis “Sua família”, foca-se no casamento. Em uma observação rápida se nota que muitos ministros têm tido seu casamento arruinado, devido à falta de atenção necessária. Então o equilíbrio entre suas funções pastores e seu casamento é imprescindível, é algo de extrema importância. O capítulo dezessete “Sua luta contra o orgulho”, trata do pecado que trouxe à queda um anjo, transformando-o em um demônio, e este mesmo pecado assola muitos ministros, o orgulho precede a ruína, já foi predito no texto sagrado. Beeke insiste que o ministro deve lutar contra este pecado, sufoca-lo, pois do contrário o pecado o sufocara pouco a pouco. No capítulo dezoito “Seus conflitos com as críticas”, nesta seção o autor trata de algo que acontece com todo pastor, ao longo de seu ministério, não somente é apresentado por Beeke os problemas, mas ele também expõe o que pode ser feito. Para evitar sofrimentos e ansiedades na vida do pastor, lhe é orientado a dar menos importância as criticas e pensar de maneira positiva sobre elas. O capítulo dezenove “Sua pregação”, envolve o ministro pregador, com o que é inegociável para o cristianismo, ou seja, Cristo sendo pregado e recebendo a centralidade nisto, a tarefa do pregador não é fácil, mas contém nobre honraria, visto que pela pregação um desgraçado recebe a graça salvadora, é necessário então que o ministro leve a mensagem de Jesus até as ultimas consequências, por amor de Seu nome. No capítulo vinte “Seu pastoreio”, percebe-se que a uma ligação muito íntima com o capítulo anterior, tratando da vida pastoral Beeke continua a trazer mais orientações como “Sem a orientação de um pastor, as ovelhas se destruirão de uma maneira ou de outra. Sem um pastor, as ovelhas não podem alimentar a si mesmas, defender-se de ataques ou curar a si mesmas quando feridas. Sem o pastor as ovelhas não podem fazer nada”. A parte quatro, assim como o último capítulo do livro é o vinte e um “Suas convicções para vencer o mundo”, de maneira teológica e pastoral, Beeke conclui sua obra sob o olhar das convicções que devem permear a mente e o coração do ministro. Estas o levarão a ser vitorioso contra o mundo. Ela são: Colaborar Com a Suficiência do Espírito; A compra Das Ovelhas Por Cristo, o Redentor e Glorificar o Deus Que Elege. A finalização da obra é incentivadora e anima o leitor a confiar, permanecer e perseverar em Cristo.
A obra de Beeke é excelente, pois o autor tem um dom dado por Deus, o livro é recomendável a todo crente, entretanto é indispensável para o ministro da Palavra e o aspirante ao sagrado ministério. A leitura e releitura se fazem necessária.
Contudo, uma ressalva é necessária, a obra se estende por demais em fazer citações diretas, e isto torna a leitura um pouco truncada, visto que poderia ser muito fluida. O assunto é interessante, relevante e cativante, e isso desperta interesse no leitor, isso poderia ser melhor aproveitado caso não fosse as excessivas citações diretas, a autores externos.
A critica apresentada acima, não denigre e nem mancha a obra. É uma mera observação de um leitor em desenvolvimento pessoal e pastoral. A forma simples que o autor emprega as palavras é fundamental para uma compreensão plena. O autor sempre apresenta uma dependência trinitária que é formidável. Algo que todos os ministros devem ser encorajados a ressaltar. O livro cumpre com seu papel, entregando ao leitor o Norte para vencer o mundo e se aproximar de Cristo. Soli Deo Glória!