Lili Machado 01/11/2012As tapeçarias parecem retratar a sedução de um unicórnio a uma dama, mas a estória delas permanecia desconhecida, até agora... A Dama e o unicórnio é a resposta da escritora Tracy Chevalier, ao mistério por trás de uma das maiores obras de arte do mundo – um conjunto de tapeçarias medievais que atualmente estão apresentadas no Museu Cluny em Paris.
Elas parecem retratar a sedução de um unicórnio a uma dama, mas a estória delas permanecia desconhecida, até agora...
Paris, 1490 – Jean Le Viste, um nobre francês, encomenda seis tapeçarias para celebrar sua ascenção na Corte. Para tanto, ele contrata o arrogante, talentoso e sedutor Nicolas des Innocents para desenhá-las.
Enquanto mede as paredes onde serão colocadas as tapeçarias, Nicolas conhece uma bela jovem, Claude, filha de Jean Le Viste, e a paixão que surge entre eles é impossível e proibida – por conta da diferença de classes sociais.
A única forma de comunicação dos sentimentos deles, é através dos desenhos das tapeçarias.
Genevieve Le Viste, mulher do nobre, pede a Nicolas para criar cenas em que apareçam um unicórnio, mas o amor dele por Claude inspira os rostos e gestos das mulheres que compõem as cenas.
Nicolas semeia discórdia entre as mulheres da casa – mãe e filha, servas e damas de companhia – antes de levar seus desenhos até Bruxelas, onde as tapeçarias serão tecidas.
Lá, Georges de la Chapelle arrisca tudo que tem para terminar a confecção das tapeçarias – um trabalho fino, delicado, intrincado – a tempo de agradar seu cliente francês.
O resultado muda a vida de todos – vidas capturadas nas tapeçarias, vistas por aqueles que sabem ver.
Em A dama e o unicórnio, Tracy Chevalier reúne fatos históricos, arte e fantasia, numa intrigante trama literária, bela e atemporal – uma estória extraordinária, contada de forma magnífica, a exemplo de sua obra prima, Moça com brinco de pérola.
Este é um estudo sobre poder social e os conflitos entre o amor e o dever, que resulta em poderosa beleza, e que nos faz imaginar que filme fantástico sairia deste livro.
Fatos históricos: Os tapetes são interpretados como mostrando os cinco sentidos - paladar, audição, visão, olfato, tato e "A mon seul désir" (o meu único desejo - numa tradução literal), este último interpretado como o amor. Cada um dos seis tapetes mostra uma senhora nobre e um unicórnio, e alguns incluem um macaco ou um leão na cena. As flâmulas, bem como os brasões de armas do Unicórnio e do Leão nos tapetes carregam as armas do nobre que os patrocinou, Jean Le Viste, poderoso na corte de Carlos VII de França. Os tapetes foram redescobertos em 1841 por Prosper Mérimée, no castelo de Boussac.
A tapeçaria do paladar - A Dama serve-se de um doce num prato, seguro por uma criada. Seus olhos fixos num papagaio que está apoiado em sua mão esquerda. O leão e o unicórnio estão deitados atrás delas, como uma moldura à senhora. Um macaco aparece aos pés, comendo um dos doces.
A tapeçaria da audição - A Dama toca um instrumento sobre uma mesa. A criada jaz em pé do lado oposto, apoiando-se no instrumento. O leão e o unicórnio também ornam o centro da figura, mas nesta tapeçaria suas posições estão invertidas - de forma que eles ficam ao centro da composição.
A tapeçaria da visão - A senhora está sentada, segurando em sua mão direita um espelho. O unicórnio está ajoelhado, com sua pata direita no colo da dama, a quem contempla pelo reflexo no espelho. O leão está ao lado esquerdo.
A tapeçaria do olfato - A senhora está de pé, compondo uma grinalda de flores. Sua criada segura uma cesta de flores, ao seu alcance. Novamente leão e unicórnio ornam a figura, enquanto o macaco surge, tendo apanhado uma das flores, encerrando assim a alegoria, cheirando-a.
A tapeçaria do tato - A dama ergue uma das mãos, tocando o chifre do unicórnio, enquanto a outra aponta para cima. O leão jaz, observando a cena.
A tapeçaria A Mon Seul Désir - Esta tapeçaria é mais larga que as outras, e tem um estilo um pouco diferente. A senhora se levanta em frente a uma barraca, e na parte superior lê-se: À Mon Seul Désir ("Ao meu único desejo"). A criada está ao pé, à direita, abrindo um pequeno baú. A dama está colocando um colar, com o qual aparece nas demais peças. A sua esquerda um banco com bolsas de moedas. O leão e o unicórnio estão em suas posições normais. Esta tapeçaria tem suscitado diversas interpretações. Uma delas diz que a dama pondo o colar no baú expressa a renúncia das paixões, despertadas pelos outros sentidos, e como uma livre afirmação da vontade. Outros dizem que representa o sexto sentido do entendimento. Outras tantas vêem como o amor, ou a virgindade.