Tudo o que Poderíamos Ter Sido

Tudo o que Poderíamos Ter Sido Zeka Sixx




Resenhas - Tudo o que Poderíamos Ter Sido


10 encontrados | exibindo 1 a 10


Barbara Miho 07/02/2021

Resenha completa no Instagram: @livrosdamiho
Tudo o que poderíamos ter sido me deu um susto logo nas primeiras páginas, isso pq, não achei q o autor levaria a tríade sexo, drogas e rock N roll tão ao pé da letra rsrs.

O livro aborda um conteúdo extremamente explícito, alguns trechos me causaram um nojinho kkkkk (mas isso pq eu não tenho costume de ler Hot ou 18+ kkkk).

Algo que acabou me chamando a atenção foi as críticas políticas que o autor trouxe sob a perspectiva dos personagens, críticas sociais extremamente válidos. Zeka Sixx conseguiu trazer tópicos importantes sem levantar quaisquer bandeiras políticas. O que me motivou a continuar a leitura. O livro tem uma escrita fluída e de fácil entendimento.

Pude enxergar os personagens como pessoas que tentam achar meios para sobreviver em meio a essa sociedade sufocante, tentam fugir da realidade a todo custo, mesmo que não faça parte da minha realidade, mas acredito que representa muitos brasileiros afora.
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Poesia na Alma 31/01/2021

Tudo o que poderíamos ter sido, de Zeka Sixx, Editora Coralina, era o livro da leitura de fevereiro, mas, antes disso, se mostrou uma leitura tão rápida e fluída que foi prematuro, ou uma rapidinha, entendedores, entenderão.



Classificado como literatura pornográfica ou erótica, o livro promete desde a sinopse e não engana, é sexo, droga e rock. Ainda na sinopse, como bem colocado, três personagens imaturos, que, ao que parece, lutam para permanecerem no lugar de jovens, são o retrato de uma geração (diga-se de passagem, uma parcela).

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Gramatura Alta 30/11/2020

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Porto Alegre, abril de 2016. Em meio aos dias tensos que sucederam à votação do impeachment, três jovens sem planos para o futuro – ou mesmo para o presente – se apaixonam e desapaixonam, enquanto flertam com outras tentações e procuram, sem muito esforço, entender se a manjada tríade sexo, drogas e rock-and-roll ainda é a única resposta para o vazio e a desesperança.


Lola trabalha na noite, é uma DJ, e sabe que o espaço conquistado se deve não apenas à sua competência, mas também, e talvez principalmente, à sua beleza. Ela aproveita o que aparece com total dedicação, e isso em relação às bebidas, ao sexo, à música, quase sem apresentar limites. Isso não significa que seja realizada ou feliz, mais parece uma camada de ilusão que existe para que não desmorone.

César é um advogado de classe média, o homem mimado que carrega consigo, apesar da idade, acima dos 30 anos, a famosa Síndrome de Peter Pan, ou seja, aquele comportamento infantil e imaturo característico do gênero masculino, que não consegue crescer mentalmente e nem em comportamento. Isso pode até ser o resultado de uma profissão que não deseja, motivo de pressão familiar. Ou mesmo uma forma de se vingar pela infelicidade da vida que é obrigado a levar. É a representação do macho alfa, cis, branco, previlegiado, frustrado.

Júlia é irmã de César e vem de um relacionamento sem qualquer emoção. Terminou esse relacionamento e agora procura por algo que lhe dê algum significado, tenta recuperar o tempo perdido. Entretanto, ela tem um história de bebidas e drogas que compromete as escolhas futuras. Embora irmã de César, ela conseguiu me passar melhores sentimentos, uma certa simpatia, principalmente por sua consciência política e social, brevemente discutida em alguns diálogos que mantém com seu ex.

A narrativa é em primeira pessoa, feita por diferentes personagens a cada capítulo, e, por vezes, se assemelha a uma sequência de contos que se interligam de forma direta ou indireta. Tanto é que, alguns deles, podem ser lidos de forma aleatória. E embora os três personagens sejam bem diferente, eles possuem algumas características em comum: uma vida vazia, sem um futuro breve definido. E por vazia, quero dizer, sem um sentimento profundo e duradouro, com os próprios ou com outros, que os leva a passeios solitários, sexo apenas pelo prazer, sem qualquer vínculo afetivo, muita bebiba para tornar levar a consciência a uma ilusão escapista da prisão em que vivem. Uma prisão sem muros, porque os três são limitados pelas próprias incapacidades de criarem qualquer coisa mais consistente e que os satisfaça ou os realize.

Além de outros personagens secundários, como Bianca, uma escritora que está para lançar seu novo livro, e Max, o personagem principal do livro anterior do autor, A ERA DE OURO DO PORNÔ (que inclusive é o título do livro de Bianca), e que possuem seu lugar dentro da narrativa, embora de forma menos importante, vale destacar um que é presente de forma bastante significativa nas romances do autor, embora não tenha corpo ou forma: o sexo. O sexo é peça fundamental do livro anterior, e neste se mantém. Sabe-se e espera-se, a cada capítulo, como, quando e onde será praticado o sexo do narrador desse capítulo, e a expectativa é se será ainda mais explicito, ou com alguma descrição menos usual, mais surpreendente, do que o anterior. Em comparação com romances do gênero Hot, se tem uma coisa que os livros do autor se diferem, é na criatividade e na sempre diferente relações sexuais, quase nunca são repetidas e cada vez mais impactantes. E isso sem apelar para violência, mas por serem cruas e diretas como a escrita.

E falando nisso, apesar de eu gostar bastante da escrita do autor, de seu estilo cru e bruto de descrever as situações e as ações dos personagens, sem qualquer censura, mas sem avançar a linha do inaceitável, ela é impregnada de forma inerente por seu gênero, ou seja, é um homem tentando criar vozes femininas, e embora muitos consigam com relativa credibilidade e fidelidade, o mesmo não acontece com Lola e Júlia. Em diversas partes, é de se notar que os pensamentos, as atitudes e as reações, condizem mais com as de um homem, do que com as de uma mulher. Isso se destaca principalmente pelo autor não conseguir diferenciar, em alguns casos, que liberdade sexual, não significa dar voz à mulher. Liberdade feminina vai muito além de poder escolher com quem e onde transar. Entretanto também reconheço uma forte tentativa de conseguir, de convencer, e acredito que, com o tempo, e talvez, com uma abertura maior para o universo feminino, eventualmente o autor consiga atingir o objetivo de forma mais eficiente e natural.

Um outro detalhe que poderia ter impactado minha leitura, são as menções à realidade política e social brasileira no ano em que se passa a história: 2016. A narrativa não é levada para qualquer debate político e nem toma partido, o que me deixou aliviado. Confesso que se ela seguisse pelo caminho de defender um determinado lado do que acontecia na época, ainda mais pela situação totalmente calamitosa que vivemos hoje em dia, muito devido às péssimas escolhas dos últimos anos, eu seria obrigado a interromper a leitura. Felizmente, o cenário brasileiro é apenas comentado, para ilustrar uma ou outra situação, ou um ou outro diálogo.

TUDO O QUE PODERÍAMOS TER SIDO é um título que explica perfeitamente os personagens. Todos os três são frutos das escolhas que fizeram, ou das escolhas a que foram impostos, e nenhum deles está satisfeito com o resultado. O que eles possuem é o desejo de conseguirem chegar naquilo que poderiam ter conseguido, que, por consequência, poderia representar a felicidade e a realização que não possuem. É uma história de possibilidades, onde fica claro a tristeza e a frustração, abafada pela música, pela bebiba e pelo sexo, uma vez que é apenas isso que resta para tentar ocultar aquilo que não conseguiram conquistar.

Pessoalmente, confesso ter gostado bem mais deste livro do que A ERA DE OURO DO PORNÔ. Este tinha o objetivo de mostrar o sexo como é apresentado em filmes pornô, apenas como intervalo entre situações, ou mesmo o contrário, onde as situações eram o intervalo entre o sexo. Já em TUDO O QUE PODERÍAMOS TER SIDO, a crueza e a explicidade do sexo se mantém, mas desta vez ele possui interpretes e está inserido no contexto da vida dos personagens, além de explicar, pela indiferença na qual o praticam, o vazio que possuem. Vale muito pela discussão que levanta, sobre uma geração que está cada vez mais perdida, mais sem propósito, à deriva.

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Ich heiÃe Valéria 31/07/2020

Leitura divertida e despretensiosa
Zeka Sixx retorna ao universo das letras em sua mais nova obra, intitulada Tudo o que poderíamos ter sido, publicada pela Editora Coralina.


Assim como a obra antecessora - A era de Ouro do Pornô - temos os elementos já recorrentes em sua escrita, possuindo o mesmo ritmo alucinante e psicodélico, algo que Zeka faz com maestria.


A trama é ambientada em 2016, num cenário caótico da política brasileira, que já dá claros indícios de piora eminente. Acompanhamos o dia a dia de três jovens que terão seus destinos cruzados, tratando-se de indivíduos que compartilham de uma Porto Alegre, outrora efervescente, e que se encontra em decadência, para os padrões dos personagens: eles já viram dias melhores na capital gaúcha nos tempos de juventude inconsequente e aventureira...


César, Julia e Lola possuem mais elementos em comum do que imaginam e transformam suas noites em momentos orgiáticos, regados a drogas, bebidas, sexo e desilusões.


A obra tem um teor erótico que soa divertido, escatológico e vertiginoso, mascarando e ao mesmo tempo desvelando indivíduos cansados - que carregam nos ombros um vazio existencial - e tristes.


Os diálogos são lugar-comum, cheio de gírias típicas de sua geração, e ao mesmo tempo mordazes, representando bem a modernidade líquida do século XXI.

http://naliteraturaselvagem.blogspot.com/2020/07/tudo-o-que-poderiamos-ter-sido-zeka-sixx.html?m=1
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Carla Brandão 23/07/2020

A sinopse não mente: Tudo o que poderíamos ter sido contém sexo, drogas e rock and roll do início ao fim. Na vida dos três principais personagens retratados em suas páginas, a tríade ocupa lugar de destaque.

Lola é uma DJ cheia de atitude e dona de uma beleza e de uma sensualidade capazes de virar todos os pescoços ao entrar em qualquer ambiente. Livre, permite-se viver tudo aquilo que tem vontade, em todos os aspectos de sua vida. Bebe muito, fuma bastante e se relaciona com qualquer pessoa que desperte seu interesse, homem ou mulher. Vive o momento presente e desconfia não ter um longo futuro pela frente.

César é um advogado na metade da casa dos trinta. Oriundo de uma família rica, sua independência é apenas de fachada. A vida que leva, o carro que possui e o apartamento no qual mora sozinho só são possíveis porque continua sendo bancado pelos pais. Apesar de todos os privilégios, está longe de poder ser considerado um cara feliz. E mais longe ainda de poder ser considerado um cara bacana. César tem comportamentos reprováveis e comentários piores ainda, principalmente no que se refere às mulheres.

Julia é a personagem mais jovem e também a que parece estar mais perdida. Depois de começar e parar duas faculdades, formou-se quase por obrigação, sem paixão alguma pelo curso escolhido. Após terminar um relacionamento de quatro anos, decide fazer uma viagem para a Tailândia. O que era para ser um recomeço, acaba trazendo à tona problemas vivenciados por ela anteriormente e que a acompanham na volta ao Brasil. Diz-se feminista, mas o discurso nem sempre condiz com a prática.

Do ponto de vista afetivo, nenhum personagem me conquistou. Mas desconfio que eles não foram criados para despertar a simpatia do leitor, e sim para retratar pessoas que poderiam ser (e talvez sejam) nossos vizinhos, nossos colegas de trabalho e (socorro!) nossos familiares. Suas falas e seus comportamentos são facilmente encontrados fora das páginas. O trio de protagonistas é um recorte bem fiel da sociedade atual.

A linguagem utilizada pelo autor vai direto ao ponto, sem rodeios. As palavras escolhidas são, muitas vezes, chulas e podem assustar leitores desavisados, principalmente nas cenas de sexo. Apesar disso, o livro é bem escrito e a leitura flui facilmente.

A ambientação é impecável, é quase como se Porto Alegre fosse também protagonista. O autor explorou as particularidades da cidade, sua vida noturna e as características da sociedade porto-alegrense.

O livro possui capítulos curtos, e cada um deles é narrado em primeira pessoa por um dos personagens. A princípio parecem narrativas independentes, mas pouco a pouco acompanhamos as histórias se cruzando e as relações entre os narradores se tornando claras.

Tudo o que poderíamos ter sido traz de forma crua e direta a busca desenfreada pelo prazer e pela satisfação (ou a fuga do desprazer e do sofrimento). O sexo e as drogas deixam de ser fim para tornarem-se meios. Nessa busca-fuga, resta o vazio nos intervalos, insuportável para todos os personagens. Insuportável, talvez, para a maioria de nós.

site: https://blog-entre-aspas.blogspot.com/2020/07/resenha-tudo-o-que-poderiamos-ter-sido.html
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 18/07/2020

Zeka Sixx - Tudo o que poderíamos ter sido
Editora Coralina - 216 Páginas - Diagramação, projeto gráfico e capa: Angel Cabeza - Lançamento: 2020.

Na cidade de Porto Alegre, em 2016, assim como em todo o país, ocorre um fenômeno de polarização política decorrente do processo de impeachment de Dilma Rousseff com reações na sociedade brasileira oscilando entre a alienação e o ódio. É este o cenário no qual Zeka Sixx posiciona seus personagens, representantes de uma classe média sem esperanças e vivendo em um eterno tempo presente de sexo, drogas e Rock'n Roll. O autor utiliza os recursos de uma linguagem coloquial e explícita, capturando a atenção do leitor com um estilo cinematográfico de alta velocidade narrativa, lembrando os textos de Clara Averbuck e a energia de Charles Bukowski.

Cada capítulo é conduzido em primeira pessoa, alternando vozes femininas e masculinas e pode ser lido de forma independente como se fosse um conto mas, aos poucos, as relações entre os personagens se tornam claras. Lola é atriz e DJ e atua como um elo entre os demais, sendo desejada por todos. Ela tem um comportamento libertário e não se interessa por relações duradouras, movida apenas por sexo e álcool, vive intensamente as noites intermináveis de Porto Alegre, que começam a cobrar o seu preço, mesmo tendo ela apenas trinta e dois anos.

Bianca é uma jovem escritora "maldita" que obteve muito sucesso com romances envolvendo taras sexuais e prepara o lançamento de seu terceiro livro: A Era de Ouro do Pornô. Ela é a primeira a se relacionar com Lola e a apresenta para sua amiga Júlia que passou por problemas com o consumo de drogas. No trecho em destaque abaixo, Júlia descreve a sua viagem para a Tailândia, Bangkok, onde cometeu todos os excessos possíveis para esquecer um relacionamento anterior de quatro anos com Marcos, um partidário da extrema direita brasileira.

"O tempo vai passando e as coisas começam a se tornar confusas e embaralhadas. Vou ao mar, mergulho, volto, peço outro drinque. Repito a operação umas três vezes. Lá pelas tantas, começo a alternar drinques e cervejas, ou a tomar os dois ao mesmo tempo, não tenho certeza. O sol vai embora e, estranhamente, quanto mais escuro fica, mais gente chega à beira da praia. Os quiosques começam a ficar lotados, todos tocando música eletrônica. No Moonlight Beach Bar, não há mais qualquer rastro do gatinho sem sal, tampouco das excelentes canções que ele estava colocando; em seu lugar, três atendentes tailandeses discutem entre si e fazem o possível para atender a todos os clientes que agora superlotam o bar. Tochas são espalhadas pela areia, com o volume do techno – ou seria trance? – ficando cada vez mais alto. A praia vira uma espécie de rave a céu aberto." (p. 54)

Ao retornar para o Brasil, Júlia se apaixona perdidamente por Lola e fará todo o possível para conquistá-la. O trecho em destaque abaixo, narrado por Lola, descreve a aproximação entre as duas em uma casa noturna onde ela trabalha como DJ: "As pessoas dançam, esbarram umas nas outras, pulam, atiram bebida para cima, como se estivessem em um show de rock. Poucas coisas, para mim, superam esta satisfação de ter a pista de dança na palma da mão."

"E então, ofegante após o longo beijo, Júlia enfim revela sua verdadeira natureza. Sem qualquer pudor, ela se ajoelha, virada de frente para mim. Enfia as duas mãos por baixo da minha minissaia e puxa a calcinha para baixo, fazendo-a deslizar suavemente até o chão. Olho para baixo e vejo-a balançar a calcinha no ar, dando uma piscada zombeteira antes de guardá-la em sua bolsa, como se tivesse sido confiscada. Afasto um pouco minhas pernas para facilitar o seu trabalho. Em um primeiro momento, custo a acreditar que ela realmente vai levar isso adiante. Mas, pensando bem, por que não? Ela está totalmente protegida pelo balcão e pela mesa de som, que me cobrem até a altura do umbigo, mais ou menos. Admira-me o fato de que ao longo de todos esses meus anos como DJ, nenhum dos panacas aleatórios com quem fiquei tenha tido uma ideia brilhante dessas." (p. 113)

César, irmão mais velho de Júlia, é um típico "filhinho de papai" que se recusa a crescer e, com trinta e poucos anos, continua levando a mesma vida desde a adolescência. Sem ter conhecimento de que a irmã havia ficado com Lola, ele também tem a sua vez com a "rainha da noite" mas, depois de uma "performance sofrível" na cama, só consegue um segundo encontro devido ao interesse dela por sua maconha extra forte, tudo registrado nas redes sociais, é claro.

"Ela escolhe o famigerado filtro de cachorrinho, aperta o baseado entre os lábios, fazendo cara de má e batemos uma foto estilo casalzinho, cabeças encostadas e tal. O registro fica bom demais para permanecer no completo sigilo, então enquanto Lola segue degustando sua maconha anabolizada, eu posto a foto no Snapchat. Ao menos por vinte e quatro horas, todos saberão que alcancei o topo do mundo. Suspendi minha conta no Facebook faz uns seis meses, mais ou menos. Aquilo lá ficou insuportável. Admito: fui vencido pelos algoritmos. A partir do momento em que discussões sobre política e textões lacradores passaram a ser priorizados em detrimento de postagens mais amenas, como convites para festas, citações de músicas e livros, ou meros comentários sobre o cotidiano, pulei da barca. Nem para pegar mulher serve mais aquela porcaria. Já o Instagram e o Snapchat, estes sim ainda têm bastante serventia e, por enquanto, estão conseguindo ficar razoavelmente imunes aos flagelos que liquidaram o Facebook." (p. 132)

Destaque para a trilha sonora que merece até um resumo com todas as referências musicais de cada capítulo, desde os clássicos dos anos sessenta como Jimi Hendrix, The Doors e Rolling Stones, avançando no tempo com: The Clash, Blondie, The Kinks, Siouxsie & The Banshees, New Order, Pixies, David Bowie e muitos outros. O romance não tem a pretensão de se levar a sério, mas é autêntico e considero uma indicação certa de entretenimento, conseguindo atingir aquela ambicionada classificação: difícil de largar do início até o final.

Sobre o autor: Zeka Sixx é gaúcho, nascido em 1983, e mora em Porto Alegre. Além de escritor, é advogado e DJ (nas horas vagas). É autor também do livro de contos O Caminho dos Excessos (Edição do Autor) e do romance A Era de Ouro do Pornô (Editora Multifoco).
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Priih | Blog Infinitas Vidas 17/06/2020

Bem escrito, mas não me identifiquei
O livro, ambientado em Porto Alegre na época do golpe impeachment de 2016, é narrado principalmente por três personagens: Lola, uma DJ sensual que aproveita a vida colecionando transas de uma noite; César, um advogado privilegiado e desmotivado com a vida; e Júlia, irmã de César, que recém terminou um namoro longo e fracassado e está em busca de alguma sensação “real”. Com o decorrer das páginas, o caminho dos três personagens se cruza e provoca algumas reflexões em cada um deles.

Sendo eu mesma de Porto Alegre, reconheci em vários momentos da leitura as características que marcam, principalmente, a noite gaúcha. Entre lugares icônicos da cidade, festas super conhecidas e bairros marcantes, foi fácil imaginar os acontecimentos do livro fora das páginas. Devo dizer inclusive que conheço pessoas que agem (ou um dia agiram) exatamente como Lola, César e Júlia, o que faz com que os personagens sejam bem realistas. Essa característica marca a escrita de Zeka Sixx: a narrativa é bastante direta e o linguajar é chulo, se assemelhando a conversas e diálogos reais – com seu bônus, mas também seu ônus.

[...] Quando li a sinopse do livro e topei resenhá-lo, eu tinha uma expectativa bem maior em relação ao cenário político. Infelizmente, porém, as discussões a respeito do impeachment não se aprofundam, aparecendo apenas em um ou outro diálogo. Além disso, cada capítulo tinha necessariamente uma cena de sexo no presente ou uma lembrança de sexo épico no passado. É um recurso que acabou me cansando um pouco, porque parecia que a história não tinha um rumo certo além de narrar as noites dos três personagens principais. [...]

Outra problemática que vale pontuar é o modo como o sexo é explorado no que diz respeito às personagens femininas. É costumeiro confundir liberdade sexual com empoderamento feminino, mas essas duas coisas não necessariamente andam juntas – em um país onde ocorrem em média 180 estupros por dia, eu acredito que a possibilidade de dizer “não” (e ter sua decisão respeitada) é um dos maiores sinais de empoderamento. E, para concluir esse tópico, existe uma cena de revenge porn cujo peso e importância não ganham o destaque merecido, parecendo mais uma fetichização que um crime capaz de destruir vidas.

Apesar dos pontos levantados, eu li Tudo o Que Poderíamos Ter Sido em apenas 2 dias. Os capítulos não cansam e a escrita de Zeka Sixx foi capaz de me manter envolvida com a trama – mesmo que eu não concorde com praticamente nenhuma das decisões tomadas por ele na condução da história e no desenvolvimento dos personagens. Se eu sentisse que houve reflexões sobre esses pontos que levantei, certamente daria outra chance para a escrita do autor. Mas, de modo geral, é um livro que difere muito do que eu pessoalmente acredito. Com tudo isso em mente, reforço que é sempre válido dar uma chance para tirar suas próprias conclusões. 😉

Resenha completa no blog. Espero você!

site: https://infinitasvidas.wordpress.com/2020/06/10/resenha-tudo-o-que-poderiamos-ter-sido-zeka-sixx/
() 23/02/2021minha estante
não li o livro mas acho muito importante seu ponto sobre como o autor tratou as personagens femininas. muitos autores levam seus achismos (quando não machismos) sobre as mulheres para os livros com temas mais "picantes". e a maioria das pessoas, incluindo muitas leitoras, nem percebem isso. é preciso SIM falar dessa sexualização da violência não consentida!




Francisco.Antunes 03/06/2020

Tudo O Que Vale a Pena Ser Lido!
Bebendo da vida cotidiana de uma geração que hoje anda na casa dos 30-e-alguma-coisa, o conteúdo de "Tudo O Que Poderíamos Ter Sido" o torna aqueles livros que é uma delícia de se ler. Capítulos curtos, diálogos afiados e ótimas sacadas. Indo além do prazer do texto que segura o leitor pela mão e não larga mais, há desafios que o próprio autor lançou para si e que elevam a obra a um patamar acima da média: quebrar o “lugar de fala”, múltiplos personagens e um subtexto político sem engajamento. Este último ponto é um tapa na cara de todos nós mortais que temos que lidar com a cratera fumegante que se tornaram as redes sociais pós-bombardeiro político dos últimos anos, que fustigou nossas relações familiares e amizades, mas pouco mudou, como a política de fato é no Brasil.

Como cereja do bolo, o autor ainda cria seu próprio “universo” ao aludir a eventos de seu livro anterior, "A Era de Ouro do Pornô". Ao cruzar linhas de tempo e resgatar antigos personagens com mão firme, ele mostra um desapego implacável que não prejudica novos leitores ao mesmo tempo em que dá um aceno camarada àqueles que já vinham acompanhando a carreira de Zeka Sixx.
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Larissa | @paragrafocult 23/05/2020

"Às vezes, simplesmente escolhemos ser burros, estúpidos, e não há nada que possa ser feito. Viva o livre-arbítrio!"
Sempre gostei muito de livros que abordam temas mais reais, com personagens imperfeitos onde posso me identificar com seus problemas, dramas e gostos. Acho que obras (não falo apenas de livros) que nos apresentam personagens realistas acabam me conquistando bem mais do que aquelas onde seus protagonistas parecem ter sido moldados em um formato padrão de aparência e personalidade, como se tivessem sido feitos para agradar e se aproximarem da perfeição. Personagens assim me deixam um pouco entediada e não me conquistam, acabo achando tudo previsível demais. Sem contar que quando a realidade dele é parecida com a minha, consigo me sentir dentro da história e consequentemente, aproveito melhor da leitura.

Esse livro é diferente dos outros que costumo ler. Uma obra mais adulta, repleta de um vocabulário mais desbocado e com cenários e personagens realistas. Narrado por três personagens em capítulos alternados (apenas um capítulo lá para o fim do livro que é narrado por um quarto personagem), a obra se passa em Porto Alegre, no ano de 2016. A política brasileira está em polvorosa com o possível impeachment da presidente Dilma e no meio dessa zona que tem se dividido entre esquerda e direita, repleto de "Fora, Dilma!" e etc, temos os três personagens principais do livro.

Os anos dourados da juventude onde tudo parecia ser mais fácil estão cada vez mais distantes porém eles não parecem querer desapegar, desatar o nó dessa época fácil para assim aceitar a vida adulta junto de toda a bagagem de responsabilidade que vem junto dela. Lola é uma DJ de trinta e dois anos que tem total consciência de que grande parte do que possui é fruto de sua aparência, já que é muito atraente. O seu estilo rock 'n' roll não se limita apenas a sua aparência, afinal, ela não coloca limites quando quer aproveitar, seja com relação a bebida quanto ao sexo. Quer aproveitar a vida e viver o momento, sem pensar muito no que a aguarda no futuro, já que acha que não viverá tanto assim.

César é um cara com seus trinta e poucos anos porém com uma mentalidade e estilo de vida de um adolescente. Vindo de uma família rica, só se formou na faculdade por conta de pressão familiar e por causa disso, está preso em um emprego que odeia. Sua forma de pensar me incomodou em muitos momentos. Ele quer apenas curtir como fazia quando jovem. Transar com muitas mulheres, viajar e ser bancado pelos pais sem ter que fazer muito esforço. Inclusive, essa sua fixação por sexo o fazia tecer comentários bem ridículos sobre as mulheres quando as analisava fisicamente, tentando ver se conseguiria algo com elas.

Já a Júlia, irmã mais nova de César, foi a personagem que mais gostei. Acabara de sair de um relacionamento bem ruim e começa o livro querendo mudar, começar uma vida nova depois de anos de um namoro que não lhe acrescentou em nada. Um dos motivos para o fim do seu relacionamento se deviam as divergências políticas já que ela é obviamente de esquerda e seu ex é o perfeito "machão de direita" que vemos aí pela internet, com discursos agressivos e machistas. Com um passado envolvendo também um vício pesado em drogas que a levou algumas vezes para a rehab, além de um comportamento autodestrutivo, ambos unidos a uma vontade enorme de mudar, sua história foi de longe a que mais me agradou pois me apresentou mais camadas. Apesar de mimada, não chega ao ponto de ser como seu irmão mais velho, o César, portanto é uma personagem mais agradável.

São personagens imperfeitos e em muitos momentos detestáveis, dos quais os seus sentimentos com relação a eles vão se alternar entre o amor e o ódio. Ao menos foi isso que aconteceu comigo. Em alguns momentos eu adorava algum dos três porém em outros eu tinha vontade de lhes agarrar pelos ombros e sacudir-lhes, para tentar trazê-los de volta para a a realidade.

É notável em cada uma das narrativas dos três protagonistas que suas vidas sem limites e regras se deve como uma forma de fugir das suas realidades. Cada um deles quer fugir de algo e encontram formas autodestrutivas de fazer isso.

Eu falei ali em cima sobre personagens dos quais podemos nos identificar porque aqui na obra são levantados muitos pontos que se assemelham a realidade da geração atual. No começo do livro mesmo, o César em sua primeira narrativa já nos fala que seu pai se casou aos vinte e quatro anos e que já aos vinte e oito sustentava facilmente a casa inteira e três filhos, aproveitando para questionar o leitor sobre quais as chances de algo assim acontecer nos dias de hoje, quando cada vez mais é adiado o ato de sair da casa dos pais por motivos financeiros.

Os três personagens são diferentes e ao mesmo tempo bem parecidos, afinal, vivem no limite com a intenção de aliviarem um pouco das suas cargas emocionais e do vazio que carregam em si. Inclusive esse último, o vazio, é quase que um personagem do romance, presente em todos os momentos mesmo que nunca seja citado.

Disse que o personagem que menos gostei foi o César e a que mais gostei foi a Júlia mas a Lola realmente me deixou no meio termo. Toda "desconstruidona", a DJ questiona muito a sociedade conservadora de hoje e seus tabus. Decidida, de personalidade forte, livre e sem amarras quando o assunto é sexo e sexualidade, ela gosta de manter seus relacionamentos em apenas prazer, sem envolver nada sério. Porém, acho que esse seu jeito desconstruído e livre em alguns momentos a deixou um pouco caricata mas isso foi lá pela metade do livro mesmo, depois essa sensação foi passando e a personagem me agradou um pouco mais, principalmente quando entendemos as suas razões para ter escolhido essa vida louca. Razões compreensíveis, reais e claro, tristes. Essa parte do livro, inclusive, me fez gostar mais ainda dela.

Esse não é um livro leve. Sexo, drogas, rock 'n' roll e outros tabus como sexualidade, política e pornografia estão presentes em toda a obra. Sexo, principalmente, e sem nenhum pudor ou tabu. Este inclusive é narrado de forma explícita, porém como os personagens usam muito do ato como um escape, toda a ação é narrada de forma que você perceba que ali não há sentimentos e que a única intenção do personagem no momento é "gozar" e acabou, tchau.

O cenário político brasileiro de 2016 é um pano de fundo caótico para os acontecimentos do livro, sendo citado em alguns momentos rápidos através de outros personagens durante conversas, porém sem muito aprofundamento.

Outros personagens que aparecem e se mostram interessantes são Bianca, amiga e em alguns momentos amante de Lola, jovem autora de romances eróticos que andam fazendo sucesso em território nacional e Max Califórnia, o único cara que Lola parece não conseguir esquecer.

O final do livro foi bastante satisfatório para mim. Não deixou pontas soltas, foi um final fechado porém ao mesmo tempo sem um ponto final. Fiquei com vontade de saber o que vem depois do último capítulo, o que aguarda cada um daqueles personagens no futuro. Até mesmo o Max que só apareceu na segunda metade da obra e narrou apenas um capítulo, me deixou curiosa com relação ao que o espera futuramente. Gosto desses finais "fechados" porém que permitem possibilidades.

Outra coisa que gostei bastante foi da playlist do livro. Há muitas referências musicais na obra, principalmente do bom e velho rock 'n' roll, a maioria delas vindas de Lola que é DJ porém os outros personagens não ficam muito para trás, o que deixou todo o livro com uma vibe bem "sexo, drogas e rock 'n' roll" mesmo, o que acho que era a intenção do autor. Em muitos momentos eu me peguei cantarolando algumas das músicas citadas ou li as cenas com a música tocando baixinho em minha mente.

É um romance ácido, que provoca, incomoda, critica e em alguns momentos pode chegar a alfinetar o leitor e o cenário brasileiro. Com o vocabulário bem desbocado, muita música, sexo, tabus, drogas e um pouco de política, além dos assuntos atuais que são abordados, Tudo o que poderíamos ter sido é um livro que talvez não vá agradar a todos os leitores visto a sua temática e escrita mais crua porém, para mim, se mostrou uma leitura profunda e repleta de um conteúdo que eu sinceramente não esperava encontrar em suas páginas. Foi uma surpresa realmente positiva, visto que a obra me agradou bastante. Fiquei curiosa para ler outros livros do autor, que espero que sejam tão bons quanto esse. O melhor nacional que li esse ano.

site: https://paragrafocult.blogspot.com/2020/05/resenha-tudo-o-que-poderiamos-ter-sido.html
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douglaseralldo 12/05/2020

10 CONSIDERAÇÕES SOBRE TUDO O QUE PODERÍAMOS TER SIDO, DE ZEKA SIXX OU SOBRE GOZOS E DESGOZOS
1 - Em Tudo o que poderíamos ter sido, Zeka Sixx retoma personagens de seu A era de ouro do pornô, produz diálogos entre os dois romances, mas tem nesse novo lançamento algo mais acurado que o anterior, talvez processo natural do avanço pela narrativa. O que se mantém igual é o vazio existencial de personagens mergulhados em vidas despropositadas, regadas a drogas e sexo escapista enquanto o cenário, uma Porto Alegre noturna, decai frente a uma atônita geração que com dificuldade parece compreender seus fracassos;

2 - Marcado pela tendência contemporânea de nossa literatura em fragmentar as vozes do romance, é a de César que talvez mais evidencia não apenas a decadência dessas almas, mas as contradições na própria decadência. Com a assertividade que pode levar o leitor à concordância, aponta ele que "a decadência de uma sociedade, por mais paradoxal que pareça, fica escancarada quando se troca o sexo e a libertinagem pelo fanatismo religioso" fala ao notar a mudança da paisagem urbana, a expulsão dos puteiros da Avenida Farrapos por templos pentecostais. Em sua fala a radicalização dos extremos, ao passo que não deixa de ser preocupante o fundamentalismo e fanatismo religioso que aponta crescimento, como também não deixa de ser um amargo escape o hedonismo alienado de seus personagens em fuga, para os quais o sexo representa muitas vezes o outro extremo dessa radicalização, especialmente pela fragilidade dos vínculos e das afeições;

3 - César é uma dessas vozes do romance, meia idade, fruto de uma geração empobrecida classe média, menos pela economia e muito mais pelas estruturas de privilégios e proteções que os atiram a uma existência vazia e nostálgica, algo que parece transparecer no próprio título do romance. Junto a ele vozes de Lola, uma DJ das noites gaúchas, de Júlia, irmã de César e um Max Califórnia, que protagoniza o livro anterior tal como Bianca, personagem que pincela metaliteratura no romance;

site: http://www.listasliterarias.com/2020/05/10-consideracoes-sobre-tudo-o-que.html
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