Gabriela 10/03/2022
Entre a Cruz e a Espada é um conto que faz uma releitura da versão do Corcunda de Notre Damme da Disney na qual Esmeralda é uma bailarina vinda da comunidade do Vidigal prestes a fazer uma turnê internacional. A história se desenrola a partir de ela e seu amigo da companhia de dança presenciarem uma situação estranha em uma visita ao Vaticano.
Uma das coisas que mais me agradou nesse conto foram às referências à história narrada pela Disney. Apesar dessa Esmeralda vir de um contexto totalmente diferente, ela mantém a personalidade da Esmeralda da Disney de não conseguir se calar diante de injustiças e ser extremamente determinada. Também me agradou muito a ponte feita entre as origens da Esmeralda e a etnia da Esmeralda na animação, é fundamental que o fato da Esmeralda ser cigana seja mantido. Além disso, outra semelhança entre as duas Esmeraldas é que as duas são dançarinas: enquanto a Esmeralda da Disney exerce a dança cigana nos festivais que acontecem durante o filme, a nossa Esmeralda brasileira faz parte de uma companhia de balé bem conhecida e elitizada, mas se apaixona também pela dança do ventre, que é tida por muitos na história do conto como "vulgar" ou "promíscua".
Pegando esse gancho, o conto faz um bom apanhado de certas questões sociais, como o machismo, o capacitismo (inclusive, é outra ponte interessante entre história e releitura, já que da mesma forma que Quasímodo é descriminado por conta do seu rosto, o Leo, amigo da Esmeralda, enfrenta certo preconceito por conta de uma deficiência), o racismo, a pedofilia, o poder das instituições religiosas, entre outros.
A história é extremamente interessante, e a forma como a autora interliga diversos fatores e faz referências ao filme da Disney é surpreendente. Também me agradou bastante o senso de humor da autora, que mesmo tratando de temas sérios consegue trazer passagens bem engraçadas. Entretanto, o final se desenvolve de forma quase que apressada, mas compreendo que talvez isso aconteça por ser um conto e que talvez não houvesse espaço para um desenvolvimento mais elaborado.
No geral, foi um conto que me divertiu, me gerou perplexidade e me manteve envolvida na história até terminar. Algumas questões me tocaram bastante e basicamente o conto inteiro me sensibilizou bastante, apesar de nem sempre concordar com o que era expressado no conto. Considero uma leitura ao mesmo tempo fácil, rápida, divertida e importante