Os Subterrâneos do Vaticano

Os Subterrâneos do Vaticano André Gide




Resenhas - Os Subterrâneos do Vaticano


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Jemima 04/02/2022

Impressões de Leitura
Gide não é um autor muito popular no Brasil, mesmo seus livros possuem poucas edições, no entanto autores que eu gosto muito como a Patti Smith citam esse escritor, foi o que me motivou a conhecê-lo.

Comprei esse livro faz muito tempo no sebo e não tinha lido ainda, pois estava sempre com muita alergia, mas recentemente controlei a alergia e consegui ler o livro de boas, o que me deixou muito feliz e com vontade de ir no sebo procurar mais livros.

No inicio a história é um pouco confusa, há vários personagens interagindo e demora um pouco para identifica-los, no entanto logo o autor se aprofunda demoradamente em cada um deles. A narrativa vai se tornando cada vez mais envolvente, alternando entre descrições da história de vida dos personagens e ação, em muitos momentos parece que estamos assistindo um filme.

A história se passa no inicio do século XX entre a França e a Itália, a maioria dos personagens são resquícios da nobreza, o autor mostra a carolice dessas pessoas, explorando os limites entre a devoção e o fanatismo.

É nesse cenário que acompanhamos uma gangue de estelionatários extremamente astutos que utilizam do fanatismo religioso dessas pessoas ricas para criar inimigos imaginários, como a maçonaria e os próprios jesuítas, eles são extremamente eloquentes e articulados, proporcionando vários momentos engraçados na história.

As questões tratadas pelo autor são características do Existencialismo, e em vários momentos eu senti proximidade com o livro “O Estrangeiro”, de Camus, os personagens são confrontados com a falta de sentido da vida e a existência de atos criminosos. Os próprios personagens verbalizam essas questões, por exemplo: “Sabe o que é preciso para fazer de um homem honesto um canalha?” e em outro momento: “supondo um crime gratuito, um ato mau, é impossível atribui-lo a alguém; é impossível punir quem o cometeu” (p.203)
Outra coisa que eu adorei acompanhar no livro foram as sincronicidades, como ao final da história o autor vai costurando desde objetos citados ao longo da trama às relações entre todos os personagens ganham conexões. Esse movimento não é feito simplesmente para trazer à tona a composição de um mistério como num romance policial, mas similar a um vórtice temático ele suga os componentes da narrativa no sentido de rearranjá-los ao final dando sentido às provocações que o livro incita.
Quem gosta de Existencialismo com certeza vai amar esse livro, apesar de não ser um romance policial acho que os amantes desse gênero também podem apreciar essa história.

site: https://www.instagram.com/taroeliteratura/
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Valéria 17/06/2021

O que se destaca é a forma como uma mentira qualquer ganha vida, gerando fanáticos presos a um ideal. É uma aula divertida de como a manipulação se sobressai e de como a mentira atrai muito mais que a verdade. É sobre a incapacidade humana de ser imparcial, de escutar e não submeter seu juízo de valor ao mundo, como saída para tudo.
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Ibercson 06/01/2021

Top!
Segura o mistério, mas cuidado com spoiler no início do livro.
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Luigi.Schinzari 18/11/2020

Impressões sobre Os Porões do Vaticano de André Gide:
Literatura, além de tudo, é diversão. Ler um bom livro deve ser primeiramente, antes de qualquer cunho crítico, reflexivo e filosófico -- fatores esses que consequentemente virão também caso seja verdadeiramente um bom livro --, um ato prazeroso. Em Os Porões do Vaticano (Les Caves du Vatican/1914) o autor André Gide (1869-1951) explora esse lado mais divertido da literatura sem deixar de lado as características que o fizeram entrar no cânone da literatura ocidental, como a metalinguagem, as reflexões acerca da religião e da política, sempre com muito bom humor, ironia e sarcasmo; não à toa, o próprio autor divertiu-se muito ao escrever a obra.

Voltada para um núcleo de personagens inicialmente isolados e que, ao longo da trama, vão se relacionando -- Anthime Armand-Dubois, um cético cientista; Amédée de Fleurissoire, um católico fervoroso; Julius de Baraglioul, um medíocre escritor; e Lafcadio Wluiki, um jovem misterioso com tons acinzentados em sua confusa moral e em suas intenções --, a trama é simples: há uma conspiração, aparentemente, envolvendo o papa; resulta-se daí uma busca quixotesca -- cega, ilógica e convicta -- para resolver esse possível mistério. Estender além disso seria revelar demais do livro, além de desnecessário. Baseado nessa trama, Gide mistura essas confusas personagens num cerco de intrigas entre religião, seitas e família, intrincadas pela leveza da escrita primorosa do autor com ares de comédia barroca, por outras tantas de uma investigação policial, e por vezes como uma peça teatral.

Gide, assim como em sua obra-prima Os Moedeiros Falsos (1925), já demonstrava seu interesse por explorar a linguagem do romance. Há aqui em Os Porões do Vaticano uma busca por compreender e elevar ao máximo os limites dos instrumentos que a prosa oferece ao autor, sendo Gide um dos mestres do uso da metalinguagem dentro da literatura, utilizando-a de forma muito refinada com piscadelas sutis ao leitor atento. Fica nítido ao ler Os Porões do Vaticano o conceito de mise en abyme, termo que, traduzido, significa algo como narrativa em abismo, e foi criado por Gide ao falar sobre as narrativas que contêm outras narrativas dentro de si. Neste livro, o recurso centra-se, principalmente, em Julius de Baraglioul, um autor que luta contra a mediocridade, que é um porta-voz de Gide para explorar toda sua maestria na prosa, servindo já como um ensaio ao que viria a realizar futuramente em sua obra-prima mais de uma década depois, com a figura de Édouard.

É difícil até mesmo assumir que há um protagonista na obra, mas, caso precisássemos decidir qual personagem assume tal função, facilmente escolheríamos Lafcadio, muito por conta de toda sua confusa jornada. Sem revelar muito da trama, fica nítido ao leitor como Lafcadio serviu de inspiração a conceitos vindouros do absurdismo de Albert Camus, sendo o personagem de Gide uma inspiração direta, sem dúvidas, para um Meursault de O Estrangeiro (1942), por exemplo, para aqueles que já tiveram o prazer de ler a obra do autor franco-argelino e comparar com o romance de Gide. Lafcadio, guiado pelas sensações do momento, comete caprichos injustificáveis e que quebram o progresso de determinada trama, assim como na vida: nem tudo segue uma ordem lógica, sendo geralmente incompreensível os rumos assumidos por nós ou que somos obrigados a assumir por alguma razão que nos foge a razão. Lafcadio é um alerta eterno durante o decorrer do romance de como é uma sociedade amoral e sem rédeas éticas, aprove-a ou não: é um retrato dessa figura teórica.

A fusão de gêneros e tons cômico-dramáticos que Gide dá a sua obra é o principal atrativo nela. Ele consegue guiar o leitor por tramas cada vez mais absurdas e irreais, mas sempre mostrando: Preste atenção: não é bem assim, enquanto não oferece aos personagens esse luxo; eles são enganados durante toda a obra, seja pelas outras personagens, seja pelo próprio autor, que age como um deus fanfarrão que só quer levar suas personagens às mais absurdas situações para seu próprio prazer -- daí ter sido tão divertida sua escrita, acredito. E, ao leitor, tal diversão é semelhante: acompanhamos como espectadores fiéis a crescente no caos que aquele núcleo de personagens vai tendo, com tramas que coincidentemente -- e eles mesmos percebem essa linha de coincidências forçadas e propositalmente descabidas que os ligam -- vão ligando-os e afunilando-os, com um porém: nunca termina como gostariam; na verdade, vai além da questão de gostar ou não, acontecendo situações em que simplesmente ocorrem pelo puro acaso e capricho de outras personagens e, principalmente, do titereiro onipresente que os guia, ou melhor, que os escreve -- para nosso puro deleite. Jamais esqueçamos de nos divertir com o absurdo da vida -- e são muitos e geralmente não o resolveremos nem o entenderemos --, creio que falar tal mote é um dos papéis de Os Porões do Vaticano.
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otxjunior 31/08/2020

Os Subterrâneos do Vaticano
Não leiam a sinopse da página do livro nesta rede social, ou qualquer outra a propósito. Um, por apresentar spoilers desta obra cuja segunda metade traz uma série de surpresas e reviravoltas, tendo uma delas inclusive, envolvendo um par de abotoaduras, me lembrado do filme Match Point (2005), de Woody Allen (inspirado em Crime e Castigo, de Dostoiévski) e dois, por constituir tarefa ingrata sintetizar trama tão complexa de um romance que poucas resenhas farão jus. E prossigo sem pretensão de escrever uma delas.
Terceiro livro de André Gide que leio, Os Subterrâneos do Vaticano, tem uma leitura que a princípio, não impõe urgência em seu ritmo, diferente de outros romances do escritor que, posso dizer, já está entre os meus favoritos. No entanto, o leitor mais paciente será recompensado com um ato final que respeita o conhecimento prévio das personagens e culmina num clímax emocionante e arrasador. Alguns diálogos, da primeira parte principalmente, surgem reticentes, como se fosse óbvio o que o personagem (que a gente ainda mal conhece) iria dizer, outros parecem saídos de uma peça teatral. Posteriormente descobri no encarte que acompanha esta edição ter havido montagens no teatro francês.
O que havia comparado inicialmente a um romance nos moldes de Um Conto de Duas Cidades, de Charles Dickens, com Roma aqui substituindo a capital inglesa, tornou-se notável recipiente das ideias existencialistas de liberdade do autor, representadas especialmente por seu fascinante e ambíguo (só um entre vários exemplos do dual presentes na obra) personagem central, Lafcadio Wluiki. Não posso afirmar que o entendi completamente ao final. Mas Gide não parece mais preocupado em trazer respostas do que em fazer questionamentos. Há quem não goste, mas as últimas sentenças aqui, não por acaso, são fechadas com pontos de interrogação.
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Mario Miranda 18/08/2018

Gide e a desconstrução de valores
Os Porões do Vaticano, ou na tradução anterior "Os Subterrâneos do Vaticano", é uma obra deliberadamente caótica: ora cremos que a narração envereda pela história de Lafcádio, ora em uma trama estelionatária envolvendo a Igreja e a Maçonaria.

Lafcádio, o suposto personagem principal, se aproxima em diversos trechos com o Niilismo Russo, outros com o vazio existencial Camusiano, é um ser livre: não no sentido de independência, porém sim de valores, de conceitos. Filho de uma meretriz, criado com diversas figuras masculinas assumindo o papel de "pai", é um alguém capaz de correr o risco de perder a vida para salvar duas crianças de um incêndio e, instantes após, assassina um homem sem nenhum motivo aparente.

Paralelo a isto, André Gide monta uma teia de mentiras envolvendo a Igreja e a Maçonaria, demonstrando como uma simples mentira pode tornar o mais sensato em um fanático com base em um ideal qualquer, capaz de sacrificar sua própria vida e ser manipulado por qualquer um que esteja ligado a mentira original.

site: https://www.instagram.com/marioacmiranda/
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