Yves2zzz 20/01/2024FICOU LONGO PRA K7, mais que o normalComo sempre, eu não poderia deixar de fazer uma resenha bem longa e floreada para essa série de livros. É meu jeitinho, fazer o quê?!
Sou suspeita para dizer se gostei desse livro, pois sou completamente apaixonada pelo Clube dos Sobreviventes e tinha muitas expectativas depositadas no livro do Ralph (assim como será com a Imogen, coitada). Ambos são meus favoritos, de alguma forma inexplicável, pois só aconteceu. Tenho muito carinho por todos os Sobreviventes e curto cada história que Mary Balogh me apresenta, com uma intensidade verdadeira.
A muito tempo romance de época é meu segundo gênero literário favorito, depois de fantasia, pois de alguma forma sempre me tiram de uma ressaca literária ou me ajudam quando sinto que não estou pronta para continuar ou começar nada novo. Às vezes eu só desligo o cérebro e curto as páginas, sem compromisso haha
Não seria diferente com esse livro, na verdade, com todos dessa série. Vou começar já tirando o elefante da sala e pontuando que, sim, tem uma certa semelhança com o anterior, do Flavian. Ambos têm começos abruptos, desenvolvimentos rápidos e conclusões breves, mas de certa forma isso não me incomodou tanto.
Não fui a maior fã do livro anterior, algo no Flavian e na própria Agnes me deixava inconsolável, pois era um relacionamento onde ela estava apaixonada ao mesmo tempo que desacreditada, e ele só foi demonstrar qualquer verdadeiro afeto quando a história seguiu por rumos tortuosos. Mas se a experiência do quarto livro, ainda que caótica, foi adorável, imagine quando se envolve meu segundo Sobrevivente favorito? O que deu certo no livro anterior, aqui evoluiu mais umas dez vezes, pelo menos.
Chloe, nossa parceira e protagonista, é simplesmente adorável! Fiquei tão chocada com o começo desse livro, de como ele seguiu um caminho completamente inesperado, que foi instigante tentar entender como as coisas se desenrolariam. Era uma mulher sem qualquer esperança, ainda que ousasse tentar uma última vez, e nesse processo não colocasse quase nada na balança.
Vou dizer que foi uma ideia bem mal pensada da parte dela, mas ainda compreensível, dada as oportunidades da época para uma mulher. Ou seja, nenhuma, principalmente da perspectiva dela. Chloe se agarrou à primeira, única e última oportunidade de um matrimônio, ainda que sem afeto, tinha muito mais a oferecer.
Alguns diriam que foi um mero artifício do roteiro, e em parte eu concordo, mas convenhamos que sem um pouquinho da suspensão da descrença muitas histórias não seguem em frente, em especial em uma série sobre pessoas quebradas e desesperadas. Eu verdadeiramente gostei dela!
Ela não me incomodou em momento algum, pois sua evolução foi gradual, seu afeto crescente por Ralph justificável e as escolhas condizem com a personalidade até então apresentada. Gostei bastante de como seus desafios foram apresentados e da forma como ela lidou com eles, mesmo temendo encarar seus medos e receios. Chloe não precisava de um homem para guiar seu caminho, apenas do conforto de um nome e de um lar que eles traziam, o resto ela faria sozinha. Ela teve que deixar de ser reclusa e assustada quando assumiu o papel de esposa e um dos maiores títulos da época, tudo de uma só vez e rapidamente. E se saiu muito bem nesse assunto!
Senti, bem lá no fundo, que a autora aproveitou a ideia que não concretizou no livro anterior, sobre legitimidade parental, mas isso é só um detalhe bobo que ainda assim foi bem executado.
Mas vamos falar dele, meu precioso Ralph, o Sobrevivente protagonista da vez. Entendo alguns dizerem que ele é frio, grosso e não merece a Chloe… não concordo totalmente, se quer saber.
É um homem afetado por uma situação inimaginável, que precisou de 3 anos e muita dor para conseguir acalentar uma fração do sofrimento de sua alma. Não superar, apenas amenizar um pouco. Ele calou os pensamentos e os sentimentos dentro de si, sufocou todos por achar que não merecia viver, vivenciar felicidade ou experimentar afeição. Sentia que não poderia ser suficiente para ninguém, nem para si mesmo.
Um homem que desejou a morte, que se culpava pelo falecimento dos amigos e que tentou induzir em si mesmo o fim daquela vida miserável que previa para si, cheio de amargura e mágoa.
Eu acredito, talvez, que o que fez eu tirar apenas meia estrela desse livro foi como esse problema de depressão do Ralph foi tratado. Entendo que se passaram 3 anos e ele “se absorveu” para dentro de si, usando uma armadura de vazio profundo e intocável, porém senti falta de momentos mais introspectivos. O personagem fugia até mesmo do leitor, de forma que só podia supor o desespero dentro dele. Mas é claro, minha cena favorita é quando ele finalmente permite que esses sentimentos se libertem, que com as lágrimas uma parte da culpa seja lavada. Eu só desejava que tivesse um pouquinho mais, assim como pequenos momentos de travessura que ele se privava tanto. Eu queria isso, sabe? Ver momentos leves que fizessem o personagem sentir falta de se abrir para vida, ainda que se culpasse depois e tentasse se perdoar por isso.
Não foi um final corrido, como normalmente romance de época faz, mas senti que foi preciso só uma cena para apagar quase tudo que a trama construiu. Imagino que se o livro tivesse mais páginas, isso seria devidamente trabalhado, seria delicioso ver ele aos poucos se abrindo para pequenos e novos prazeres de viver.
Ralph continua sendo meu favorito, podem me julgar. Suas ações e suas palavras foram as que mais me tocaram até aqui. É o quinto livro, poxa, já me apaixonei por cada um deles, seja pelos Sobreviventes ou seus cônjuges. O começo pode ter sido rápido, mas senti que a autora soube trabalhar a obrigação de um título, de um casamento e de outra vida envolvida a sua, além, é claro, da obrigação de lidar com a própria vida. Nesse último ponto, entendi bem que a história era sobre primeiro amar a si próprio, salvar a si mesmo, antes de permitir que outra pessoa entre em seu coração. Como poderia abrir as portas de algo que você não possui? De algo que você não sente ser merecedor?
Enfim, sinto que falei muitas abobrinhas adoráveis sobre esse livro, mas realmente foi uma leitura que me prendeu do começo ao fim, me alimentou de curiosidade e desejo pela próxima página.
Ah, acho que não falei o suficiente sobre o romance do casal, né? Eu queria pontuar, antes de mais nada, que ambos tinham um acordo de que não haveria amor nesse relacionamento, um sentimento irracional e doloroso. Haveria afeto, respeito e companheirismo, mas de forma alguma amor. E ambos concordam com isso. É legal ver a construção desses momentos, onde os dois se privam de algo por medo de estar ultrapassando a linha estabelecida, mais legal ainda é ver quando eles ignoram completamente que a linha existe e sentem que foi a coisa certa. Os momentos em que esses dois se permitiam “amar” da forma diferenciada deles, me pegavam de um jeito maravilhoso. Os abraços necessitados, os beijos ternos, a companhia que não conseguiam nem queriam evitar… fiz muitos coraçõezinhos nesse livro.
Às vezes eu acho que falo certas coisas para ME convencer, mas sinceramente? Eu não preciso disso! Eu gostei do livro, senti todo o impacto que ele poderia causar, abracei situações e desbravei emoções. Preciso mesmo de um motivo maior para ele ser um dos favoritos? Sei escolher entre ele e o terceiro? (…) Parei um segundo para pensar na resposta, acho que sou dívida pelo que gosto mais em um do que no outro. Ainda gosto mais da relação do Benedict com a Samantha, eles buscavam a felicidade em si mesmos primeiro, o outro era apenas um complemento muito bem vindo. Mas Ralph tem uma personalidade misteriosa e sofrível que eu adoro, que apenas laços profundos podem ver por baixo da carapaça dura e fria: a beleza e ternura que ali residem.
Ainda assim, acho que o terceiro não foi destronado haha