spoiler visualizarTessa 01/04/2024
Já está na lista de futuras releituras
Tão breve e tão poderoso, A Casa da Rua Mango me obrigou a parar para respirar, mesmo sem querer. Esse romance de formação (e bote "de formação" nisso) me capturou tanto que, como há muito tempo não fazia, chorei várias vezes lendo o livro. Através da escrita de Cisneros, me senti de novo no início da adolescência, quando a gente sabe tanto e tão pouco. Fui transportada diretamente para os momentos em que eu jamais pensaria que estava vivendo algo que iria carregar comigo sempre.
O prefácio de 2009, "Uma casa toda minha", além de ser um ensaio lindo sobre o processo de escrita da autora, tenta nos preparar para o que vai vir, mas, pessoalmente, acho que nada poderia ter preparado. Já conhecia Cisneros, tenho estudado sua história e seus poemas em pesquisa acadêmica, contudo, sentir e experienciar A Casa na Rua Mango foi sem igual. Conhecendo os moradores da Rua Mango a partir da perspectiva de Esperanza, que vai crescendo ao longo do romance, me senti ganhando uma nova amiga, que divide comigo inúmeras inseguranças, traumas e culpas que tive e tenho.
Esperanza também quer ter uma melhor amiga que entenda todas as piadas dela sem precisar explicar, também morre de medo de ocupar o lugar na janela das mulheres da família, também teve as intrigas mais bobas da história das intrigas com as amigas, também quis almoçar junto com todo mundo e depois não quis mais, e também se sente parte e não-parte do lugar onde vive.
Como todas nós, crescendo, ela também começou a perceber que ser menina e ser mulher é ter "particularidades" em relação a esse mundo de homem. Viver nesse mundo de homem é estar sujeita a violências do momento que calçamos um sapato ao momento em que tentamos fazer amizade em um novo emprego; é também saber que as nossas amigas, familiares e colegas estão sujeitas a isso e se sentir impotente.
Muito mais do que me fazer rir, Esperanza me fez chorar. Ela me lembrou, também, dos momentos em que eu não fui boa; dos momentos que me tornaram mais provável a ir para o inferno merecendo ir. Eu não tenho um livro coming-of-age sobre a minha vida, mas, se tivesse, sei que ele teria situações assim: que magoei sem ter a intenção, mas assumi o risco. Aqui, precisei respirar muito. Se você chegou nesse trecho, imagino que também tenha precisado parar. Espero que eu consiga me perdoar como consegui perdoar Esperanza.
Claro, A Casa na Rua Mango fala muito mais do que sobre experiências femininas universais. É sobre ser uma mulher, e, sobretudo, ser uma mulher chicana crescendo em Chicago e vindo de uma família da classe trabalhadora, perpassada por todas as experiências que viver nesse entre-lugar implica, inclusive, de violência contra os que amamos.
Na Rua Mango, Esperanza, crescendo, viu de tudo - questionou se sua casa era mesmo ali e se viu sem lugar no mundo. Ao dizer que só voltaria quando a rua estivesse melhor, contemplou: Mas quem iria melhorar? O prefeito? Certamente não. Apesar do esquecimento com sua comunidade, Esperanza se deu o direito de sonhar com um lugar melhor e, ao mesmo tempo, se deu o dever de voltar, porque sabe daqueles que sempre estarão lá.
Em uma nota pessoal, Esperanza me abriu os olhos para tristezas nessa vida que eu não estava vendo. Apesar disso, ela também me fez sentir menos sozinha no mundo.