Luiz Pereira Júnior 22/06/2022
Um artigo raro: a bondade humana...
A vida de uma empregada dedicada à patroa por longos anos, mas sem o glamour de “Vestígios do Dia”... Talvez esse seja o melhor resumo de “Um coração singelo”, do grande escritor francês Gustave Flaubert.
Primeiramente, devo dizer que tive a impressão de ser uma obra adaptada, pela linguagem muito fácil e por fazer parte da coleção “Rocco Jovens Leitores”. Não confirmei a adaptação e o mistério continua...
O que se poderia tomar como uma tragédia (a perda dos entes queridos) é contada pelo autor sem pieguismo, sem sentimentalismos, enfim sem o mi-mi-mi que busca as lágrimas fáceis dos jovens leitores (e dos não tão jovens assim). A morte é vista como algo que, mais cedo ou mais tarde, atingirá a todos nós. Ponto para o autor!
Uma ousadia permeia o livro a partir de seus meados: chega a ser herética a comparação entre a pomba do Espírito Santo e o papagaio Lulu, mas tudo adquire sentido na visão ingênua, na lógica bondosa e no coração simples da protagonista. Afinal, não é dos simples que é o Reino de Deus?
Um livro para ser lido de uma única vez, mas que, nem por isso, deixa de ser muito mais profundo do que os altos voos de certos autores contemporâneos que se querem fazer passar por sábios psicologizantes, por magos desbravadores das profundezas do inconsciente humano, mas que, no final das contas, têm pouco, muito pouco a dizer...