rayssadioli 21/05/2024
Eu adoro a forma como o Machado expõe a sociedade da época, que, apesar de tudo, se assemelha bastante da atual, daí um dos motivos do livro ser considerado um clássico. As alusões à futilidade da sociedade são feitas aqui, como já era de se esperar, por meio das ricas ironias que só Machado consegue elaborar.
A alegoria que mais se destaca no livro é a das batatas, a qual, de forma extremamente simplificada, justifica que a glória deve ser dada aos vencedores. Tal alegoria pode ser melhor entendida com a leitura do livro, que nos mostra o jogo de interesses que rola entre os personagens para obtenção de vantagens.
Eu, particularmente, também gosto bastante das partes em que o narrador estabelece uma relação mais direta com o leitor, chamando-o em alguns momentos. Isso atribui à história um tom ainda mais único, típico do autor, que aparece em vários de seus romances (pelo menos nos que eu já li).
O protagonista aqui, na verdade, não é bem Quincas Borba do livro ?Memórias Póstumas de Brás Cubas?, como eu esperava que seria, mas Rubião. Quando vi que, na verdade, o Quincas Borba não iria ter uma presença significativa no livro, eu fiquei meio enfurecide kkkkk, uma vez que gostaria de ver mais um pouco das ?loucuras? de nosso velho. No entanto, conforme fui avançando na narrativa, adorei como a construção do protagonista Rubião foi se desenvolvendo, personagem este que sofre um ?declínio? ao longo do livro.
Algo que também muito me agradou é a relação entre Rubião e Quincas Borba (o cachorro), que é, após a morte do seu dono, também chamado Quincas Borba, entregue aos cuidados de Rubião. No início, ele logo se livra do cachorro, mas depois se vê na obrigação de cuidá-lo e decide ir buscá-lo. A relação que se constrói entre eles é, como o leitor verá, umas das únicas verdadeiras no livro, já que as relações aqui são, em sua maioria, permeadas por interesses.
Os personagens, de maneira geral, têm a função de serem retratos da sociedade medíocre e hipócrita da época (que, cá entre nós, pouco mudou nesse quesito com o passar dos anos). Há várias pessoas que se aproveitam da ingenuidade de Rubião para se beneficiarem financeiramente, o que contribui para o seu gradativo declínio, o qual chega ao ponto de enlouquecer, tal como Quincas Borba (humano) ficou antes de morrer (bem no início do livro). Não acho que saber que Rubião enlouqueça seja um spoiler, já que saber disso pouco afeta na experiência (além do que, convenhamos, spoiler de um livro escrito há tanto tempo soa ridículo demais), mas, pelo contrário, acredito que contribui para uma melhor leitura, uma vez que o leitor, sabendo disso, poderá entender melhor e relacionar como se deu essa ?queda? do protagonista.
Em relação às considerações finais, se for comparar esse com o aqui já mencionado ?Memórias Póstumas de Brás Cubas?, fica meio injusto, já que é o meu livro favorito do autor. Contudo, esse também é incrível, de modo que acredito que deveria ser mais lido, a genialidade do autor aqui também se faz evidente, tanto pelas várias camadas presentes na narrativa quanto pela sua forma única de escrita. Eu li nesse momento devido ao vestibular da USP que farei esse ano, mas esse é um daqueles livros da lista que vai além de uma prova por todos os motivos aqui já apontados.