Meu destino é ser onça

Meu destino é ser onça Alberto Mussa




Resenhas - Meu destino é ser onça


9 encontrados | exibindo 1 a 9


Carina 11/12/2011

Resgatando nossa história
A mitologia é o nome que damos à religião dos outros, e a versão da história que entra para os livros é sempre aquela vista pelos olhos do vencedor. Talvez por isso saibamos tão pouco sobre a religião/mitologia dos povos que viviam no Brasil antes da chegada dos portugueses - e que não desapareceram magicamente, já que continuaram sendo personagens na história do nosso país, e vivem até hoje, tanto nas aldeias quanto nas veias de boa parte da população.
É daí que parte Alberto Mussa em sua introdução à reconstituição que faz da cosmogonia dos tupinambá. Mussa apresenta uma série de cálculos que demonstram que cerca de 83% da população brasileira descende dos índios. E tira daí uma conclusão que deveria ser óbvia: as etnias indígenas não foram extintas, pois sobrevivem nos brasileiros de hoje, seus descendentes. Portanto, o autor conclui, “não estamos aqui faz apenas cinco séculos, mas há uns 15 mil anos – e não sabemos nada do Brasil”.
Com base nos relatos de viajantes e missionários que conviveram com os índios e deles ouviram seus mitos em primeira mão, Mussa reconstrói o que teria sido, em versão literária, a cosmogonia dos tupinambá. Sua versão da mitologia retrata alguns dos principais valores de uma cultura guerreira em que o ritual antropofágico não era uma abominação, mas sim a única forma de chegar à terra-sem-mal.
Certamente, a distância entre os valores ocidentais atuais e aqueles retratados por Mussa torna difícil para nós hoje encarar alguns dos costumes de nossos antepassados com naturalidade. De certa forma, o mesmo ocorre quando lemos alguns relatos a respeito dos celtas e dos druidas clássicos. Acostumamos-nos e entendemos o conjunto de valores e o éthos dos celtas, e sabemos que não é possível nem desejável recriar hoje muitos de seus costumes e práticas. Está mais do que na hora de deixarmos de renegar o passado dos ancestrais desta terra, e de os aceitarmos como foram - e de ressuscitar os valores e práticas de sua cultura relevantes para a realidade de hoje - que não são poucos. Esse livro pode ser o início de uma nova relação com as nossas origens, baseada em aceitação e inspiração.
Antonio 23/08/2017minha estante
Adorei sua resenha. Comecei a ler esse livro hoje e estou adorando!




Marcos Faria 02/10/2012

Até agora não sei como classificar "Meu destino é ser onça" (Record, 2009). A ficha catalográfica diz que é um ensaio. O autor diz explicitamente na introdução que o seu objetivo era fazer literatura. Mitopoiese é a palavra mais correta para o meio-termo que saiu. Alberto Mussa assumiu a tarefa de ser um Hesíodo brasileiro, recolhendo as diversas fontes e dando uma forma final, literária, ao nosso mito de origem. "Nosso", leia-se tupinambá: a premissa é de que, mesmo escondida das estatísticas, das genealogias e das políticas oficiais, a herança tupiniquim está presente na maioria da população brasileira, tanto na genética quanto na cultura. É aí que reside a importância da tarefa de Mussa. Se, como dizia Oswald, só a antropofagia nos une, é necessário reviver a mitologia que fundou esse nosso traço característico, definidor. Assumir a antropofagia é assumir também a sua origem metafísica, a história de Maíra e de Sumé.

Publicado também no Almanaque - http://almanaque.wordpress.com/2012/10/02/meninos-eu-li-27/
comentários(0)comente



Fael 29/03/2024

Há 15 mil anos somos brasileiros
O livro de Alberto Mussa que ficou ainda mais em evidência após a Acadêmicos de Grande Rio utilizá-lo como seu enredo no Carnaval de 2024, narra o mito tupinambá da criação. Crenças e costumes são trazidos nessas páginas, apontando a origem do mundo nessa cosmovisão apagada ao longo do tempo pelos colonizadores.

Numa primeira parte, Mussa busca diferenciar tupi, tupinambá e tupi-guarani, para depois se aprofundar no mito da criação. O mito em si, é rico, complexo e possui uma narrativa que prende o leitor nessa imersão a uma das cosmovisões indígenas.

A parte final do livro, onde o autor apresenta as variadas fontes ao longo dos séculos XV, XVI, se torna um pouco repetitiva, pois apresenta diversos autores relatando a partir de suas viagens, as experiências que possuíram ao encontrar os povos tradicionais. Todavia, entendo que a apresentação das fontes e o cruzamento dessas informações foi de grande valia para a reestruturação da narrativa.
comentários(0)comente



@jaquepoesia 16/12/2023

Livro super necessário!
A história de um povo indígena, a história do Brasil! Os descendentes de Pajé do Mel, todas as lições ensinadas por Maíra e um belo estudo teórico sobre a narrativa mítica. 👏

A cultura indígena da baía de Guanabara é lindamente exaltada nessa obra de Alberto Mussa, que aborda a formação do Brasil, nos revelando a grandeza de um povo, sua história e todo seu legado. Aqui Mussa, reconstitui o que teria sido o texto original de uma narrativa tupinambá, nos contando todo o surgimento desse povo nativo que viria a influenciar todos nós.

Neste livro o autor também trata de contar porquê os tupinambá eram antropófagos e quais deidades os orientavam sobre o consumo da c4rne hum4na dos vencidos na guerra, cumprindo seu destino de ser onça.

Quando ainda era um estudante de literatura, Mussa se atentou a um livro em sebo, o livro em questão era A religião dos tupinambás, um ensaio do antropólogo Alfred Métraux, do qual só leria o apêndice em 2004 o que o fez se aprofundar no assunto.

💬 Um livro maravilhoso para quem quer conhecer mais sobre a história tupinambá e se aprofundar nas origens do Brasil através de um mito repleto de intrigas, fúria divina e muita ancestralidade.

• "Estudos genéticos muito recentes, comandados pelo doutor Sérgio Danilo Pena, demonstraram que cerca se 33% dos brasileiros autodenominados "brancos" descendem diretamente de um antepassado indígena por linha materna. Entre os classificáveis como "negros", esse percentual é de 12%(...) pelo menos 20% dos brasileiros têm linhagens maternas indígenas. Mas isso não quer dizer que apenas 20% descendam de índios(...)
considerados os bisavós, o percentual de descendentes atinge cerca de 83%.

Do ponto de vista biológico, tanto os tupinambás como outras centenas de etnias indígenas sobrevivem nos brasileiros modernos – seus descendentes imediatos.
Não sei o que ainda é necessário fazer para que as pessoas compreendam isso – que não estamos aqui faz apenas 5 séculos, mas há 15 mil anos.
Há 15 mil anos somos brasileiros; e não sabemos nada do Brasil." ▪︎ pág.23
JurúMontalvao 18/12/2023minha estante
??
mt interessante




Guilherme.Marques 09/07/2017

Ensaio-romance-antologia?
Se for ler o livro inteiro, "de cabo a rabo", pode ser extenuante. Mas o "literário", que é o mito de criação tupinambá, conta algumas poucas páginas que são possíveis de se ler em bem pouco tempo - e valem a pena, resolvendo muito da confusão que se tem sobre a nossa própria cultura, ou a cultura de nossos antepassados. O resto é um esforço aparentemente gigante de Mussa em explicar por que escreveu o livro - a partir de uma reflexão sobre sua própria pesquisa para produzir esse livro, Mussa também discute, indiretamente, como contar uma história.

Sobre a classificação enquanto gênero, é difícil mesmo. Acredito que escolher definitivamente qualquer opção seria limitar demais o escopo da obra, então quem sabe um híbrido entre ensaio, romance e antologia?
comentários(0)comente



Hugo Hilst 30/03/2024

Interessante, mas...
Inspiração para o samba-enredo da Grande Rio no Carnaval de 2024, Meu Destino É Ser Onça é um projeto de reconstrução da cosmogonia tupinambá a partir de relatos de colonizadores (em especial de padres catequistas franceses).

O livro tem em torno de 200 páginas, 40 de mitos reconstruídos e 160 de: introdução, prefácio, preâmbulo, posfácio, tradução das fontes originais, etc etc etc etc. Isso não é necessariamente ruim, mas pensei que o livro fosse (quase) todo de mitos e me decepcionei...

A proposta é muito interessante, mas -- infelizmente -- os colonizadores não estavam muito interessados em reproduzir os aspectos estéticos dos mitos indígenas em seus relatos. Apesar da tentativa de Alberto Mussa em conceder literariedade de volta ao texto, ele é bem pobre liricamente.

Apesar do estilo não me agradar nem um pouco, conhecer as histórias desse povo indígena (principalmente conhecer mais sobre a justificativa dos rituais antropofágicos) é sim muito legal!!!

Se eu fosse reler, provavelmente só leria a parte da introdução (que fornece informações muito importantes sobre a escrita do livro e de contextualização) e os mitos. As traduções dos relatos são repetitivas e, por serem antigas, bem chatinhas de ler; isso não é, claro, culpa do autor, mas é blergh de qualquer forma.

Se eu fosse considerar só a parte dos mitos a nota com certeza seria maior, mas enfim!
comentários(0)comente



Stefanny 01/05/2023

Alberto Mussa, em seu livro "Meu destino é ser onça", busca referenciar os tupinambá como também resgatar o folclore dentro da obra. Ele aborda temas como o canibalismo e o incesto.
comentários(0)comente



Italo 14/01/2024

Meu destino é ser onça
O enredo da Grande Rio para 2024 me inspirou a ler esse livro, que se propõe a resgatar o mito--embora prefira chamar de História, com H maiúsculo mesmo--de criação na cosmogonia tupinambá. Além de me ajudar a entender a letra do samba-enredo da Grande Rio, que era um pouco confusa antes da leitura, o livro abriu minha mente para questões e temas muito importantes.

Segundo o livro e suas fontes, das quais a que mais me cativou foi o diário do francês André Thevet, o mundo foi criado pelo Velho (no enredo da Grande Rio, ele é chamado de Velho Onça, embora eu não me lembre de algo, no livro, que corrobore com a ideia de que ele era um Jaguar). O mundo era maravilhoso, bonito, cuidado, e ninguém precisava trabalhar, pois lá todas as ferramentas de trabalho funcionavam sozinhas - "flechas e paus que trabalham sozinhos" -, e a comida era farta. Mas o Velho começou a se decepcionar com a humanidade por não ser devidamente reconhecido e respeitado, e então decidiu por fim a primeira humanidade. O mundo ardeu em chamas, e só um homem, o único que ainda respeitava o Velho, foi salvo, o Pajé do Mel.

Então o Pajé do Mel convenceu o Velho a por fim às chamas, e Ele o fez com um dilúvio. As águas levaram os rastros de destruição para um grande sulco que chamamos de oceano, que é salgado porque as cinzas de tudo que foi destruído acompanharam as águas. Nesse novo mundo, mais difícil de se viver, floresceu a segunda humanidade. O paraíso -- a terra-sem-mal --, que antes era para todos, agora estava escondido, e apenas algumas pessoas sabiam o caminho para chegar até lá.

Mas assim como a primeira humanidade, a segunda humanidade tomou decisões imprudentes. Perseguiu, matou e expulsou esses homens privilegiados, que podiam ir e voltar da terra-sem-mal e se comunicar com o Velho. E então outro dilúvio aconteceu, dessa vez causado pela disputa entre dois irmãos.

A terceira humanidade, que é a atual humanidade, descende desses dois irmãos. Na cosmogonia tupinambá, de cada um dos dois descendeu um povo, inimigo do outro, e era, portanto, missão dos descendentes praticar rituais antropofágicos contra o povo oposto de modo a conseguir o conhecimento para chegar à terra-sem-mal no pós-vida -- já que mais nenhum ser vivo sabia o caminho até lá. "O destino do tupinambá era ser onça, era ser canibal, porque já não era possível atingir a terra-sem-mal em vida."

O que resenhei foi o mito principal, pois no decorrer do livro, e especialmente das fontes originais, contam-se ainda muitas outras histórias que explicam comportamentos humanos tupinambá e aspectos da existência. Foi valioso ler esse livro, porque ele é um fragmento da riqueza das visões cosmogônicas dos povos originários do Brasil. Como essa, devem existir outras milhares, algumas ainda preservadas, e outras muitas apagadas pelo colonizador e esquecidas pelo tempo. Resgatar essas histórias, que não só contam mitos ou tentam explicar a origem das coisas existentes, mas que são constituintes de nossa identidade, é um dos esforços que a sociedade deve se propor a fazer. A destruição dos povos originários é um processo corrente, sem data pra acabar. O Brasil precisa se reconciliar e se encontrar consigo mesmo o quanto antes, ou até lá a Onça já terá devorado a Lua, e o mundo acabado em escuridão, o que não parece distante da realidade.
comentários(0)comente



Enizinha__ 23/03/2024

Antropofagia no céu
CLUBE DO LIVRO
Explica bastante sobre a cultura dos povos originários, bastante coisa que deveríamos saber sobre nossa própria brasilidade.

Achei muito importante conhecer a origem dos rituais antropofágicos - e quebrar o estigma. A vingança e o canibalismo eram a forma de se manter vivo, de alcançar a plenitude. E vai muito além do "animalesco"

Me deu vontade de estudar mais sobre as crenças e ritos dos povos tupi
comentários(0)comente



9 encontrados | exibindo 1 a 9


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR