Milla 08/02/2020
Uma história sobre friendzone no século XVIII. Se você já ficou na friendzone, vai se indentificar.
Vamos lá.
Primeiramente, eu ameeeei esse livro. Eu achei ele genuíno e atemporal. Eu tive muita empatia com o Werther, então eu acho que isso ajudou a me fazer gostar de tudo.
Vamos lá.
A história é sobre um rapaz chamado Werther que se muda para um lugar (eu acho que é isso, não to lembrada do comecinho). E aí nesse lugar (que parece ser um lugar no campo, longe na cidade, pelo jeito como o Goethe descreve), ele conhece uma moça chamada Charlote, só que a Charlote já está prometida pro Albert. Mesmo ele já sabendo dessa informação antes de conhecê-la, ele se apaixona perdidamente por ela. Charlote é muito amável. É aquele tipo de pessoa que você bate o olho e a acha com um jeito adorável e etc. Ela é orfã mas tem muitos irmãos crianças, que ela cria como se fosse uma mãe para eles, né. Já que é a única adulta.
Mas o Albert em questão não é muito presente em vários pontos da história. Enquanto isso, Werther e Charlote desenvolvem uma amizade muito forte e divertida. O Werther é um personagem muito carinhoso, muito doce, muito sonhador, muito romântico... Pra quem gosta de astrologia, acho que você vai me entender se eu disser que o Werther tem muitas chances de ser um canceriano ou pisciano.
O Werther e a Charlote possuem vários hobbies em comum. Eles adoram passear juntos, brincar com as crianças, fazer sarau, ler livros, tocar pianos, etc etc etc. E a Charlote se diverte muito com a companhia do Werther, sabe? Os momentos deles são descritos como vívidos, divertidos e etc.
Só que tem um "problema"... A narrativa do livro é em primeira pessoa. Mais especificamente, por cartas. O Werther fica mandando cartas pro melhor amigo, contando tudo sobre ele e a Charlotte. Então, em alguns momentos, fica difícil saber das coisas na íntegra. A informação que temos é o ponto de vista frustrado e apaixonado do Werther. Não temos acesso ao o que a Charlote realmente pensa e sente pelo Werther. A gente pode só supor pelo o que ele conta. No meu ponto de vista, eu acho que a Charlote gostava do Werther só em termos... e "usava" ele pra fazer coisas que o Albert não fazia com ela. Mas por um outro lado, é uma história no século XVIII, onde namoro não existia. Só casamentos. Então se você ler, pode ser que você tenha uma opinião totalmente diferente da minha sobre a Charlote. Alguns podem achar que ela não gostava do Werther, outros vão achar que ela também amava o Werther... Isso depende muito de quem vai ler.
O Albert, o noivo da Charlote, é descrito como um personagem muito tedioso. Ele parece ser bem sério e desprendido de diversão. Mas uma coisa que me chamou muito atenção no Albert é que ele é desprovido de ciúmes. Sério. Ele não sente ciúmes nunca do Werther! Werther passa a tarde inteira com a Charlote sozinho e, muito provavelmente, todo mundo deve perceber que ele é apaixonado pela Charlote porque o Werther é muito romântico e doce... E, mesmo assim, o Albert não liga pra nada. Causa uma dúvida no leitor se o Albert é do tipo que tem uma confiança muito alta na Charlote ou se ele nem liga pra Charlote e quer ser aqueles tipo de marido que é só casado no papel mas não tem nenhum laço afetivo, sabe?
Aí bem, as cartas que o Werther escreve pro amigo tem um tom confessional tão genuíno que você se esquece que esse livro se passa no passado às vezes. Werther reclama da friendzone o tempo todo nas cartas. Mas não de um jeito raivoso, mas sim de um jeito triste e frustrado. Como eu disse, o Werther é muiiiito emotivo, muito romântico... E ele sofre muito com a frustração. Lembro que tem uma parte que ele reclama na carta dizendo que o Albert é completamente indiferente à Charlote. E ele, Werther, está todo disposto a dar coração dele pra Charlote. Meu coração doía com essas confissões do Werther.
Werther é um tipo de personagem estilo "ame ou odeie". Por isso, eu quero deixar claro que se você for uma pessoa MUITO racional e/ou sem muita empatia pelos outros, vai achar a leitura de "Os Sofrimentos do Jovem Werther" muito chata. Porque como é em primeira pessoa, você vai achar o Werther irritante por não superar essa friendzone. E pode querer abandonar a leitura.
Por outro lado, se você tem um coração mais mole, se tem empatia ou se já sofreu muito por uma friendzone, então você vai sentir que está "related" ao Werther. Vai pensar "nossa, eu sei muito bem como é essa sensação!!!" Entende? E aí as confissões do Werther ganham um teor tão emotivo que é de partir o coração. Eu li o livro sentindo peninha do Werther direto! Porque ele é tão "xuxuzinho"... é um tipo de pessoa que a gente sente vontade de ninar, de dar um abraço e falar "amigo, você não merece isso! Você merece a melhor pessoa do mundo!"
Só que esse lado emotivo do Werther é tão forte que ele acaba usando a lógica emotiva demais, como se ele nunca usasse a razão pra pensar, sabe? Um exemplo disso, é uma discussão que ele tem com o Albert sobre suicídio (!). Werther defende o suicídio das pessoas como um jeito de escapar da dor. Enquanto que o Albert fica completamente puto com esse argumento e rebate dizendo que quem se mata é fraco na vida... que se matar não é a solução e etc.
Essa discussão dos dois faz você perceber que o Werther é uma pessoa que se afunda tanto no lado emotivo que falta um pouco ser "pé-no-chão", sabe? Por isso comentei dele ser canceriano/pisciano.
Eu não posso comentar outras coisas da história sem ser spoiler... e também porque, como eu disse, a gente supõe os pensamentos da Charlote. Tem uma parte que o Werther a beija e o jeito como ela age dá um monte de "???" na sua cabeça. Você não consegue ter certeza porque tudo é no ponto de vista do Werther...
Meu único AVISO IMPORTANTE pros leitores é que se você tem depressão ou conhece alguém que tem depressão, minha recomendação é não ler esse livro. Mesmo ele sendo bom.
Não querendo dar muito spoiler, mas essa friendzone do Werther causa depressão nele. Então eu acho que a última coisa que alguém com depressão iria querer é ler um livro como esse. Entende? Esse livro é muito triste.
Mas se você não tiver depressão, então tá liberado de ler.