spoiler visualizarnanda :) 08/09/2023
As Dez Mil Portas: mais um mundo descoberto
“6. Não existe, é claro, esse negócio de ‘mulher perdida’, a menos que estejamos falando de uma mulher que chegou recentemente a uma cidade que não conhece e não consegue se localizar pelas ruas. Um dos elementos mais difíceis deste mundo é a maneira como suas regras sociais são simultaneamente rígidas e arbitrárias. É intolerável envolver-se em amor físico antes de unir-se em matrimônio legal, a menos que tal indivíduo seja um homem jovem e de posses. Os homens devem ser ousados e assertivos, mas apenas se tiverem a pele clara. Qualquer pessoa pode se apaixonar independentemente da posição, mas apenas se uma delas for uma mulher e a outra, um homem. Peço que você não conduza sua própria vida dentro de tais limites falsos, meu bem. Afinal, existem outros mundos.”
Minha irmã Juliana estava procurando um livro para a sua amiga no sebo, e encontrou esse livro para mim, dizendo que eu gostaria. Estava barato, achei a sinopse interessante e, apesar da capa ser um terror, comprei. Li ele para a Maratona Literária de Inverno do Geek Freak, depois de enrolar por semanas.
Esse livro é maravilhoso. Apesar de ser levemente clichê, no sentido que é uma garota de dezessete anos que descobre que é muito foda em um mundo de magia, essa história é encantadora, cativante, e se torna muito mais do que isso.
Primeiramente, eu gostei demais de toda a magia criada pela a autora. O sistema das portas, com abertura para outros mundos, dá uma sensação esquisita, onde toda a magia que vemos é apenas um resquício de um outro mundo onde aquilo é algo completamente normal. Gostei da forma que, com isso, a autora poderia ter usado elementos de magia conhecidos, mas, mesmo assim, criou algo novo, com o mundo dos Escritos, e soube fazer isso muito bem.
Aliás, esse foi um aspecto que gostei bastante na história; apesar de achar o mundo dos Escritos relativamente simples, acho que era exatamente o que essa história precisava, um mundo onde a escrita era o epítome. Gosto de livros onde o ato de escrever é algo mágico, porque é exatamente assim que eu me sinto em relação a isso.
E, para mim, é inevitável pensar que as portas são, realmente, os livros. Toda vez que leio uma nova história, é como se eu estivesse abrindo uma porta para um novo mundo, que pode ser muito parecido com o meu, mas é algo completamente novo. E foi muito bom ver essas portas metafóricas se tornarem portas reais nessa história.
Gostei muito da January como protagonista, mesmo ela sendo meio inconsequente. Ela é inteligente, e absorveu as informações sobre as portas muito mais rápido do que eu sequer pensaria em conseguir. Gostaria que ela tivesse tido um pouco mais de desenvolvimento, não sei exatamente em que ponto, acho que mais em um sentido que a sua jornada nesse mundo das portas poderia ter sido mais lenta e trabalhada. Apesar de quase nulo, adorei a sua relação com o Samuel, e gostaria de ler um conto dos dois se encontrando em algum dos mundos.
Porém, nada, e repito, nada! poderá superar a relação entre Ade e Yule Ian. Eu me apaixonei tremendamente pelos dois, pela sua relação, e pela forma como eles continuavam se procurando, nessa busca interminável guiada pelo amor. Eles sofreram demais, e o final feliz era o mínimo que eles mereciam!
Em especial, eu me conectei demais com o Yule Ian. As suas partes foram os momentos que eu mais gostei no livro, a forma que foi escrita, que ele lidava com a Ade e a January, tinha tamanha paixão nas suas palavras que eu adorei. A princípio, não tinha gostado dele, como pai da January, por ele ser distante e tudo mais, mas quando você lê o livro dele, é inevitável a conexão. Ele é um vagante, estrangeiro em todos os lugares que ele for, vivendo as custas de um homem branco rico que obriga ele a ir contra tudo que ele acredita. Jamais aceitarei críticas ao ele!
E me sinto assim em relação aos outros personagens também -menos o Sr. Locke, aquele desgraçado. A autora soube muito bem como escrever esses personagens, era óbvio que ela se importava com essa história e com esses personagens, e isso passa para o leitor. A sua escrita é bonita, e o final, onde vemos que o livro é um livro dentro do livro, é muito legal.
Acho que não dei 5 estrelas porque, apesar desses elementos que ganharam a história para mim, ele ainda é meio básico, e clichê. A autora demora um pouquinho para pegar o ritmo, e os primeiros capítulos são um pouco corridos, mas depois a história corre perfeitamente.
Não sei se tem uma continuação, mas, mesmo que eu tenha me conectado com esses personagens e gostaria de ver mais sobre eles, espero que não tenha. Essa história fechou muito bem, com migalhas saborosas de romance e um enredo bem pensado. Espero que a autora tenha outros títulos, de preferência tão bons quanto esse!
Agora me resta arrumar uma jacket para essa capa terrível.