Resenhas - Debaixo das Rodas

Ale245 15/12/2020

Excelente
Demorei mais de 20 dias para terminar esse livro, não porque achei ruim, mas porque não queria que acabasse rápido!

Em Debaixo das rodas, Hesse critica o sistema educacional germânico, num enredo com muitos traços autobiográficos - tanto no personagem Hans quanto no Heilner. Também discute as confusões da adolescência (sexo, sentimentos, escolhas) e a depressão.

A história é sobre Hans, um garoto cuja infância foi roubada pelos educadores e pelo pai, que o fazem estudar incansavelmente para passar no seminário (tipo quando a gente tem que se matar para passar no vestibular rs).

O livro é permeado por descrições de paisagens que às vezes são muito agradáveis, mas podem ser maçantes. A parte que achei mais chata foi a longa descrição de como Hans pescava. Mas nem por isso diminuí a nota da obra, louvável pela crítica sagaz e pelo domínio da escrita com que o autor expressa emoções e situações.

Além disso, foi impossível não me identificar com o deslocamento de Hans em relação à profissão escolhida, e como chegou a um ponto em que ele não via mais nenhum sentido naquilo. Euzinha ?

No fundo, seu desejo era a distinção. E ele foi, de fato, muito invejado. Mas tudo poderia mudar depois do aviso de um clérigo: "Trata de ficar longe da carruagem, se não queres ser recolhido debaixo das rodas".

Enfim, se eu contar mais perde a graça ?
Leitura recomendada!

Sobre a edição: acho que só tem essa no Brasil, ela tem alguns erros de digitação e gramática, mas nada que atrapalhe a leitura.

Henrique Fendrich 21/07/2020

Esse também foi um livro lido aos 15 anos que me deixou marcas. Foi uma leitura muito "dolorosa", no sentido de que eu sofria junto com a história, sentia toda a tristeza e toda a melancolia que emanam dessa trama, e ao mesmo tempo já intuía que o sentimento de vazio e o desconforto existencial ali representados também eram meus companheiros de juventude.

Débora 21/09/2010

A incontrolável complexidade humana que ignora o tempo!

Nesta narrativa, Herman Hesse faz uma crítica ao sistema de ensino alemão de sua época, mostra a adolescência roubada e suas consequências, e junto a tudo isso invoca questões aflorantes nesta fase da vida! E o faz através do ainda adolescente Hans, tido como um gênio, que se torna um meio de cura para as frustrações de seu pai e de seus conterrâneos que decidem sobre suas horas, dias e escolhas, o que se torna irremediável.
O livro mostra muito bem a sensação de opressão e afunilamento, e a obrigação do sucesso despertados com fervor já na adolescência. Cobranças por todos os lados e a necessidade de satisfazer a todos em detrimento da própria satisfação!
O interessante da narrativa é que descreve um sistema, uma sociedade de décadas, mas que o leitor, não importa o ano que viva, sempre se identificará com o irriquieto Hans, porque os sentimentos, as dúvidas sempre existirão, hoje ou há décadas. Hesse demonstra que uma hora ou outra a fase omitida vai aflorar e o melhor, por mais que você se esforce sempre vai decepcionar alguém como suas escolhas, caso o contrário será o próximo frustrado!

jota 03/01/2018

Hans, Heilner, Hermann
Debaixo das Rodas (1906) não tem o mesmo apelo para o leitor que outros livros mais conhecidos de Hermann Hesse (1877-1962) como O Lobo da Estepe, Demian ou Sidarta, para ficar com apenas três. Mas é capaz de conservar nosso interesse do começo ao fim da história que envolve o jovem Hans Giebenrath, um talentoso estudante que é admitido no seminário de teologia em Maulbronn, na região da Floresta Negra.

Em certa medida o livro é autobiográfico, pois narra diversas passagens ocorridas com Hans e outro personagem, Heilner, seu melhor amigo na instituição, que efetivamente ocorreram com Hesse e que tinham a ver com o tipo de educação fornecido no internato, que visava sobretudo aumentar o conhecimento do estudante e oferecia muito pouco, quase nada para seu desenvolvimento pessoal.

Tanto é assim que o título vem de uma frase que o preceptor (ou éforo, como aparece no texto) de Hans lhe diz a certa altura, enfatizando que sua atenção deveria ser dirigida exclusivamente aos estudos, não a qualquer tipo de distração ou companhia. O religioso afirma: "Só te recomendo que não amoleças, caso contrário vais conhecer o fracasso mais cedo do que supões. Trata de ficar longe da carruagem, se não queres ser colhido debaixo das rodas."

No início das aulas Hans se destaca, ele quer ser o primeiro da classe ou um dos melhores alunos ali (na admissão passou em segundo lugar, entre muitos candidatos), mas depois de algum tempo as coisas começam a sair dos trilhos. Um dia o amigo Heilner, que nunca se mostrou muito apegado aos estudos e tinha comportamento rebelde, foge para uma floresta das vizinhanças da escola, desaparece por alguns dias e logo depois que é capturado e devolvido à instituição acaba sendo expulso dela.

Por seu lado, o outrora esforçado Hans começa a ter seu desempenho acadêmico comprometido, ao mesmo tempo em que passa a sofrer de terríveis dores de cabeça e a apresentar sintomas de algum tipo de doença mental. É então despachado para casa, recebe tratamento médico e tanto o pai quanto ele mesmo passam a acreditar que sua vida acadêmica está agora com os dias contados.

Hermann Hesse estudou teologia em Maulbronn por pouco tempo, feito Hans e Heilner, de lá também fugiu, feito Heilner e como Hans teve problemas mentais, que o levaram a uma tentativa de suicídio (Hans pensava em se enforcar numa bela árvore da floresta próxima de sua casa) e internação num sanatório. Apesar disso, boa parte do livro (especialmente os capítulos iniciais e mesmo enquanto Hans está em repouso) se passa numa atmosfera pastoral, onde a natureza ocupa grande destaque na narrativa. Enquanto está imerso nela Hans encontra a paz, quando está entre as paredes do seminário ela desaparece...

Embora não tenha tanto assim a ver com outros livros que li sobre educação de jovens, seminários, internatos e outras instituições semelhantes, durante a leitura de Debaixo das Rodas lembrei-me de dois outros bons romances que li algum tempo passado: O Jovem Torless, de Robert Musil e Uma Ilha de Paz, de John Knowles, que a seu modo também tratam do lado sombrio da adolescência e de certas instituições de ensino.

Minha avaliação: 4,5.

Lido entre 31/12/2017 e 03/01/2018.

Fabio Shiva 04/08/2010

BENEATH THE WHEEL (DEBAIXO DA RODA) – Hermann Hesse
Singelo e tocante. Excelente a experiência de ler Hesse em inglês, talvez mais próximo do original. As palavras tão sisudas em português adquiriram outra conotação em inglês, mais leve. Narrativa sobre os dias de escola e a Grande Máquina de Fazer Salsicha. Hermann Heilner, alter ego de Hesse, foge e consegue escapar. Hans Giebenrath acaba sendo engolido, como havia sido profetizado por um de seus professores: “Quem tenta subir muito alto acaba debaixo da roda.”
(25.05.2007)

yanpradoch 11/02/2021

O peso da pressão
A narrativa foca em um personage principal que é um adolescente em uma cidade do interior. Ele era visto de maneira diferente pelos habitantes da cidade, pois tinha um nível elevado de inteligência e, para jovens assim, o futuro mais certo era o estudo religioso. O livro acompanha a jornada dele na tentativa de passar na grande prova e mostra como foi sua vida depois dela. E fácil observar a critica à pressão que é colocada encima dos jovens e como ela pode estragar uma vida.

Val Alves 27/12/2021

Sobre grandes escolhas em fases tenras
Admiro muito a habilidade de Hermann Hesse em construir personagens que automaticamente chamam a atenção. E ele não se alonga para descrever suas personalidades pois, em poucas descrições e logo nas primeiras frases de apresentação já entendemos qual a aura que ele emana, o que pensa, qual a principal característica da personalidade e mesmo suas questões psicológicas. São personagens inteiros e que, de primeira, despertam esse desejo de os descobrirmos.

Hans Giebenrath é um desses personagens. Ele é um garoto muito jovem que se submete a prestar um exame para poder estudar numa instituição de ensino religiosa onde vive os dias mais conturbados de sua vida. Ele foi preparado e duramente incentivado pelo pai- seu início cuidador, pois ele é orfão de mãe - para ser aprovado nesse exame durante o período escolar e por isso não tinha o privilégio das outras crianças em poder aproveitar as férias ou mesmo brincar depois das aulas.

O pai de Hans é Joseph Giebenrath, um homem comum e que em nada se distinguia dos demais. Bebia, mas não se embebedava; seguia a lei, jogava boliche às sextas e fumava charutos baratos. Poderia trocar de nome e de casa com qualquer doa seus vizinhos que ninguém daria pela mudança.

Para que Hans não seguisse os passos do pai se tornando também um homem "comum" só havia uma saída: o seminário. Mas é aí que se inicia o momento mais contraditório de sua vida pois, mesmo sendo estudioso e o mais dedicado de sua turma, ele percebe que talvez a vida acadêmica não seja o melhor caminho para si e vai viver ao lado de novas amizades num lugar totalmente castrador um período de experiências marcantes e decisivas.

Paulo.Victor 23/07/2023

Cobranças
Um livro que tem uma cadência boa de ler. Enquanto narrava a vida do Hans dentro da escola, me lembrou muito o ambiente criado na escola de Hogwarts em Harry Potter. Creio que este romance nos ajude a compreender temas como a cobrança excessiva de pessoas mais velhas para direcionar você a um futuro que elas vêem como o mais proveitoso, mas que muitas vezes também é perigoso,

Lilian 10/08/2010

Verdadeiro
Hans era a personificação da decadência... Assim como muitos pais, manifestam seus sonhos frustrados cobrando eles de seus filhos, aconteceu com esse pré-adolescente q naum teve tempo de curtir sua infancia e criar seus proprios sonhos, transformando sua realidade em fracassos pessoais um atrás do outro. Um livro realista e sensivel.

Julio.Argibay 09/01/2018

O jovem Hans
Achei muito triste. Hans poderia ter tido um destino melhor. A vida eh uma maratona não eh uma corrida de 100m. Faltou fôlego.

clara.acalegari 12/04/2024

Hermann Hesse my beloved
Sinceramente, não sou a maior fã de filosofia, psicologia, etc.. mas sempre gosto muito dos personagens que o Hesse cria, e esse livro abordou de forma muito interessante a pressão sobre crianças prodígios, e como isso tira o senso de identidade da pessoa. Novamente, me apaixonei mais pelo personagem "guia" do principal, nesse caso o Hermann e em Demian, o próprio Demian.