Analuz 01/06/2020
O livro se trata daquelas histórias infantis que você pode ler em todas as idades e que provavelmente lhe trarão impressões diferenciadas a cada fase da vida. Nele, acompanhamos a órfã Pollyanna, cuja mãe já havia falecido quando ela era mais nova, e que agora, aos 11 anos, perde seu pai, um pastor missionário.
Por ser criada por um missionário, Pollyanna sempre teve uma vida humilde, dependendo de doações enviadas em barris para sua família. Em uma dessas doações, ela, como qualquer garotinha, pede uma boneca para brincar. Porém, para seu infortúnio imediato, as pessoas responsáveis por tais doações lhe enviam um par de muletas no lugar, alegando que elas seriam mais úteis para uma criança, em caso de acidentes. Desolada, a menina desata a chorar, até que seu pai lhe ensina o "jogo do contente" (como li em inglês, conheci como "the glad game", mas aparentemente essa é a tradução oficial do jogo no Brasil): uma forma de brincadeira que consiste em procurar ver o lado positivo de tudo, apesar das adversidades. Encantada com o novo jogo, Pollyanna adota o desafio em sua vida, da maneira mais divertida possível para uma criança.
Com a morte do pai, a garota é adotada por sua única parente viva, a senhorita Polly Harrington, uma mulher com ótima condição financeira, aparentemente amargurada com a vida, metódica, difícil de agradar e que recebe a sobrinha em sua casa como uma espécie de obrigação familiar.
Apesar de ter uma residência confortável e cheia de quartos, fica evidente que Polly não faz muita questão da sobrinha na casa quando lhe designa o sótão como dormitório, em vez de qualquer outro aposento decente. Aliás, ela sequer conhece a sobrinha, já que a família não acatou a decisão de Jenny (sua irmã e mãe de Pollyanna) de recusar a oferta de um pretendente rico e se casar com um pastor pobre.
Logo que chega à casa, Pollyanna se vê encantada com todo o luxo em que sua tia vive (tia esta que, aliás, nem se dá o trabalho de buscar a pobre criança na estação). Não que ela seja ambiciosa, mas sendo criada a base de doações, é um tanto encantador ver que essa será sua nova moradia! Apesar disso, Pollyanna deve aprender a lidar com essa nova casa cheia de regras e horários definidos para tudo, onde ela sequer pode falar sobre o pai na frente da tia, já que esta o odeia! Do mesmo modo, Polly, que de imediato se vê surpresa com a forma com que a menina vê a vida, deve aprender a aceitar o lado doce e meigo de sua sobrinha e absorver um pouco da espontaneidade e esperança infantil. Assim, aos poucos vemos a desconstrução da amarga Polly em uma mulher menos rígida e mais dócil.
Em posse dos conhecimentos do "jogo do contente", a tagarela e alegre Pollyanna não se deixa abalar (aliás, ela é tão ingênua que nem percebe que a tia não fazia tanta questão dela na casa), e logo faz amizade com os funcionários da mansão, em especial o jardineiro que atende a família há muitos anos e a governanta Nancy (que frequentemente critica o comportamento da patroa, sem que esta saiba, logicamente). É claro que Pollyanna não tarda em apresentar aos seus novos amigos (e, aos poucos, a toda a vizinhança) o "jogo do contente", tão comentado por ela.
Ao longo do livro, vemos o poder que Pollyanna e o "jogo do contente" exercem sobre a população local e como eles mudam para a melhor a vida de todos, principalmente daqueles mais rabugentos, como o misterioso senhor John Penddleton. Aos poucos, também descobrimos que a bondade de Pollyanna não se limita apenas a mudar a vida das pessoas com o "jogo do contente", mas ela também se sensibiliza com a situação daqueles menos favorecidos e faz o possível para ajudá-los.
"Pollyanna" é uma leitura leve e divertida, que nos faz refletir um pouco sobre nossas atitudes. Enquanto adultos, muitas vezes podemos agir de modo metódico e frio como tia Polly o faria, mas, às vezes, não seria bom agirmos um pouco como a doce Pollyanna e tentar ver o lado positivo das coisas?