Almir Junior 07/01/2024
Um c0rno, um talarico, uma sonsa e uma safada
Eu vou começar essa resenha falando sobre as duas protagonistas: Morgana e Gwenhwyfar. E sim, vai ter spoiler, mas sinceramente, não acontece nada de interessante aqui a ponto de atrapalhar a triste leitura que te espera se você encarar esse livro.
Morgana: Encerra o livro anterior grávida do bebê do Rei Arthur, aqui começa sua "jornada" no castelo da tia, com muito esforço consegue parir a criança e já a abandona. No primeiro momento achei interessante, ela não quer ser mãe, não nasceu pra isso, é uma sacerdotisa e tem propósitos maiores que esse bebê. Porém após isso descobrimos que a Morgana nesse livro só tem uma vontade: dar pro Lancelot. Sinceramente, que tristeza você escolher uma personagem tão interessante da mitologia arthuriana pra ser uma idiota que à primeira vista de seu primo bonitão já abandona suas convicções e se sente disposta a esquecer quem é por esse homem (visto no livro anterior) e aqui ela segue assim. Lancelot obviamente não sente o mesmo por ela, está claramente apaixonado pela rainha, porém olha pra Morgana com desejo bem de vez em quando e essa é a Morgana da Zimmer Bradley, uma mulher perseguindo migalhas de amor e que a única magia que cogita fazer ao longo da história é uma magia de amor porque claro, ela é uma adolescente de 16 anos que só pensa em uma coisa o dia todo. A rainha é chatíssima, porém ao menos ela tem alguma vontade além de ir pra cama com Lancelot. E vamos a ela: a cristã que faz qualquer um querer ser pagão.
Gwenhwyfar: Essa enfrenta o clássico dilema de ser esposa de um rei e não conseguir dar filhos ao marido e ao reino. É um problemão que ela tenta direcionar sua energia, mas boa parte do tempo ela está só olhando pro Lancelot cavalgando mesmo, outra personagem que bateu o olho nesse cara e se apaixonou perdidamente. A autora também vê a necessidade de deixar claro que todas as mulheres do castelo de Arthur também querem esse cara. Nossa, ele deve ser muito gostoso mesmo hein. Até a tia dele tá na vontade.
Agora quanto ao Rei, o que vemos dele? Praticamente nada, seu momento mais marcante é falando pra esposa que tranquilo ela dormir com Lancelot, porque na cabeça do cara a mulher teve vários abortos, mas o problema é ele e não a mulher que não consegue segurar a criança. Apesar da burrice de não notar que o problema é a mulher e não ele, até que seria algo lógico do ponto de vista que ele é um rei e precisa de um filho oficial pra deixar seu reino. Mas cara, olha isso, o lendário Rei Arthur não passa de um corn0 e coitado, ele é um cara mó maneiro com os amigos, gente boa mesmo. Isso não impediu o melhor amigo de beijar a esposa dele. Lancelot é um bonitão talarico aqui nessa maravilhosa história.
E a lendária espada Excalibur? Aqui ela não é nada, alguém comenta que as batalhas foram vencidas graças a essa espada e só. Maior parte do tempo Arthur deve usar ela pra fatiar o pão.
E é isso, o livro se resume a duas mulheres tentando levar um cara pra cama. Tem uns secundários super aleatórios e em sua maioria sem graça. Em certo ponto a Morgana cansa dessa vidinha de tricotar e vai embora, decidida a voltar pra Avalon depois de uma ficada ruim com Lancelot, então de repente vai parar em uma terra mágica de fadas e o que ela faz lá? Fica doidona e tr@nsa com uma galera. Essa é a história. E depois ela volta pro exato ponto onde estava, no reinado de Arthur tentando pegar o primo. A rainha consegue engravidar, pensa que vai se livrar do desejo de trair o marido, mas aborta novamente e volta a querer o Lancelot. Por isso que eu digo que esse livro não acontece nada praticamente. Os personagens na primeira página são os mesmos da última. Não há uma jornada, não há uma evolução de personagem, só eventos aleatórios que se seguem.
E o livro termina da melhor forma possível, estão em um dia em que comemoram a fertilidade, todo mundo bebe muito e Arthur decide levar sua rainha e seu cavaleiro pra cama com a ideia de fazer um filho sem que saibam quem é o pai. Claro que não é fetiche, é pelo bem do reino. Os dois topam e o livro encerra dessa forma, um mènage arthuriano com a Morgana expiando através da fechadura provavelmente e Merlin chorando de desgosto no quarto ao lado, pensando que desgr@ça é essa que tá acontecendo.
Pra mim ficou claro que a autora não tinha uma história de mitologia arthuriana pra escrever. Ela queria escrever um trisal nessa época de capa e espada. Porém ao invés de nomear os personagens de Du, Dudu e Joana, ela decide chamar de Arthur, Lancelot e Gwenhwyfar pra vender mais. Sinceramente, que tristeza que é reduzir esses personagens a isso. Figuras mitológicas reduzidas a um c0rno, um talarico, uma sonsa e uma safada.
Todo o resto do livro, o cristanismo avançando, a guerra com os saxões, a política dos reinos, o pcd bom de harpa, é tudo tão jogado e mal desenvolvido que nem sinto vontade de comentar.
Ps: Você sabe que o livro é bom quando todos os problemas se resolveriam trancando os 4 protagonistas num quarto, com duas garrafas de vinho e Marvin Gaye de fundo.