jota 15/02/2016Mama África...Primeira vez que leio o nobelizado de 2008, Le Clézio, e começo justamente por aquele que é tido como seu livro mais intimista, O Africano. O tempo todo o menino Jean-Marie parece estar ao nosso lado contando histórias de sua infância, da África e sobretudo de seu pai, um abnegado médico.
Mesmo quando faz denúncias, mostrando as mazelas africanas todas, muitas delas resultantes do processo de colonização imposto ao continente, o livro consegue estabelecer com o leitor um laço muito forte que vem dessa mistura envolvente de ficção e memória, a percorrer toda a obra. E que algumas vezes parece poesia...
Então, como não apreciar esse livro curto, que quase não se consegue largar (mesmo sabendo que assim o final da leitura chega mais rapidamente), que começa singelamente com as seguintes palavras – que podem parecer óbvias mas não são - que nos cativam no mesmo instante:
"Todo ser humano é um resultado de pai e mãe. Pode-se não reconhecê-los, não amá-los, pode-se duvidar deles. Mas eles aí estão: seu rosto, suas atitudes, suas maneiras e manias, suas ilusões e esperanças, a forma de suas mãos e de seus dedos do pé, a cor dos olhos e dos cabelos, seu modo de falar, suas ideias, provavelmente a idade da sua morte, tudo isso passou para nós.” E prossegue, mostrando quem é o africano do título:
“Por muito tempo sonhei que minha mãe era negra. Inventei-me uma história, um passado, para escapar da realidade em meu retorno da África, neste país, nesta cidade onde eu não conhecia ninguém, onde me tornaria um estrangeiro. Depois descobri, quando meu pai, na idade da aposentadoria, retornou para viver conosco na França, que o Africano era ele. Foi difícil admitir isso. Tive de voltar atrás, de recomeçar, de tentar compreender. Em memória disso escrevi este pequeno livro."
Um pequeno livro que nos cativa desde o início, que lemos rapidamente e que depois ficamos querendo que continuasse, tivesse muito mais páginas...
Lido entre 12 e 14/02/2016. Minha nota: 4,5.