A tragédia e a farsa

A tragédia e a farsa Flavio Henrique Calheiros Casimiro




Resenhas - A tragédia e a farsa


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Tauan Sposito 24/01/2024

Leitura obrigatória, assim como os outros livros da coleção Emergências (Expressão Popular / Fundação Rosa Luxemburgo). Como conclui o autor Flávio Henrique Casimiro (2020, p. 151), "O ponto fundamental a que chegamos ao final desta reflexão sobre a ascensão da extrema-direita no Brasil contemporâneo é a percepção da necessidade de buscar compreender os arranjos dos distintos estratos da burguesia brasileira, em sua articulação política e em seus interesses no âmbito da acumulação". O autor demonstra, através da análise de diferentes organizações e movimentos da direita brasileira, que os verdadeiros partidos políticos para uma fração importante da burguesia são poderosos grupos empresariais, extremamente influentes em diferentes áreas da economia e da política, além de atuarem como produtores de consenso.
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daiane301 20/02/2022

A tragédia e a Farsa - Resenha
A tragédia e a farsa leva o nome de uma importante frase de Marx: "[...] Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa".

Ao longo do livro, podemos observar que o autor analisa nosso momento como a tal farsa que Marx cita mas também como tragédia, uma vez que as direitas estão fortemente reorganizadas. Para ser sincera, particularmente espero que Marx esteja certo e esses personagens só sejam encenados duas vezes, porque essa farsa ja matou mais de 600 mil brasileiros só em seus negacionismos. De fome e descaso, nem sabemos ao certo.

De forma geral, achei o livro muito bom para contextualizar a movimentação das direitas para quem está começando a estudar a política brasileira. Havia, pelo menos para mim, uma grande dificuldade de entender como houve a reorganização durante os anos e agora fica claro a dimensão de porque as esquerdas se encontram onde se encontram hoje no Brasil. As direitas se uniram em torno de um inimigo em comum, que não era o PT, era o que o partido representava, e deram um nome pra esse inimigo, criaram uma narrativa enquanto a esquerda se desorganizava também por causa dessa narrativa.

A partir desse livro, fica mais claro que a derrota dessa nova direita, do neofascismo e neoliberalismo não virá enquanto os militantes de esquerda e o povo não souberem (a luz do dia) de onde vem essa força, não souberem desses movimentos muito bem financiados e construídos pela classe dominante em prol dos interesses deles e em detrimento do povo trabalhador desse país.
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João Moreno 06/05/2020

“LIBERDADE!” Dos Think Tanks ao aparelhamento do Estado: Bolsonaro, a tragédia e a farsa da(s) direita(s) brasileira(s)

Em ‘A tragédia e a farsa: a ascensão das direitas no Brasil contemporâneo’ [baixe gratuitamente pelo hyperlink!], o professor doutor em História Flávio Casimiro estuda o fenômeno das Direitas dentro de uma perspectiva marxista. Logo, o conceito de ‘luta de classes’, de “hegemonia” e de “consenso” são fundamentais. Por mais antiquado, démodé, arcaico e abstrato que o conceito “luta de classes” possa parecer, foi com a ‘A tragédia e a farsa’ que consegui vislumbrar, de forma nítida e bem delineada, o que ele, de fato, significa. Em seu trabalho, Casimiro (2020) demonstra como a classe burguesa brasileira (elite econômica) – que não é homogênea, possui diferenças e está integrada ao capitalismo mundializado – se organiza em busca por manter ou ampliar os seus interesses, mesmo que para isso tenha que fazer alianças que possam parecer reprováveis, à primeira vista.

Paulo Guedes; Rodrigo Constantino, “Velho da Havan”, irmãos Marinho (Globo), Jorge Gerdau Johannpeter (Grupo Gerdau); Pedro Bial, Flávio Rocha (Riachuelo), João Appolinário (Polishop), Salim Mattar (Localiza), Romeu Zema, Luciano Huck e João Dória. Instituto Millenium, Instituto Liberal, Instituto Mises Brasil, Instituto Rothbard e Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Fórum da Liberdade, Brasil Paralelo, Leandro Narloch e o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil e Olavo de Carvalho. Movimento Agora, Renova BR e Tabata Amaral. Estudantes pela Liberdade, financiamento norte-americano (Students for Liberty) e MBL. Foundation for economic education, Atlas Economic Research Foundation e Sociedade Monte Pèlerin. Exemplos de Atores sociais e instituições que demonstram como a elite econômica brasileira (e internacional), em suas diferentes frações, se organiza para promover interesses, que podem ser antagônicos ou conflitantes, os quais se transformam em projeto de poder, não sem a participação da classe trabalhadora, a qual, sem saber, acaba por comprar os discursos despolitizados e apolíticos, sem ideologias, mas que, na prática, se comportam como peças de propaganda política ou, como aponta Fernandes (2019), “[n]uma farsa altamente ideológica criada para legitimar tanto posições conservadoras do senso comum (…) quanto visões neoliberais de eficiência e governança de mercado sob presunção de neutralidade” (p. 218)

Assim, o livro se dispõe a analisar três diferentes processos. O primeiro se trata das “estruturas de doutrinação e produção de consenso” (p. 20) ou os chamados aparatos privados de hegemonia. No capitalismo e na democracia de ordem burguesa, a manutenção do poder e do status quo se dão no âmbito da força, da coerção, mas, principalmente, do CONSENSO. E é isso que os think tanks (Instituto Millenium, Mises Brasil, Instituto Liberal, etc etc ) são: mecanismos criados pelas diferentes elites econômicas, com interesses bem definidos em relação ao Estado, como forma de criar união junto à população em torno desses projetos, que, via de regra, atendem a segmentos bem específicos e contrários à classe trabalhadora (repito: bilionário não vai à periferia nem anda de busão). Tais aparelhos de criação de consenso tentam trazer certo ar de cientificidade, com verdades absolutas de lugar nenhum, de forma despretensiosa, ‘apolítica’, não ligada à política convencional, que é vista como suja e sem méritos pela maioria da população.

Num breve longo adendo, apresentado em ‘live’ junto à Editora Expressão Popular, Casimiro (2020) aponta que as Redes Sociais são instrumentos poderosos, dentro dessa rede de obtenção de consenso, diante de sua própria natureza: as mensagens, via de regra, são fáceis, curtas e impedem que qualquer coisa mais complexa prolifere. E, uma vez que o discurso errado seja divulgado, torna-se difícil desfazer aquela informação. É por isso que seria necessário analisar de onde certas mensagens fáceis, simplistas, mas propagadoras e propagandistas do status quo, se proliferam. Quanto ao antipetismo, faz-se necessário entender que a crise é importante e o esgotamento do modelo petista para as classes dominantes também. Mas não se começa em 2013, como é comum às análises dessa “nova direita”. Ao contrário. Olavo de Carvalho e Paulo Guedes já eram cultuados por diferentes grupos desde os anos 2000. Dito tudo isso: por que Bolsonaro foi eleito? Ou, melhorando a pergunta: por que diferentes frações da burguesia nacional apoiaram maciçamente o projeto desse idiota? Porque, diante das reações adversas, as frações dominantes assumem decisões extremadas para garantir os seus interesses. Bolsonaro e a sua turma seriam a representação do que é uma atitude extremada, mas Paulo Guedes seria um contrapeso. Casimiro (2020) relembra que a construção da hegemonia é um processo constante, nunca se acaba. Nesse momento, diante do discurso antiintelectual olavista, não favorável ao capital porque de difícil sustentação, os diferentes grupos passam a se organizar. Já viu o Amoêdo rejeitando Bolsonaro, mas defendendo Guedes?

A segunda abordagem (ou processo) se propõe a analisar a atuação direta de grupos empresariais com vistas a adequar as estruturas do Estado aos seus interesses, burgueses. Aqui, Casimiro (2020) apresenta como os diferentes grupos se organizam em torno de projetos privatizantes, que buscam não extinguir o Estado – por mais que a retórica compartilhada em think tanks seja essa –, mas adequá-lo aos diferentes interesses da burguesia agrária, comercial, financeira e industrial (residual), além, é claro, do chamado capital imperialismo (Virginia Fontes, 2010, apud Casimiro, 2020). Tal atuação se desdobra em grupos de atuação direta, como a bancara ruralista, por exemplo, ou através do treinamento de gestores em diferentes municípios e estados. Destaque para como conseguem instituir seus valores (“governança corporativa”, “gestão técnica”) e interesses reformistas (Reforma da Previdência, Teto dos Gastos), mesmo não tendo sido legitimados pelo voto. Quanto a isso, a pesquisa de Casimiro é preocupante: numa política cada vez mais envolta em descrédito, quem exerce o poder, de fato, são os diferentes grupos, por meio da atuação junto ao Estado.

“(…) Essas organizações elucidam um aspecto muito importante no âmbito das articulações políticas no Brasil contemporâneo Atuam como partidos políticos – “em sentido ampliado”, segundo a definição de Antônio Gramsci Mais do que isso, esses aparelhos, como o Lide, o Brasil 200, o Movimento Agora, o RenovaBR, a FPA e o IPA demonstram ser os verdadeiros partidos para muitos atores e frações da burguesia, uma vez que se assiste ao descrédito crescente da política institucional e os partidos formais parecem representar meras legendas sem muito significado, necessárias apenas para o ingresso nas instâncias políticas e para possibilitar acesso ao fundo partidário e a tempo na TV. Já as diretrizes teórico-políticas, a formação política, o projeto de governo, assim como o próprio financiamento desses candidatos, partem todos desses aparelhos e não dos partidos formais. São essas organizações, portanto, que efetivamente exercem o papel de partidos políticos das direitas no Brasil contemporâneo” (CASIMIRO, 2020, p. 147).

Casimiro (2020) nos alerta que não seria possível entender esses processos sem levarmos em conta a transformação da sociedade civil brasileira, tardia, que se consolida a partir da década de 1990. Com um aumento exponencial no número de Organizações Não Governamentais (ONGs) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), grande parte delas vinculadas à Igreja Neopentecostal, dentro dessa teia (imbricada), entre diferentes atores, é possível visualizar a complexidade da guinada à direita, no Brasil. Igrejas mais Escola sem Partido mais Think Tanks mais atuação política da burguesia nacional. Casimiro (2020) destaca também a crise econômica, que não responderia por tudo, mas daria ainda mais legitimidade aos discursos e práticas privatizantes e de austeridade junto à população: “remédio amargo necessário”, diziam.

Por fim, num terceiro processo, Casimiro (2020) conclui que o alinhamento das diferentes frações da burguesia, em torno de um projeto de extrema-direita, como Bolsonaro, se explicaria como a saída encontrada para a consecução dos diferentes objetivos de nossas autocracias burguesas. Vale lembrar, todavia, que tais objetivos não consistem apenas nas reformas estruturantes do Estado, mas numa transformação cultural, a qual adéqua o cidadão, por meio dos aparelhos privados de hegemonia, ao discurso do ‘empreendedor’, ‘empoderamento’ etc, tornando-o, o cidadão, alheio às dicotomias e contradições presentes nessa luta de classes.

“(…) [tais] aparatos de doutrinação diretos e indiretos, que difundem uma cultura voltada às determinações do capital para além de sua própria atuação e capilaridade, funcionaliza e instrumentaliza outras práticas e espaços de produção de consenso, fundamentais no processo de construção de hegemonia. Todavia, essa estratégia deve ser compreendida como parte de um movimento maior de estruturação e articulação das classes dominantes (…) [A] expansão da sociedade civil [ONGs e OSCIPs, por conseguinte Igrejas Neopentecostais e Think Tanks] no Brasil recente se imbrica com um empresariamento de novo tipo, lastreado em forte concentração capital-imperialista que simultaneamente precisa contar com a adesão das massas populares nacionais (apassivá-las), com vistas à sua expansão (inclusive internacional), e fomentar a extração de sobretrabalho, renovando modalidades tradicionais de exploração. Forja-se uma cultura cívica (ainda que cínica), democrática (que incita à participação e à representação) para educar o consenso e disciplinar as massas de trabalhadores, em boa parte desprovidos de direitos associados ao trabalho, através de categorias como “empoderamento”, “responsabilidade social”, “empresa cidadã”, sustentabilidade (Fontes, 2010, p. 296).” (CASIMIRO, 2020, p. 158);

REFERÊNCIA

CASIMIRO, Flávio. A tragédia e a farsa: a ascensão das direitas no Brasil Contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular, 2020.

site: https://literatureseweb.wordpress.com/2020/05/06/liberdade-dos-think-tanks-ao-aparelhamento-do-estado-bolsonaro-a-tragedia-e-a-farsa-das-direitas-brasileiras/
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