Polly Lucena 09/10/2021
A grande gripe
Livro da editora @intrinseca, escrito por John M. Barry, numa edição de 2020.
Antes de tudo, é importante dizer que o autor demorou 7 anos para conseguir concluir este livro, o que nos faz perceber a densidade das informações contidas nele.
O prólogo nos traz um panorama geral de como surgiu a epidemia da gripe espanhola e a situação da medicina da época, assim como o empenho de alguns médicos-cientistas em encontrar respostas para o que estava acontecendo. De uma forma geral, nos fala do terror vivido, mas enfatiza a doença no front da Primeira Guerra Mundial.
O livro começa trazendo informações sobre as transformações históricas ocorridas na medicina até o período posterior a Primeira Grande Guerra Mundial. Falando das pequenas mudanças ocorridas na medicina, desde seu surgimento até então, e como a formação médica nos Estados Unidos era precária, formando médicos sem o mínimo de condições para atuação na medicina, muito menos pesquisa. Mas, no decorrer do livro ele vai mostrando as mudanças e evoluções ocorridas nesse âmbito.
Em seguida, retrata a história de um médico chamado William Welch, que se tornou um grande nome na época, assim como, apresenta alguns outros grandes nomes que se somaram ao de Welch na construção da medicina científica nos Estados Unidos.
O autor também descreve como funcionam os vírus, fala sobre as características de infecção e mutações dos vírus influenza, assim como, das doenças que mais afetavam o homem naquele período e de como os médicos buscavam respostas para suas respectivas curas.
No livro, vemos algumas descobertas importantes como a da penicilina, do DNA e tantas outras durante o período pouco anterior à Primeira Guerra Mundial até o pós-guerra. E o que mais me impressionou foi a descrição de todo o horror vivido durante a epidemia da gripe, a quantidade de pessoas que morreram em tão pouco tempo, a maneira como as pessoas tinham que viver aquilo... E o pior, toda a omissão do governo dos Estados Unidos em tratar e orientar a população para a gripe, negando a existência da mesma para não abalar as conquistas da guerra.
O negacionismo acerca da gravidade do problema, os governantes insistindo em dizer que aquela doença era só "uma gripe comum"... (parecia que eu estava ouvindo nosso presidente). As mortes se deram por negligência do governo, e isso me traz muita similaridade com o que vivemos hoje.
A irresponsabilidade, a negligência e o negacionismo do governo Brasileiro nos fez perder tantas vidas nessa pandemia... E sabemos que se a atitude de nosso governante fosse diferente, muitas vidas poderiam ter sido salvas. Não dá para ler esse livro e não achar que a história, de certa forma, se repetiu. E que quem mais sofreu, tanto naquela época quanto hoje, foram os mais pobres, pois, se hoje, a maior quantidade de mortos foi das classes mais baixas, naquele momento não foi diferente. E quando a natureza vem com toda força "atacar" o homem, o povo sozinho pouco tem a fazer. A organização e preparo tem que vir dos governos, e isso fica muito claro, tanto antes como agora. Lugares que conseguiram se organizar, se preparar e realizaram uma quarentena adequada e com um bom suporte para suprir as necessidades básicas do seu povo, conseguiram preservar mais vidas, tanto naquela época, quanto agora.
Demorei muito para terminar essa leitura, porque em alguns momentos se tornava enfadonha, pois falava muito de algumas personalidades médicas da época e de como os mesmos lidavam com a pesquisa. Inclusive, a última parte do livro é só sobre como esses médicos seguiram após a epidemia acabar.
No epílogo, o autor faz referência às várias epidemias dos vírus influenza que ocorreram no mundo e, de forma sucinta, apresenta algumas características de cada uma delas, trazendo um panorama de como esse vírus atua e de como ele pode se modificar.
O livro é denso, mas é muito esclarecedor e, ao mesmo tempo, revoltante por sabermos que foi "permitido" que tudo isso tenha acontecido da forma como aconteceu, tendo ciência de que os danos poderiam ter sido minimizados e, pior, ver que se repetiu na nossa história atual.
Não tenho como terminar essa resenha sem dizer: #forabolsonaro
Pollyanna Lucena